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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O antigo Bairro Carmona 

Aquela década de 40 do século XX foi um período de grande crescimento populacional em Setúbal, causando naturalmente graves problemas de alojamento.

Esse desenvolvimento originou que boa parte da população construísse a sua própria habitação, em condições de grande precariedade, recorrendo sobretudo a tábuas de madeira provenientes de caixotes usados, chapas metálicas reaproveitadas de antigos bidons e, até as grelhas usadas utilizadas nas fábricas conserveiras serviam para fazer as vedações dos pequenos quintais anexo às habitações.

Enquanto nas colinas a poente da cidade cresciam os bairros de lata de Olhos de Água, Castelo Velho e outros, a nascente eram nas tristemente famosas azinhagas do Mal Talhado que residia boa parte da população trabalhadora nas muitas unidades conserveiras que laboravam em Setúbal.

A Freguesia de São Sebastião teve o seu maior aumento populacional nesta década e, se os registos apontavam para uma população de 18.424 fregueses em 1940, dez anos depois, as estatísticas registavam 23.832 pessoas a residir na freguesia.

Para ajudar a ultrapassar a crise habitacional nesta populosa zona da cidade, o Estado Novo mandou construir os Bairros de Nossa Senhora da Conceição e Marechal Carmona.

Os 320 fogos, disseminados por uma extensa área, que constituíam o Bairro Carmona apresentavam-se em dois diferentes tipos de edifícios; uns em prédios térreos e outros em edifícios de rés-do-chão e primeiro andar.

O custo global deste empreendimento foi de quase dez mil contos, mais concretamente 9.704.109$50, uma verba substancial para aquela época.

O nome do bairro homenageava o então Presidente da República Portuguesa, António Óscar de Fragoso Carmona, nascido em 24 de novembro de 1869 e falecido em 18 de abril de 1951, tendo sido eleito para a presidência em 1928 e sucessivamente reeleito em 1935, 1942 e 1949.

Após ocorrer a revolução de 25 de abril de 1974, várias artérias citadinas viram mudadas as suas designações e o Bairro Carmona não escapou, passando a designar-se por Afonso Costa, um dos obreiros da implantação da República.

Pouco tempo depois de ter visto o seu nome alterado, muitas das pequenas e engraçadas casas rodeadas de espaços destinados a quintais e jardins seriam demolidas para dar lugar a novos edifícios erigidos em regime de propriedade horizontal e onde mais e mais população se viria a acolher, numa Setúbal que não parava de crescer.

Ainda hoje podemos observar neste antigo bairro o convívio de algumas das antigas moradias unifamiliares com os modernos prédios de apartamentos, que ocupando o mesmo espaço albergam muito mais setubalenses.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-29

www.troineiro.blogspot.com

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