notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O antigo Bairro Carmona 

Aquela década de 40 do século XX foi um período de grande crescimento populacional em Setúbal, causando naturalmente graves problemas de alojamento.

Esse desenvolvimento originou que boa parte da população construísse a sua própria habitação, em condições de grande precariedade, recorrendo sobretudo a tábuas de madeira provenientes de caixotes usados, chapas metálicas reaproveitadas de antigos bidons e, até as grelhas usadas utilizadas nas fábricas conserveiras serviam para fazer as vedações dos pequenos quintais anexo às habitações.

Enquanto nas colinas a poente da cidade cresciam os bairros de lata de Olhos de Água, Castelo Velho e outros, a nascente eram nas tristemente famosas azinhagas do Mal Talhado que residia boa parte da população trabalhadora nas muitas unidades conserveiras que laboravam em Setúbal.

A Freguesia de São Sebastião teve o seu maior aumento populacional nesta década e, se os registos apontavam para uma população de 18.424 fregueses em 1940, dez anos depois, as estatísticas registavam 23.832 pessoas a residir na freguesia.

Para ajudar a ultrapassar a crise habitacional nesta populosa zona da cidade, o Estado Novo mandou construir os Bairros de Nossa Senhora da Conceição e Marechal Carmona.

Os 320 fogos, disseminados por uma extensa área, que constituíam o Bairro Carmona apresentavam-se em dois diferentes tipos de edifícios; uns em prédios térreos e outros em edifícios de rés-do-chão e primeiro andar.

O custo global deste empreendimento foi de quase dez mil contos, mais concretamente 9.704.109$50, uma verba substancial para aquela época.

O nome do bairro homenageava o então Presidente da República Portuguesa, António Óscar de Fragoso Carmona, nascido em 24 de novembro de 1869 e falecido em 18 de abril de 1951, tendo sido eleito para a presidência em 1928 e sucessivamente reeleito em 1935, 1942 e 1949.

Após ocorrer a revolução de 25 de abril de 1974, várias artérias citadinas viram mudadas as suas designações e o Bairro Carmona não escapou, passando a designar-se por Afonso Costa, um dos obreiros da implantação da República.

Pouco tempo depois de ter visto o seu nome alterado, muitas das pequenas e engraçadas casas rodeadas de espaços destinados a quintais e jardins seriam demolidas para dar lugar a novos edifícios erigidos em regime de propriedade horizontal e onde mais e mais população se viria a acolher, numa Setúbal que não parava de crescer.

Ainda hoje podemos observar neste antigo bairro o convívio de algumas das antigas moradias unifamiliares com os modernos prédios de apartamentos, que ocupando o mesmo espaço albergam muito mais setubalenses.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-29

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domingo, 28 de fevereiro de 2016

O galo da Bela Vista

Não sou gaivota nem pato
Nem canário comedor de “alpista”
Não sou ratazana nem rato
Apenas e só, galo da Bela Vista

No Bairro Azul, bem no alto
Mirando a serra e a bela baía
Não canto como um contralto
Delicio-me com o nascer o dia

Vejo a Arrábida, Setúbal e o Sado
Maravilhas que a todos encantam
Deixando um troineiro pasmado
E a quem as belezas espantam

Só com este pôr-do-sol
Delicio-me com a vista
Não canto como um rouxinol
Sou o galo da Bela Vista

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-28

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Portugal continua sob a potencial ameaça da central de Almaraz

Portugal continua a olhar com desconfiança para a sua segurança enquanto a velha central nuclear de Almaraz continuar ativa, a despeito das “garantias” dadas pelas autoridades espanholas.

O facto é que mais uma vez, neste mês de fevereiro de 2016, a central nuclear teve nova avaria tendo a administração da mesma emitido uma nota de imprensa dando conta de que a mesma “teria sofrido uma paragem durante a operação de aumento de carga, depois de ter sido efetuada a ligação da unidade à rede”.  

A central pertencente às empresas Iberdrola, Endesa e Unión Fenosa é arrefecida pelas águas do Rio Tejo e situa-se a apenas 200 quilómetros da fronteira do Caia/Badajoz, na província espanhola de Cáceres, num local bem conhecido dos portugueses que viajam para Madrid.

É ali que muitos condutores portugueses e espanhóis param, no conhecido Restaurante Portugal, quando viajam pela E90, a estrada europeia que começa em Lisboa e termina na Turquia, junto à fronteira com o Iraque.

