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quarta-feira, 2 de março de 2016

O nosso típico Bairro das Fontainhas 

Se existem zonas típicas em Setúbal, podemos sem dúvida dize-lo que elas se encontram em Tróino a poente  e nas Fontainhas a nascente, é aqui que vamos encontrar os mais genuínos habitantes desta terra, virada para o Sado, a quem muito deve a urbe.

O Bairro das Fontainhas remonta ao século XVI, conhecendo o seu desenvolvimento nos dois séculos seguintes. Foi neste espaço de encosta que se edificaram as antigas habitações, nas quais podemos em alguns casos reconhecer pequenos pormenores que remontam aos primeiros séculos da sua ocupação.

As ruas do bairro são geralmente estreitas e sinuosas, podendo-se aqui também observar escadarias de acesso aos pontos mais altos. O chão é pavimentado, embora grande parte dessas calçadas estejam presentemente cobertas por asfalto.

Curiosamente, alguma da pedra utilizada, quer no pavimento quer até em algumas construções veio de muito longe, servindo de lastro aos barcos que demandavam o porto de Setúbal aqui chegados para carregar o seu “ouro branco”, o sal que foi fonte de riqueza e progresso durante séculos.

O bairro ainda mantém algum colorido e tipicismo com muitas entradas de residências decoradas com múltiplos vasos de vistosas e bem cuidadas plantas, podendo-se também observar as roupas bem lavadas dos seus moradores penduradas junto à porta de casa a secar ao sol.

O comércio era diversificado como não podia deixar de ser numa zona com tantos barcos e com apeadeiro de comboio. As tabernas, local de encontro e convívio entre os homens do mar, também por ali proliferavam. Alguns desses espaços ainda hoje funcionam, porém com outro tipo de atividade.

Um dos pontos de maior atração até meados do século passado foi o “poço das fontainhas”, erigido em 1861,local onde parte dos habitantes se abasteciam de água, quer para as suas casas quer para os barcos de pesca que acostavam frente ao mesmo, inicialmente na praia e posteriormente na doca.

Era neste local que podíamos encontrar sempre algum pescador a remendar redes e onde muitos beijos foram rapidamente trocados entre jovens enquanto se enchia uma bilha de barro com a preciosa água que hoje já ali não corre. Tal como também não correm as mulheres para as muitas fábricas de conserva de peixe, a nascente do bairro, que com as suas potentes sirenes as chamavam ao trabalho, quando a nossa costa era farta de boa e deliciosa sardinha.

Rui Canas Gaspar
2016-março-03

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