Quem quer comprar em Setúbal
a Casa do Corpo da Guarda?
Ainda
o famoso poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage não sonhava vir a este mundo e já
naquele espaço onde um dia iria ser erigida uma estátua para perpetuar a sua
memória existia a Casa do Corpo da Guarda.
Praça
do Sapal era assim a designação do amplo espaço, no centro de Setúbal, que após
a colocação da estátua, custeada com dinheiro dos setubalenses e amigos
brasileiros, passaria a ter a designação do famoso poeta.
Foi
em 1650 que João Nunes da Cunha mandou erigir a Casa do Corpo da Guarda imóvel
que viria a sofrer fortes danos com o terramoto de 1755.
D.
João V mandou então proceder à remodelação do imóvel tal como o fez em relação
ao outro seu vizinho onde funcionava a Câmara Municipal. Esse viria a ser destruído
posteriormente por um incêndio e reconstruido graças ao talento do famoso
arquiteto Raúl Lino.
A
Casa do Corpo da Guarda é um singular edifício de grande beleza e de apenas
dois pisos de onde se destacam os arcos de volta abatida. Viria a funcionar
como dependência do Distrito de Recrutamento Militar até 1993.
Depois
de ter perdido o interesse para os militares o edifício ficou como que abandonado
durante uns 15 anos e logo as suas arcadas rapidamente se transformaram em
urinol, local de prostituição e onde a droga se consumia e comercializava.
Um
dia, alguém teve a feliz ideia de solicitar o uso do imóvel para ali
estabelecer o Clube dos Oficiais de Setúbal, pretensão que foi deferida pelo
Estado Maior do Exército e o imóvel passou a ter outro uso mais condigno com a
sua vetustez.
O
povo diz que “o que é bom acaba depressa” e como o “deus dinheiro” cada vez
impera mais neste mundo o Estado sem se preocupar com a importância histórica,
uso, ou com o significado afetivo para a população setubalense, mais não fez
que colocar o imóvel à venda.
E
assim o D.R. 2ª série, nº 200, de 13 de outubro de 2015, numa listagem de
património militar coloca esta peça única a par de outras disponível para
alienação, tal como o faz com o Moinho da Desgraça e outras “desgraceiras” de
onde ressaltam os fortes de Albarquel, Outão e Casalinho.
Ora,
como a Casa do Corpo da Guarda, pese embora tratar-se de um dos mais antigos e
emblemáticos edifícios setubalenses, não está protegido por classificação que o
proteja, até pode vir a acontecer que algum McDonalds ainda o venha a adquirir.
Sendo
assim, aquele espaço que foi berço de honrados e valorosos defensores da nossa
pátria, poderá vir a servir para que os big mac continuem a engordar alguns
outros cidadãos, provavelmente menos valorosos.
A
Câmara Municipal de Setúbal que tenha atenção a este assunto, para que daqui a
algum tempo, não venha a fazer o mesmo que fez em relação ao Palácio da Comenda,
vindo a correr atrás do prejuízo, como dizem os nossos irmãos brasileiros.
Rui
Canas Gaspar
2016-março-19
www.troineiro.blogspot.com
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