Esta é a quarta central nuclear de Espanha e começou a ser construída em 1972, nove anos depois, em 1981, entrava em funcionamento o seu primeiro reator e dois anos depois o segundo. O seu encerramento estava previsto para 2010 o que não aconteceu, tendo o governo espanhol decidido protelar este encerramento por mais 10 anos.

Neste período de mais quatro anos, ou seja até 2020, esperemos que nada de mais grave aconteça, sabido que quando se está a encerrar uma unidade industrial não é na ponta final que se investe na mesma a não ser naquilo que é inadiável para a sua produção.

Sendo assim, entendo que a atenção a Almaraz deve ser reforçada, não só pelas autoridades espanholas como também pelas portuguesas, é que um acidente naquela central atómica não conhecerá fronteiras, sobrando para nós, com as inevitáveis e imprevisíveis consequências.  

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-28

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O Terminal 7 não deve ser construído tão cedo

As desativadas instalações da SADONAVAL, localizadas nos antigos estaleiros da Praia da Saúde constituem a última edificação das várias unidades que ali foram utilizadas na indústria naval durante largas dezenas de anos.

Com a desocupação por parte de trabalhadores e equipamentos daquelas instalações e posteriormente com o bota-abaixo do último barco reparado naqueles estaleiros, o “Ponta do Verde”, era suposto que se procedesse à demolição das instalações e limpeza do espaço por si ocupado, bem como à remoção dos últimos restos de betão onde assentavam os carris de acesso ao rio.

De facto, os carris foram retirados, tal como algumas ferragens que por ali estavam mas não foi aproveitada a oportunidade para que o restante material fosse removido de modo a que ali fossem posteriormente despejados alguns camiões de areia e a Praia da Saúde ficasse então mais ampla e limpa.

Também não foram demolidas as instalações da SADONAVAL, de forma a ampliar-se o espaço disponível, instalações que se encontram provisoriamente ocupadas pelo Centro Náutico, de acordo com protocolo de cedência assinado entre a C.M.S. e aquele clube.

Ainda que não fosse construído para já o anunciado Terminal 7 era suposto que o espaço ficasse livre e desocupado.

Ao invés de se verificar a demolição, podemos ver agora as antigas instalações a sofrerem obras de beneficiação, ao nível do fecho das várias janelas, com alvenaria rebocada, deixando-se livre a ultima fiada com colocação de blocos de vidro para permitir a iluminação natural.

Em função desta constatação somos levados a concluir que a obra para ali projetada, o tal Terminal 7, não deve estar para iniciar tão cedo tal como as antigas instalações da SADONAVAL também não deverão ter data anunciada para a sua demolição.

Cá por Setúbal costumamos dizer que “quem não tem dinheiro não tem vícios” e, como tal, construir uma obra de raiz como o Terminal 7 para aumentar dívida às finanças municipais também não me parece boa política, como boa política não me parece que seja a de não se investir mais alguns poucos euros para dotar a Praia da Saúde com mais uns bons metros de areal.

Aguardemos, o que, quando e como ali irá surgir, de forma a que se dê novo e quase definitivo visual à bonita zona ribeirinha e, entretanto, enquanto não se procede à demolição que se dê às velhas instalações a melhor utilidade e um aspeto decente e atraente.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-25

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domingo, 21 de fevereiro de 2016

O eficaz método pedagógico da Professora Coelha

Tenho um bom e querido amigo que está quase com noventa aninhos e hoje fui visitá-lo.

São momentos sempre muito agradáveis aqueles em que recordamos os tempos da nossa meninice, especialmente as nossas vivências escolares.

E foi desta agradável visita a um velho setubalense que resultou a história que aqui partilho com muito gosto, a qual é um testemunho de tempos distantes em que os métodos pedagógicos eram bem diferentes dos de hoje.

O Mário tinha os seus nove aninhos quando um dia, seu pai, feitor numa propriedade na Comporta decidiu que a professora deveria puxar pelo filho de modo a que o rapaz aprendesse mais e melhor.

Para conseguir as boas graças da conhecida professora Coelha, que lecionava ali perto da passagem de nível das Fontainhas, o progenitor tratou de lhe ofertar uma saca com 50 quilos de boas batatas colhidas naqueles férteis terrenos de Troia.

A partir desse dia o Mário tornou-se o alvo principal da atenção da professora, que não se fazia rogada em aplicar o respetivo corretivo com a “menina dos cinco olhos”, a temida régua com que dava as fortes palmatoadas, quando o rapaz não dava resposta correta a uma qualquer pergunta.

