A festa de São Luís da Serra
No domingo seguinte à Páscoa,
comemora-se a Pascoela e é nessa altura que acontecem os tradicionais festejos junto
à capela de São Luís da Serra, implantada num maciço calcário, em pleno Parque
Natural da Arrábida, às portas de Setúbal, dando-se assim início aos
tradicionais círios e romarias setubalenses.
Daquele local com vista
desimpedida para toda a península de Setúbal e vale do Tejo o convívio entre os
festeiros é o mesmo que agregou em torno da antiga capelinha os seus
antepassados. Porém, a forma e as diversões do século XXI são naturalmente
diferentes.
Longe vão os dias das grandes
cavalhadas em que os homens montados nos seus burros mostravam a sua destreza e
de olhos vendado tentavam, com um varapau, partir uma bilha de barro, pendurado
num dos grandes pinheiros mansos.
Passados vão os tempos em que
dali partiam, ao final do dia, os felizardos a quem eram atribuídas gordas galinhas pelo seu
desempenho nos jogos populares.
E também longe vão os tempos em
que boa parte dos festeiros entravam em Setúbal, pelo Rio da Figueira, trocando
as pernas devido à enorme bebedeira e com o corpo cheio de arranhões devido aos
trambolhões que davam ao descer a serra, fruto daquele vinho tinto de Palmela
que dava volta à cabeça dos romeiros.
Neste aspeto a tradição já não
é o que era e hoje o convívio faz-se ao som da música de um qualquer artista
popular contratado para o efeito ou de algum rancho folclórico. Para servir o
povo está instalado um quiosque que vende bolos, sandes, sumos, cervejas e
águas engarrafadas.
Há meio século ainda acorriam
àquele lugar, a partir da cidade e das aldeias e vilas envolventes, a pé ou de
burro, grandes multidões que levavam os seus farnéis e se dispunham a passar um
bom dia de convívio a pretexto de homenagearem o protetor dos rebanhos.
Conta a lenda que certo dia
andando um pastor com o seu rebanho de ovelhas deixou tresmalhar os animais.
O dia chegou ao fim, a noite
caiu e o rapaz preocupado invocou São Luís da Serra para o ajudar a encontrar
os animais perdidas, prometendo-lhe ofertar um fato quando fosse homem.
Pouco depois, escutou o balido
das ovelhas e identificando o local onde se encontrava as foi buscar e levou-as
em segurança ao redil.
Quanto ao fato que prometeu
oferecer a São Luís não se sabe se o teria mandado fazer ao alfaiate ou se
ficou por costurar por falta das medidas adequadas.
Rui Canas Gaspar
2016-março-24
www.troineiro.blogspot.com
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