O antigo Bairro Carmona
Aquela década de 40 do século XX
foi um período de grande crescimento populacional em Setúbal, causando
naturalmente graves problemas de alojamento.
Esse desenvolvimento originou que
boa parte da população construísse a sua própria habitação, em condições de
grande precariedade, recorrendo sobretudo a tábuas de madeira provenientes de
caixotes usados, chapas metálicas reaproveitadas de antigos bidons e, até as
grelhas usadas utilizadas nas fábricas conserveiras serviam para fazer as
vedações dos pequenos quintais anexo às habitações.
Enquanto nas colinas a poente da
cidade cresciam os bairros de lata de Olhos de Água, Castelo Velho e outros, a
nascente eram nas tristemente famosas azinhagas do Mal Talhado que residia boa
parte da população trabalhadora nas muitas unidades conserveiras que laboravam
em Setúbal.
A Freguesia de São Sebastião teve
o seu maior aumento populacional nesta década e, se os registos apontavam para
uma população de 18.424 fregueses em 1940, dez anos depois, as estatísticas
registavam 23.832 pessoas a residir na freguesia.
Para ajudar a ultrapassar a crise
habitacional nesta populosa zona da cidade, o Estado Novo mandou construir os
Bairros de Nossa Senhora da Conceição e Marechal Carmona.
Os 320 fogos, disseminados por uma
extensa área, que constituíam o Bairro Carmona apresentavam-se em dois
diferentes tipos de edifícios; uns em prédios térreos e outros em edifícios de
rés-do-chão e primeiro andar.
O custo global deste empreendimento
foi de quase dez mil contos, mais concretamente 9.704.109$50, uma verba
substancial para aquela época.
O nome do bairro homenageava o
então Presidente da República Portuguesa, António Óscar de Fragoso Carmona,
nascido em 24 de novembro de 1869 e falecido em 18 de abril de 1951, tendo sido
eleito para a presidência em 1928 e sucessivamente reeleito em 1935, 1942 e
1949.
Após ocorrer a revolução de 25 de
abril de 1974, várias artérias citadinas viram mudadas as suas designações e o
Bairro Carmona não escapou, passando a designar-se por Afonso Costa, um dos
obreiros da implantação da República.
Pouco tempo depois de ter visto o
seu nome alterado, muitas das pequenas e engraçadas casas rodeadas de espaços
destinados a quintais e jardins seriam demolidas para dar lugar a novos
edifícios erigidos em regime de propriedade horizontal e onde mais e mais
população se viria a acolher, numa Setúbal que não parava de crescer.
Ainda hoje podemos observar neste
antigo bairro o convívio de algumas das antigas moradias unifamiliares com os
modernos prédios de apartamentos, que ocupando o mesmo espaço albergam muito
mais setubalenses.
Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-29
www.troineiro.blogspot.com
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