Embora o Mário nunca tenha sido brindado com a exposição à janela, ostentando as tradicionais “orelhas de burro”, o facto é que foram tantas as reguadas que apanhou que ainda hoje, passados oitenta anos as tem bem vivas na memória.

Os métodos pedagógicos da professora Coelha, seguidos anos mais tarde por sua filha, também ela professora no Bairro de Troino, poderiam não ser os mais aconselháveis, porém no caso do Mário parece que foram de facto muito eficazes, atendendo a que o rapaz num só ano fez a terceira e quarta classe, ficando apto a entrar no liceu.

Ainda hoje, quando algum antigo companheiro de escola, o encontra, não deixa de lhe lembrar as batatas que o pai ofertou à professora e que nunca mais acabavam…

E se os rapazes levavam valentes dozes de reguadas, a sua vingança era depois de feito o exame da 4 classe, já livres da temível professora, lá iam eles atirar umas pedras à porta da senhora, que tristemente comentava: “Ingratos! Depois de tudo o que fiz por eles, é assim a sua paga!...”

Outros tempos, outras histórias!

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-21

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ARRÁBIDA
Vamos matar a galinha dos ovos de ouro?

Mercedes, Volkswagen e Ferrari são marcas de automóveis que vão fazer por estes dias filmes publicitários na Arrábida, trazendo até cá não só centenas de técnicos como também mais de uma centena de jornalistas, os quais naturalmente aqui deixarão largos milhares de euros, gastos em estadia, alojamento e meios técnicos.

Os mais diversos eventos desportivos trarão também este ano a Setúbal milhares de turistas, desportistas e jornalistas estrangeiros que não deixarão de querer visitar o Parque Natural da Arrábida, um espaço ímpar não só regional, como nacional.

E se a beleza deste espaço cativará certamente os visitantes não acredito que o mesmo possa acontecer com as infraestruturas que ali irão encontrar, dado que são quase inexistentes e até o básico, como sejam os miradouros estão em estado deplorável.

E é isso também que lhes irá despertar a atenção e isso será certamente o que também irão transmitir para os seus países nas crónicas que irão produzir e que em nada irá abonar o setor turístico nacional.

Bem que se poderia evitar esta imagem deprimente, minimizando-se  este impacto negativo, com uns poucos camiões de gravilha, meia dúzia de bidons de alcatrão e umas poucas horas de trabalho de pedreiro, o suficiente para mudar radicalmente o mau aspeto destes espaços.

Isto pode parecer assunto de somenos importância, mas não é. Estou a falar sobre aquilo que é mais visível e com que as pessoas se depararão, na sua curta estadia, quer queiramos ou não.

Para quê gastar-se milhares de euros a promover a nossa terra para atrair turistas se eles ao aqui chegarem vão encontrar, desnecessariamente, estas situações de propaganda negativa?

Diria mesmo que isto é o que se pode rotular de “matar a galinha dos ovos de ouro”.

Bem sei que as Estradas de Portugal vão dizer que os miradouros são da responsabilidade do Parque Natural da Arrábida, bem sei que alguém irá sacudir a água do capote argumentando que a promoção turística é responsabilidade da Câmara Municipal e assim neste jogo de empurra o que é simples de resolver vai-se tornando cada vez mais complicado.

Curiosamente o que mais me espanta é que com tantos técnicos, gestores, diretores e presidentes em todos estes organismos, não haja gente capaz de tomar decisões no sentido de, eficientemente, resolver estas pequenas (grandes) anomalias que nos irão sair mais caras do que se avançasse de imediato com a resolução do problema.

Chamo mais uma vez a atenção do Parque Natural da Arrábida, das Estradas de Portugal e da Câmara Municipal de Setúbal para esta questão do mau estado dos miradouros da Arrábida porque eles são um dos melhores cartões-de-visita de que dispomos e o seu estado em nada vai ajudar a promover o turismo nacional, com a consequente quebra nas necessárias receitas que essa indústria naturalmente pode gerar e que tanto jeito darão nas depauperadas finanças nacionais.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-17

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Hoje encontrei um “tesouro” na Arrábida

A Serra da Arrábida é uma caixinha de surpresas e não deixa de nos surpreender pelos mais diferentes motivos. Hoje quando por lá dei uma volta e decidi ir “meter a cabeça” num determinado local deparei-me não com um tesouro, mas com pouco mais de três dezenas de moedas.

