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quarta-feira, 20 de novembro de 2019


Faltam cabeças na casa das quatro 

A célebre e então degradada Casa das Quatro Cabeças, imóvel de interesse municipal desde 1977 e posteriormente declarado de Utilidade Pública,  foi adquirida pela Câmara Municipal, depois de expropriada. 

Em Dezembro de 2014 anunciava-se que o imóvel iria ser recuperado pela Autarquia Sadina, tendo por finalidade o alojamento temporário de moradores da zona cujos edifícios fossem ser recuperados. 

De então para cá as obras no edifício foram alvo de intervenção descontinuada com andamentos e paragens ao sabor dos fluxos financeiros, com datas de inauguração nunca cumpridas. 

Posteriormente foi anunciado um outro destino para o vetusto imóvel, desta vez como residência de estudantes. 

Hoje passei por lá e a recuperada construção embora ainda não tendo sido inaugurada já apresenta no seu exterior a imagem de que terá de ser intervencionada ao nível da construção civil. 

Mas, o que mais curioso achei foi o anúncio daquele espaço, escrito na linguagem de sua majestade britânica, ao invés da língua de Camões que com pompa anuncia: “Setúbal Student Residence”. 

Perguntei aos vizinhos se a casa já estava ocupada, atendendo a que não via qualquer janela aberta e, com aquele sorriso que caracteriza quem sabe da poda a resposta foi-me devolvida com um simples: “acha ?” 

Bem, depois de terem sido gastos “rios de dinheiro” e de se terem ultrapassado todos os prazos, pelos vistos casa já temos (ou não !) o que parece faltar em Setúbal são as cabeças para a ocupar, sendo pois legítimo colocar a pergunta, até quando? 

Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com
2019-novembro-20

domingo, 17 de novembro de 2019


Valha-nos a “Santa Paciência” 

A estrada molhada, uns pingos de chuva aqui e ali, nuvens baixas criando efeito de nevoeiro nalguns troços dificultavam a visibilidade no alto da Serra da Arrábida, nesta cinzentona  tarde de Outono. 

Naturalmente os cuidados eram redobrados na condução, não fosse encontrar algum pedregulho na estrada ou animais selvagens, nomeadamente os javalis cujos rastos estavam bem visíveis nas bermas ou alguma atrevida raposa.
E foi precisamente a seguir a uma curva que um bem nutrido animal pertencente à família Canidae surgiu junto à berma daquela estrada até então deserta. 

Parei o carro e fotografei o animal que de selvagem só tem o habitat, dado que logo se me dirigiu provavelmente para receber o seu pagamento pelo trabalho de modelo. Teve azar não levou nada!... 

Em sentido contrário apareceu outra viatura que logo parou e de dentro do carro saiu uma senhora que ao ver a cena chamou a raposa que logo se dispôs a atravessar a estrada sem mais demora. Chamei a sua atenção para o facto de não dever fazer isso sob pena do animal ser atropelado. Resposta: Ela sabe o que faz!... 

O melhor estava para vir quando a dita senhora chama o animal por “Toma” acrescentando “vem cá à dona” e retirando do bolso um rebuçado tirou-lhe o papel e deu a comer (ou engolir) à raposa que não se fez rogada. Mais uma vez chamo a atenção da senhora para o que estava a fazer e ignorando tratou de dar mais outro rebuçado… 

Os animais selvagens sabem como sobreviver em meios hostis e as raposas espertas como são não fogem à regra. O que acontece é que com estas ações de alguns humanos que pensam ser pessoas com melhor coração que os demais, habituamos os animais a virem comer à mão, a atravessar estradas de qualquer maneira e a serem atropeladas por alguma viatura que venha com mais velocidade. 

Vim embora, a raposa por lá ficou a fazer parar os carros e vim pensando que para este tipo de pessoas que teimam em alimentar os animais selvagens, sem medir as consequências dos seus atos, nem a “Santa Paciência” poderá fazer grande coisa. 

Rui Canas Gaspar
2019-novembro-17
Troineiro.blogspot.com