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sábado, 5 de março de 2016

Bem-vindos a bordo do Barco EVORA




Batizaram-me em 18 de julho de 1931 com o nome de “EVORA” e sou alemão de nascimento, porém é ao povo português que entreguei o meu coração desde que naquele dia de verão entrei nas águas do Báltico. Com ele tenho convivido ao longo das dezenas de anos, iniciando-se a nossa íntima relação logo após ter sido dado à luz no distante fiord de Kiel, na Alemanha. 
Já em pleno Inverno, encetei a viagem de uma semana pelo Oceano Atlântico, nem sempre calmo, diga-se de passagem, navegando desde o local do meu nascimento até Portugal. Por aqui tendo ficado e trabalhado arduamente, ou não fosse eu um forte barco construído com chapas recicladas de carros de combate utilizados na Primeira Grande Guerra. 
Tive a grata missão de transportar as mais diversas pessoas: umas de origem humilde, outras figuras importantes, de uma para a outra margem do Rio Tejo, orgulhando-me de ser o barco que mais gente passei de uma para a outra banda.
Todos gostavam de mim e eu próprio também tinha muito orgulho na minha pessoa, não por ser narcisista, mas porque quando jovem, era de facto bonito, o mais rápido no Tejo, muito asseado, o único que aqui usava motor diesel. 

Em 2016 farei 85 anos e tenho dividido estes anos de vida navegando no Tejo entre luminosa Lisboa e o proletário Barreiro e a bela azul “baía dos golfinhos” em Setúbal.

Os meus donos têm-se esforçado para que eu me mantenha com o vigor dos meus verdes anos, mas mais do que isso que me mantenha bonito e, garanto-vos, que nunca estive tão bem como estou agora.

Hoje sábado, dia 5 de março de 201, iniciei as comemorações do meu vetusto aniversário e saí para o largo levando a bordo meia centena de trabalhadores da PALMETAL que decidiram esconder-se a bordo e surpreender um antigo administrador desta empresa que se aposentou, oferecendo-lhe o passeio e um belo almoço a bordo e numa das mais belas baías do mundo, a de Setúbal.

Dá para imaginar como se sentiu aquele antigo gestor, com esta tão inusitada surpresa? Claro que não dá, só vendo!...

Como disse agora estou mais belo e charmoso do que nunca e para além do agradável convés, disponho não de um mas de dois belos e amplos salões onde recebo muito bem os meus convidados.

Para aqueles que me chamam de “Velho Senhor do Tejo” ou de “Cisne Branco do Sado” apenas desejo que sejam bem-vindos a bordo do Barco EVORA.

Rui Canas Gaspar
2016-março-05

www.troineiro.blogspot.com

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