Não mexi nelas, nem as desviei um milímetro do local onde se encontram, apenas as fotografei e, de tempos em tempos, irei por lá passar para ver se estão mais, se estão menos ou se simplesmente sumiram.

Não sei quem as colocou nem com que intenção, tal como não sei com que intenção é que aquele rico romano foi enterrar uma ânfora repleta de moedas, algures para as bandas do Creiro. Provavelmente um tesouro fruto da venda do peixe em conserva que dali saía para todo o império a bordo das possantes corbitas de transporte.

Em 1968 uma moderna máquina ao romper o terreno para fazer a estrada que faz a ligação entre a estrada  N10-4 e a praia do Creiro partiu a ânfora que ali estava enterrada e espalhou as moedas que certamente tanto trabalho deram a amealhar ao seu proprietário.

O caçador José Correia, residente em Setúbal, que por ali passou viu-as espalhadas pela terra e ao verificar que eram de cobre e não de prata ou ouro, não ligou grande coisa, limitando-se a apanhar um punhado e a trazer como recordação para ofertar aos amigos.

Ao que parece os operários que procediam aos trabalhos de terraplanagem ao terem conhecimento do achado também trataram de recolher a maior parte das peças encontradas, ainda antes da chegada do padre Manuel Marques, então capelão do Hospital do Outão, entretanto alertado com a notícia.

Este sacerdote, pessoa interessada pela história da nossa terra, deslocou-se rapidamente ao local das terraplanagens, no Creiro e, depois de procurar entre a terra revolvida ainda conseguiu juntar mais de três dezenas de moedas tendo certamente muitas outras ficado por ali, enterradas no local dos trabalhos.

O padre Manuel Marques viria a ofertar uma dessas peças ao seu colega, conhecido estudioso desta região da Arrábida e Azeitão, padre Manuel Frango de Sousa, moeda identificada como pertencente ao reinado do Imperador romano Honório.

Este foi um outro tesouro arqueológico do qual nunca se conseguiu quantificar as peças encontradas dada a dispersão das mesmas e às características que envolveram o seu achado, nomeadamente quanto ao local, em plena Serra da Arrábida e à quantidade de pessoas que a ele tiveram acesso.

É claro que hoje não tive a sorte de encontrar um tesouro romano, nem muçulmano, mas sim um punhado de moedas correntes colocadas num local pouco acessível sabe-se lá com que intenção.

São coisas de Setúbal ou da nossa Arrábida desconhecida!...

Rui Canas Gaspar

17-fevereiro-2016

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Vivó Vitórrria!!!

Era umas nove horas da manhã neste bonito e solarengo dia de Inverno, quando os termómetros marcavam 8 graus e pouca gente ainda se via na “praça” como gostam de chamar os setubalenses ao seu bonito Mercado do Livramento e já por lá andava a equipa principal do Vitória Futebol  Clube.

Acompanhavam a equipa vitoriana vários colaboradores e diversos fotógrafos bem como pessoal da comunicação social, enquanto um ou outro atleta era mais solicitado para uma foto com alguém do público ou para dar um autógrafo.

Os jogadores não tinham ido à praça para comprar  algum do bom peixe que por ali se vende ou as frescas hortaliças que as “mulheres do campo” costumam trazer para comercializar. Os rapazes foram-se mostrar numa operação de charme, ou de marketing, se quiserem, de forma a poder cativar os setubalenses para os poderem apoiar no sábado, pelas 18,00 horas no Estádio do Bonfim.
E, é ali, naquele espaço erigido com o esforço dos setubalenses que o ENORME vai defrontar o Nacional, a equipa que vem da bonita ilha da Madeira até esta terra não menos agradável que é Setúbal.
E como sempre acontece em terras do rio azul, sobretudo na sua praça, onde tudo acontece, onde tudo se comenta e onde tudo se sabe, que me dirigi a duas senhoras que acompanhavam a equipa, envergando elas também camisolas do Vitória, para saber o que se estava a passar e o porquê da equipa estar naquele local.
Ao lado estavam outras senhoras que assim se dirigiam: - À vizinha dê-me aí dois bilhetinhos para o jogo. E logo as senhoras que envergavam as camisolas vitorianas trataram de lhes distribuir os ingressos gratuitamente. 

