Bem-vindos a bordo do Barco EVORA
Batizaram-me em 18 de julho de 1931 com o
nome de “EVORA” e sou alemão de nascimento, porém é ao povo português que
entreguei o meu coração desde que naquele dia de verão entrei nas águas do
Báltico. Com ele tenho convivido ao longo das dezenas de anos, iniciando-se a
nossa íntima relação logo após ter sido dado à luz no distante fiord de
Kiel, na Alemanha.
Já em pleno Inverno, encetei a viagem de
uma semana pelo Oceano Atlântico, nem sempre calmo, diga-se de passagem,
navegando desde o local do meu nascimento até Portugal. Por aqui tendo ficado e
trabalhado arduamente, ou não fosse eu um forte barco construído com chapas
recicladas de carros de combate utilizados na Primeira Grande Guerra.
Tive a grata missão de transportar as mais
diversas pessoas: umas de origem humilde, outras figuras importantes, de uma
para a outra margem do Rio Tejo, orgulhando-me de ser o barco que mais gente
passei de uma para a outra banda.
Todos gostavam de mim e eu próprio também
tinha muito orgulho na minha pessoa, não por ser narcisista, mas porque quando
jovem, era de facto bonito, o mais rápido no Tejo, muito asseado, o único que
aqui usava motor diesel.
Em 2016 farei 85 anos e tenho dividido
estes anos de vida navegando no Tejo entre luminosa Lisboa e o proletário
Barreiro e a bela azul “baía dos golfinhos” em Setúbal.
Os meus donos têm-se esforçado para que eu
me mantenha com o vigor dos meus verdes anos, mas mais do que isso que me
mantenha bonito e, garanto-vos, que nunca estive tão bem como estou agora.
Hoje sábado, dia 5 de março de 201,
iniciei as comemorações do meu vetusto aniversário e saí para o largo levando a
bordo meia centena de trabalhadores da PALMETAL que decidiram esconder-se a
bordo e surpreender um antigo administrador desta empresa que se aposentou,
oferecendo-lhe o passeio e um belo almoço a bordo e numa das mais belas baías
do mundo, a de Setúbal.
Dá para imaginar como se sentiu aquele
antigo gestor, com esta tão inusitada surpresa? Claro que não dá, só vendo!...
Como disse agora estou mais belo e
charmoso do que nunca e para além do agradável convés, disponho não de um mas de
dois belos e amplos salões onde recebo muito bem os meus convidados.
Para aqueles que me chamam de “Velho
Senhor do Tejo” ou de “Cisne Branco do Sado” apenas desejo que sejam bem-vindos
a bordo do Barco EVORA.
Rui Canas Gaspar
2016-março-05
www.troineiro.blogspot.com
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