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sábado, 19 de março de 2016

Quem quer comprar em Setúbal a Casa do Corpo da Guarda?

Ainda o famoso poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage não sonhava vir a este mundo e já naquele espaço onde um dia iria ser erigida uma estátua para perpetuar a sua memória existia a Casa do Corpo da Guarda.

Praça do Sapal era assim a designação do amplo espaço, no centro de Setúbal, que após a colocação da estátua, custeada com dinheiro dos setubalenses e amigos brasileiros, passaria a ter a designação do famoso poeta.

Foi em 1650 que João Nunes da Cunha mandou erigir a Casa do Corpo da Guarda imóvel que viria a sofrer fortes danos com o terramoto de 1755.

D. João V mandou então proceder à remodelação do imóvel tal como o fez em relação ao outro seu vizinho onde funcionava a Câmara Municipal. Esse viria a ser destruído posteriormente por um incêndio e reconstruido graças ao talento do famoso arquiteto Raúl Lino.

A Casa do Corpo da Guarda é um singular edifício de grande beleza e de apenas dois pisos de onde se destacam os arcos de volta abatida. Viria a funcionar como dependência do Distrito de Recrutamento Militar até 1993.

Depois de ter perdido o interesse para os militares o edifício ficou como que abandonado durante uns 15 anos e logo as suas arcadas rapidamente se transformaram em urinol, local de prostituição e onde a droga se consumia e comercializava.

Um dia, alguém teve a feliz ideia de solicitar o uso do imóvel para ali estabelecer o Clube dos Oficiais de Setúbal, pretensão que foi deferida pelo Estado Maior do Exército e o imóvel passou a ter outro uso mais condigno com a sua vetustez.

O povo diz que “o que é bom acaba depressa” e como o “deus dinheiro” cada vez impera mais neste mundo o Estado sem se preocupar com a importância histórica, uso, ou com o significado afetivo para a população setubalense, mais não fez que colocar o imóvel à venda.

E assim o D.R. 2ª série, nº 200, de 13 de outubro de 2015, numa listagem de património militar coloca esta peça única a par de outras disponível para alienação, tal como o faz com o Moinho da Desgraça e outras “desgraceiras” de onde ressaltam os fortes de Albarquel, Outão e Casalinho.

Ora, como a Casa do Corpo da Guarda, pese embora tratar-se de um dos mais antigos e emblemáticos edifícios setubalenses, não está protegido por classificação que o proteja, até pode vir a acontecer que algum McDonalds ainda o venha a adquirir.

Sendo assim, aquele espaço que foi berço de honrados e valorosos defensores da nossa pátria, poderá vir a servir para que os big mac continuem a engordar alguns outros cidadãos, provavelmente menos valorosos.

A Câmara Municipal de Setúbal que tenha atenção a este assunto, para que daqui a algum tempo, não venha a fazer o mesmo que fez em relação ao Palácio da Comenda, vindo a correr atrás do prejuízo, como dizem os nossos irmãos brasileiros.

Rui Canas Gaspar
2016-março-19

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