Eu também me acheguei ao grupo e logo as simpáticas colaboradoras me perguntaram: “- também querr dois, vizinho?”. Agradeci a oferta e sorri satisfeito não pelos ingressos para o jogo que tão gentilmente me estavam a oferecer mas sobretudo por ter tido a oportunidade de vivenciar estes minutos tão agradáveis na minha praça, com o meu Vitória e com as gentes e pronuncia da minha terra.

Vivó Vitórria!!!

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-16

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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Zéfiro entra em Setúbal para fecundar as éguas lusitanas

Na Grécia antiga, berço da democracia, das artes plásticas, do desporto, do teatro e de outras diferentes manifestações de conhecimento, para transmitirem ao mundo os seus ensinamentos, os gregos, criaram mitos e estórias, que foram transmitidas oralmente de geração em geração e onde monstros, heróis e deuses eram normalmente os principais protagonistas.

E, foi assim, que nasceu o poderoso e forte Zéfiro, o vento do oeste, aquele  que casou com Íris e foram viver felizes para uma caverna na Trácia, deixando a sua família de nascimento, a mãe Aurora, o pai Astreu e os irmãos Bóreas, Noto e Eurus na sua região natal.

Diziam que Zéfiro fecundava as éguas de certa região da Lusitânia tornando elegantes os cavalos desse zona e invulgarmente velozes como são ainda hoje conhecidos os puro-sangue lusitanos, os mais antigos cavalos de sela de todo o mundo que constituem uma das mais preciosas heranças genéticas de Portugal.

A cidade de Setúbal decidiu homenagear, em abril de 2014, a cultura grega e a influência que a mesma indiretamente teve na portuguesa, construindo um monumento de grandes dimensões dedicado a Zéfiro, o vento do oeste.

Esta obra escultórica foi financiada pela fundação Buehler-Brockhaus e teve como autor o escultor plástico Sérgio Vicente tendo sido colocada a nascente da cidade, na Avenida Álvaro Cunhal, numa movimentada rotunda de Monte Belo, bem perto de uma fonte decorativa de onde se destaca o nome de Setúbal.

O monumento é composto por meia dúzia de enormes barras de ferro retorcidas, tal como se fossem elegantes e delicadas espigas vergadas para Leste, pela poderosa força de Zéfiro que soprando forte do Oceano Atlântico a todos faz sentir a sua força.

É aqui, em Setúbal, que Zéfiro entra pela terra dentro e corre sem parar ansioso por encontrar as belas éguas lusitanas, envolvendo-se com elas e deixando-as prenhas para poderem vir dar à luz os “filhos do vento” os mais elegantes e velozes cavalos que são montados pelos humanos desde tempos imemoriais.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-13

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Vamos ter chuva porque já cheira a Socel

Em 1957 entrava em funcionamento a Companhia Portuguesa de Celulose, tornando-se pioneira a nível mundial na produção de pasta branqueada de eucalipto.

Poucos anos depois, em 1964, Setúbal via nascer a Socel – Sociedade Industrial de Celulose, S.A.R.L. uma unidade industrial vocacionada para a produção de pasta branqueada de eucalipto.

No ano seguinte, constitui-se a INAPA, Industria Nacional de Papéis, S.A. com o objetivo de produzir papéis finos de impressão e escrita, uma unidade industrial que passou a funcionar paredes meias com a Socel.

As novas indústrias deram emprego a bastantes setubalenses e foram muitos dos seus quadros e técnicos aqueles que foram recrutados na Escola Industrial e Comercial de Setúbal, nos idos anos 60, quando Setúbal começava a conhecer um invulgar dinamismo industrial.

A Socel que laborava a nascente da cidade do Sado, na península da Mitrena via os ventos dominantes levarem os desagradáveis cheiros por si produzidos para o Oceano Atlântico depois de atravessado o Sado. Porém, quando o vento soprava de sudoeste e o cheiro chegava à cidade era comum os setubalenses comentarem que a chuva estaria a chegar um ou dois dias depois, porque “cheirava a Socel”.

Em 1976, no âmbito das mudanças que se viviam em Portugal, depois da revolução de 25 de Abril de 1974, foi constituída a Portucel – Empresa de Celulose e Papel de Portugal EP, como resultado do processo de nacionalização da indústria de Celulose, da qual a Socel passou a fazer parte integrante.

O dinâmico grupo industrial continuou não só a laborar mas a modernizar-se constantemente, sendo considerado uma referência mundial na sua área de atuação, adquirindo novas e potentes máquinas que lhe permitiram fazer sempre mais e melhor produto.

