Os antigos enólogos
setubalenses
Em
meados dos anos quarenta do século passado a população setubalense rondaria as
cinquenta mil pessoas, cerca de metade daquelas que atualmente a cidade comporta.
Porém,
as tabernas eram provavelmente em muito maior quantidade do que os cafés que
hoje por aqui existem um pouco por todo o lado.
A
taberna não era apenas o local onde se ia beber um copo de vinho, mas também o
espaço de petisco, de convívio e até “escritório” de pescadores que ali iam
acertar as contas da sua “quinzena”.
Alguns
desses locais disponibilizavam os fogareiros e o carvão, vendiam o vinho e o
pão e os pescadores e os descarregadores de peixe levavam a sua “teca” e ali,
sentados à porta, assavam as sardinhas e outros peixes, vindo daí o hábito de
se comer bom peixe assado em Setúbal.
Mas,
embora o vinho da região fosse afamado desde tempos remotos, o facto é que
havia sempre um ou outro taberneiro “chico esperto” que o batizava e uns litros
de água colocada dentro do barril, pouco se notando, sobretudo depois do
cliente já estar bem bebido.
É
claro que há sempre quem não goste de ser ludibriado e havia em Setúbal um
pequeno grupo de três ou quatro homens do mar, daqueles que trabalhavam com as
redes em terra, que todos os anos transportados numa carroça, lá iam de taberna
em taberna provando o vinho novo que lá se iria comercializar e que depois
seria publicitado como sendo do melhor que por cá se vendia.
Atendendo
às largas dezenas de tabernas que então existiam por estas bandas, dá para
pensar se aqueles enólogos ao final do dia ainda conseguiam dar conta do recado.
Foi
o meu pai que me contou hoje mais esta faceta da nossa terra e, ao questioná-lo
sobre o estado dos homens, o meu pai não teve duvidas ao responder-me que se
tratava de homens muito habituados a beber e que aguentavam muito.
Se
assim era ou não, não faço ideia, o que me parece é que ao final de um dia de
provas o vinho já deveria ser todo muito bom, ou muito mau. Digo eu!...
Rui
Canas Gaspar
2016-março-26
www.troineiro.blogspot.com
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