Faltavam paredes em
Setúbal para afixar tantos cartazes
Num
destes dias, a propósito de uma conversa com alguém que tinha de afixar uns
cartazes e sentia alguma dificuldade dado que não queria sujar paredes,
lembrei-me de quão diferentes eram aqueles anos pós revolução 25 de abril de
1974.
Logo
após a revolução a proliferação de informação veiculada pelos cartazes era de
tal ordem que as localidades portuguesas debatiam-se com falta de paredes para
colar tantos cartazes partidários e pintar tantos murais. Setúbal, naturalmente,
não era exceção com enormes áreas urbanas totalmente forradas a papel.
Francisco
Lobo, o comunista setubalense que então liderava a Câmara Municipal, viu-se um
dia a braços com uma insólita situação.
No
dia 1 de julho de 1975, ocorreu um incidente entre a Direção do Coral Luísa
Todi e o Partido Socialista, devido ao facto de alguém do Coral ter colocado
numa das paredes da cidade, um cartaz onde se anunciava determinado evento a
levar a efeito na cidade.
A
“gravidade” advinha do facto desse cartaz do Coral Luísa Todi ter sido afixado
precisamente em cima de outros que já lá estavam na mesma parede e pertencentes
ao Partido Socialista.
A
Câmara Municipal, como era corrente na época, foi instada a tomar medidas
contra este “atentado à democracia” porque até se constava que a direção da
instituição tinha simpatias politicas mais consideradas à direita.
Na
sequência deste acontecimento um grupo de elementos ligados à juventude do P.S.
irrompeu pelo edifício dos Paços do Concelho, dando murros nas paredes do
corredor e gritando na zona onde se encontrava o gabinete da presidência.
O
coordenador do Partido Socialista, na altura Francisco Barbeiro, pediu então uma
reunião com Francisco Lobo e desse encontro resultou que como forma de acalmar
os ânimos a Câmara deveria emitir um comunicado condenando o acto do Coral por
atentado à Democracia.
Isso
não deve ter agradado à direção do Coral Luísa Todi que também quis ser ouvida,
tendo então apresentado como justificação para o seu acto o facto dos cartazes
do Partido Socialista se referiam a um acontecimento já passado e à falta de
paredes disponíveis na cidade para afixação dos seus cartazes, lamentando o sucedido.
E
assim, depois da tempestade política devido à colagem dos cartazes e após os
devidos esclarecimentos, a que não foi alheio o comunicado da Câmara, a vida
voltou a decorrer de forma calma em Setúbal e os cartazes a serem colados onde houvesse
um pouco de parede para tal.
Rui
Canas Gaspar
2016-março-27
www.troineiro.blogspot.com
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