Em 1993 as Unidades de Cacia e de Setúbal constituíam-se na Portucel Industrial – Empresa Produtora de Celulose, S.A. dedicando-se à produção e comercialização de pasta branqueada de eucalipto.

Dois anos depois, é dado o primeiro passo na privatização do Grupo, colocando-se então 44,3% do seu capital à disposição dos investidores privados.

No ano 2000 a Portucel Industrial adquire 100% do capital da Papeis Inapa, S.A. dando origem à Portucel Empresa de Pasta e Papel, S.A.

Em 2006 é anunciada a construção de uma nova fábrica de papel em Setúbal, o que permitiu ao Grupo assumir a liderança no mercado europeu de papéis finos.
Uma década depois, em 2016, a antiga Socel agora integrada num vasto grupo industrial e internacional assume-se como uma empresa de topo, com nova designação: The Navigator Company.

Para mim e para muitos outros antigos setubalenses quando o vento soprar lá das bandas de sueste será um pouco complicado comentar de forma inglesada que vai chover, pelo que certamente vamos continuar a dizer que “vamos ter chuva, porque cheira a Socel”.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-13

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Prédio desinfetado, prédio recuperado

A minha memória olfativa recuou meio século ao passar pela rua que ostenta o topónimo daquele republicano que foi iniciado na maçonaria e embora sendo natural de Chaves, Setúbal homenageou-o com o nome de uma das suas ruas.

Um forte cheiro a creolina, aquele antigo produto que se usava na desinfeção das antigas instalações sanitárias existentes nalguns jardins setubalenses, podia sentir-se na Rua António Joaquim Granjo, aquela artéria que faz a ligação entre a Avenida Luísa Todi e o Largo de Santa Maria, passando ao lado do conhecido “prédio do leão”.

O edifício que se encontrava em limpeza e desinfeção é provavelmente o maior implantado naquela rua, com alçados para três diferentes artérias. O mesmo encontrava-se de portas escancaradas e lá dentro os operários já tinham feito uma enorme limpeza e remoção de lixo diverso, de alto a baixo, e agora desinfetavam tetos, paredes e pavimentos, com aquele eficiente produto.

Esta é uma das ruas da baixa cujos edifícios têm vindo a ser paulatinamente recuperados pelos seus proprietários e, segundo me foi informado, este prédio acabou de ser transacionado e em breve ali serão também iniciadas obras de recuperação.

Trata-se de um imóvel de grande volumetria que se encontrava num estado de semiabandono e onde as ratazanas não só se escondiam como ali se multiplicavam, fazendo incursões a qualquer hora do dia ou da noite pelas antigas ruas daquela parte da zona histórica.

Embora sem aquela rapidez que todos gostaríamos, até porque o dinheiro não abunda, são vários os proprietários que vão recuperando os seus imóveis na baixa da cidade, destinando-os a habitação, comércio ou serviços e esta, a pouco e pouco, vai recuperando da letargia que esteve mergulhada durante vários anos.

Embora Setúbal não disponha de uma zona histórica monumental, ela tem vários imóveis de referência, alguns deles brasonados, que se recuperados darão um aspeto bem mais agradável à cidade e seguramente tornarão o espaço muito mais atrativo não só para os turistas que nos visitam mas também e sobretudo para aqueles que aqui vivem.

Quem me dera continuar a passar pelas nossas históricas ruas e o cheiro da creolina viesse despertar-me pensamentos de quando a minha cidade tinha um outro tipo de vivência, que seguramente não seria melhor, mas que era certamente bem diferente.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-12

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Em Setúbal também temos pedintes exigentes

A mulher que bateu naquela porta pedindo esmola aparentava ter pouco mais de trinta anos e era uma pessoa tão bem falante e convincente que a dona da casa que a atendeu acabou por lhe dar 20 euros no sentido de ajudar a mitigar os seus muitos problemas.

Poucos dias depois lá estava ela de novo a tocar à mesma porta. E porque não pudesse atender a dona da casa disse à filha para o fazer entregando uma nota de cinco euros que a jovem entregou à pedinte.

Para sua surpresa, a pedinte ao invés de agradecer a dádiva, começou a discutir com a jovem por lhe dar tão pouco dinheiro.

A jovem pediu desculpa, fechou a porta e muito incomodada com o assunto partilhou com a família. O pai não perdeu tempo e saiu de casa ainda a tempo de observar discretamente a movimentação da exigente pedinte, confirmando que ela não se dirigia a qualquer casa mas sim a algumas selecionadas.

