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sábado, 3 de agosto de 2019


Saudades de uma menina setubalense 

A senhora caminhava lentamente pela rua, olhando tudo o que a rodeava, parando de vez em quando para assim melhor apreciar um ou outro pormenor.
Esta setubalense nascera ali na “azinhaga do Quileu” e por aqueles terrenos por asfaltar brincou, saltou, correu e subiu vezes sem conta ao moinho do D. António para dali ver chegar os barcos dos varinos. 

Se o barco do seu avô, o “Quileu”, viesse com gaivotas esvoaçando na popa, era sinal de alegria, vinha aí peixe fresco!… 

Ao longo dos anos a antiga azinhaga transformou-se em rua, tal como a menina se transformou em mulher, velhas casas foram sendo recuperadas porém, curiosamente, ainda ali está viva e de boa saúde a taberna do “Quileu”. 

A senhora fez questão de visitar a “cova do Quileu” local de residência do seu avô e onde tantas vezes brincou. Naquele espaço que ela tão bem conhecia no lugar de um estreito e íngreme caminho, existe hoje uma ampla escadaria e ao invés das velhas casas abarracadas das suas memórias de há meio século temos hoje pequenas e agradáveis moradias. 

Era emoção a mais!... A voz embargou-se os olhos encheram-se de lágrimas e as saudades da sua meninice, fizeram-na rapidamente dar meia volta e retornar para junto de seu marido que a aguardava a confortável distância. 

Mais uma setubalense que partiu da sua terra natal para longe do belo rio azul e que agora ao regressar às suas raízes se surpreende com o que vê meio século passado, um curto período de tempo mas o suficiente para termos mudado não só em Setúbal em particular mas o país em geral que passou de cores a preto e branco para multicolor, ainda que algumas dessas cores estejam ainda um pouco desbotadas. 

Rui Canas Gaspar
2019-agosto-03
Troineiro.blogspot.com

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