Quando a pedinte deixou a rua alvo do seu raid, dobrou a esquina e entrou numa carrinha skoda que a esperava com um condutor ao volante e ambos partiram para fora do bairro.

Algumas casas  têm vindo a ser assaltadas na zona da Quinta do Hilário e sem querer fazer qualquer paralelismo entre esta situação da pedinte exigente e dos assaltantes que por ali têm feito boas colheitas, e ao que parece também se deslocam em viaturas topo de gama, acho que é no mínimo estranho haver coincidência entre estas duas situações.

Como tal, como cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, tome cuidado com quem lhe bate à porta e lhe “canta a canção do bandido”.  É que estas coisas não acontecem só aos outros, um dia pode vir a ser contemplado com uma visita inesperada, caso venha a facilitar.

Ajudar sim, ser generoso muito bem, mas ser parvo parece que ninguém gosta e por isso mesmo a pedinte foi já referenciada, e na última tentativa foi corrida daquela casa sem um centavo e as medidas de precaução foram ativadas.

Setúbal tem muita gente boa e também alguma que não vale um tostão furado, como em todo o lado. Tem gente necessitada e gente que se faz passar por isso, mas o que temos também por cá é pedintes que acham que dádivas de cinco euros é manifestamente pouco, para quem se desloca em bons carros para exercer a sua atividade.

O saudoso Fernando Pessa não deixaria de rematar este relato com um: “E esta hein?!...”

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-11

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Carnaval tempo de aprendizado

Foram na ordem das largas centenas as crianças dos infantários, colégios e escolas do ensino básico, acompanhadas pelos seus monitores e professores que hoje encheram a Praça de Bocage e depois desfilaram pela Avenida Luísa Todi.

Provavelmente não seremos muitos aqueles que pensamos um pouco no trabalho preliminar que os educadores destas crianças tiveram, imaginando figurinos, escolhendo materiais de baixo custo ou mesmo custo zero e, depois, promovendo oficinas práticas onde os mais pequeninos setubalenses aprenderam a cortar, colar, pintar e trabalhar em equipa.

Finalmente, chegou o momento de festa e alegria, quando eles vieram para a rua mostrar o que fizeram, partilhando a sua boa disposição com as outras crianças e adultos e enchendo as nossas ruas, praças e avenidas de cor, graça e alegria como só as crianças nos conseguem proporcionar.

Os festejos carnavalescos podem até ser engraçados, mas dou sempre comigo a pensar nos trabalhos de bastidores, nos colégios e nas escolas que com alguma antecedência e tendo este tema motivador vão ajudando a a formar os homens e mulheres que nos irão governar um dia.

Faço votos para que estes dedicados educadores sejam sábios e saibam que muitos outros seus conterrâneos olham para eles com esperança de que possam atingir os seus objetivos pedagógicos.

Mais do que um tempo de festa e de folia, tenho para mim que este período é um tempo privilegiado para que os nossos professores e educadores melhor possam moldar aqueles pequeninos que dentro em breve, alguns deles, serão os homens e mulheres que nos irão governar.

Por isso, aqui expresso a minha admiração e gratidão para estes educadores que sempre fizeram muito mais na sua atividade profissional do que aquilo que lhes está cometido e pelo qual são pagos.

Que todos se possam divertir e por isso mesmo desejo um bom carnaval para os nossos meninos e meninas. Votos idênticos também para aqueles seus monitores e professores e, porque não, para si também que teve a paciência de ler este apontamento.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-05

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Na Arrábida a Fonte da Paciência espera pacientemente que alguém trate do seu espaço.

Sou uma das várias fontes existentes um pouco por todo o Parque Natural da Arrábida e considero-me importante pelos mais diferentes motivos, mais que não seja porque forneci  um bem imprescindível à vida, a água.

É bem provável que fosse também por minha causa que, já lá vão imensos anos,se tivessem instalado aqui perto uns romanos que se dedicavam a laborar um enorme complexo onde conservavam peixe e fabricavam produtos seus derivados que exportavam para os mais diversos cantos do seu vasto império.

Séculos mais tarde criadores de gado apascentaram nas minhas imediações os seus animais e também eles vinham aqui saciar a sede. Para além de ficar registado em foto, posteriormente pintaram  essas cenas em painéis que hoje podem ver a decorar o espaço que ainda ocupo.

No final do século passado, quando centenas de casas, casinhas e casinhotas ocupavam a base da serra e espalhavam-se ao longo de todo o Portinho da Arrábida, até aqui ao Creiro, muitos dos seus habitantes era a mim que recorriam para pacientemente encher os recipientes com que portavam aquilo que eu generosamente oferecia.

Não era muito abundante, de facto, ao longo dos anos fui perdendo as forças, mas sempre fui generosa e nunca deixei ficar ninguém mal, ainda que aqui levassem algum tempo para encher os seus recipientes.  Tinham de ter paciência, uma importante virtude!...

A idade não perdoa e um dia deixei de correr à vista de todos como sempre o fiz e, não se riam, porque o mesmo irá acontecer convosco.

Os senhores do Parque Natural da Arrábida fizeram-me uma linda sepultura e trataram de aqui fazer um espaço de descanso e paz em minha homenagem, inaugurando-o em 2002.

 Imaginem que fizeram lindas cercaduras em madeira tratada, colocaram bancos e um bonito mural, com três painéis de azulejos dando conta aos visitantes que não me tinham conhecido em vida sobre a importância que eu teria tido outrora.

Mas, agora sinto-me triste e abandonada, com o mato a crescer à minha volta e com as paredes do meu mural a necessitar de uma limpeza e um pouco de tinta.  Nada que não se possa fazer com um pouco de boa vontade.

Aguardo pacientemente a chegada de alguém que voluntária ou institucionalmente me venha, não ressuscitar, mas ao menos cuidar do espaço onde outrora dei tantas alegrias e saciei a sede a inúmeras gerações.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-05

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Em Setúbal temos uns proprietários que são filhos e outros que são enteados?

Afonso Palheira era um setubalense que embora nunca lhe tivesse sido permitido fazer a promessa de escuteiro, por motivos que aqui não interessa explicar, costumava acompanhar, de vez em quando, com o nosso grupo.

Era um homem simples e como gostava de fardas e não ingressou nos escuteiros, lá conseguiu filiar-se na Legião Portuguesa e, no dia 25 de abril de 1974, porque havia uma revolução e quando miraculosamente de um momento para o outro deixaram de haver pides, bufos e legionários em Portugal  quem é que apareceu à porta da Legião? O nosso amigo Afonso Palheira, para defender Portugal, segundo dizia.

Quem o salvou nesse dia de poder levar alguma sova foi o falecido Chefe Joaquim, um escuteiro por demais conhecido na cidade, que ao passar pelo local tratou de fazer sair dali de imediato o nosso amigo Afonso.

Lembrei-me desta passagem ao olhar para esta antiga foto onde vemos altas figuras do regime ditatorial, alguns deles fazendo a saudação nazi, precisamente à porta do quartel setubalense da Legião Portuguesa.

Podemos reparar como estava bem arranjado este edifício que poucas saudades deixou a não ser provavelmente àqueles que ali foram mitigar a fome comendo uma das famosas “sopas da legião” ou aos outros que se aproveitavam para exercer alguma forma de desdém sobre os seus conterrâneos.

Passadas várias dezenas de anos vamos encontrar o edifício, agora propriedade de um conhecido setubalense, segundo dizem, num estado deplorável e que nada dignifica o seu proprietário nem o nobre local onde está implantado, em plena Avenida Luísa Todi.

Curiosamente, e para mal dos nossos pecados, ainda estamos sujeitos a qualquer dia entrar em despesas, com o dinheiro dos nossos impostos, porquanto a Polícia de Segurança Pública, que tem instalações mesmo ao lado utiliza a parte da frente como parque de estacionamento de viaturas à sua responsabilidade.

Ora se um destes dias cair em cima de um daqueles carros um pedaço do degradado prédio a quem serão assacadas culpas? Ao proprietário, porque é dono do imóvel, à Câmara porque já deveria ter tomado medidas no sentido de pelo menos mandar reforçar as zonas em perigo, ou à P.S.P. que embora sendo polícias e não construtores devia saber que aquele local não é apropriado para estacionamento?

É claro que não defendo, nem de perto nem de longe ideologias e formas comportamentais como os senhores aqui fotografados, mas o facto é que também não partilho de alguma permissividade que se vê por aí e que esta foto bem ilustra.

Não se podem considerar os proprietários setubalenses uns como filhos e outros como enteados e, pelos vistos, o dono deste prédio, atendendo ao estado de conservação e ao tempo que assim se encontra, não deve ser enteado. Digo eu!...


Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-02

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