notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Setúbal acabou com a Inveja

Antoine Lavoisier, o químico francês, considerado o pai  da química moderna, um dia em que se sentiu mais inspirado teria afirmado a grande verdade: “ Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. De facto o homem tinha toda a razão, não se pode criar o que já foi criado!...

Provavelmente por isso, alguém, não sei quem, um dia também em que estava com propensão para os negócios teria aconselhado aos filhos : “comprem terrenos meus filhos, porque isso já não se fabrica”.

Já tinha reparado que neste final do ano o que restava da Inveja, em Setúbal tinha desaparecido, não aquela inveja que eu gostaria que fosse eliminada mas a outra aquela que ocupava um espaço na várzea de Setúbal, junto à Estrada dos Ciprestes.

Hoje estive no local, onde apreciei com mais pormenor a zona onde até há pouco existia a ampla casa daquela quinta, uma das  várias propriedades que outrora forneceram de verdes produtos hortícolas na nossa terra e que há muito se encontrava votada ao abandono.

Apreciei igualmente com mais pormenor uma das fotos captadas por mim num destes dias daquela e a outras quintas da nossa terra e confrontei com a imagem  captada neste último dia do ano de 2014.

É assim a vida! O senhor Lavoisier tinha, tem e continuará a ter toda a razão. A casa transformou-se num monte de entulho que irá servir de base a uma nova via, no lugar dela ficou o terreno, aquele que já não se fabrica e, por isso mesmo, terá um preço sempre valorizado dado tratar-se de um bem cada vez mais escasso.

Setúbal transforma-se, modifica-se, a Quinta da Inveja já era, o ser humano não mudará, o senhor Lavoisier não se atreveu a vaticinar tal coisa e, por isso mesmo, a quinta foi-se, mas a inveja infelizmente ficará.

Tenham um bonito ano azul, da cor do céu estrelado ou da tonalidade do belo Sado, façamos a nossa parte e sigamos o legado do grande cidadão do mundo que foi Robert Baden-Powell, fundador do escutismo: “Procuremos deixar este mundo um pouco melhor do que o encontramos”.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-31

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domingo, 28 de dezembro de 2014

E, como manda a tradição um Bom 2015

As estações de rádio davam conta naquele bonito dia de Verão, 27 de julho de 1970, que António Oliveira Salazar acabava de falecer, depois de um acidente doméstico que o levara a cair de uma cadeira de lona, quando gozava um período de férias no Forte Santo António no Estoril.

O acidente teria ocorrido em 3 de agosto de 1968 sem nunca se ter sabido se foi por descuido, desequilíbrio ou debilidade da cadeira, o facto é que o Presidente do Conselho de Ministros, ao cair bateu com a cabeça no pavimento de pedra e nunca mais recuperou até à sua morte, dois anos depois.

Naquele tempo, depois do acidente do ditador eram muitos os que pensavam que o país iria finalmente mudar de rumo e que a guerra que Portugal mantinha com os movimentos de libertação nas suas colónias de Angola, Moçambique e Guiné iria acabar.

Mas não, um ano depois, em 1969, eu e mais uns milhares de jovens portugueses fomos incorporados no serviço militar obrigatório. E passado um ano, precisamente no dia 27 de julho de 1970, enquanto uns choravam e outros abriam garrafas de espumante, eu estava num cais em Lisboa, sem saber se o navio misto de carga e passageiros, “Ana Mafalda” construído pela CUF (Companhia União Fabril) em Lisboa, no ano de 1951, partiria ou não rumo à Guiné.

Naquele cais a despedir-se dos jovens militares estavam alguns familiares, não muitos, porquanto éramos poucos os que íamos em rendição individual de outros camaradas que tinham acabado o seu tempo de comissão militar.

Recordo o porte elegante de minha mãe, de lágrima ao canto do olho, o rosto fechado e tenso do meu pai, velho lobo-do-mar, olhando fixamente para aquele navio que estava prestes a levar o seu filho para um teatro de guerra de onde não saberia se voltaria vivo. Até porque estava na nossa memória recente o falecimento de outros jovens setubalenses naquelas guerras…

Havia a esperança de que com o anúncio da morte do ditador o barco não largasse amarras daquele cais, mas não, o barco partiu, Salazar foi sepultado, a guerra acabaria somente quatro anos depois graças à revolução de 25 de abril de 1974.

Quanto a mim, fui, vim e ainda por cá ando depois de ter vivido a experiencia militar, uma de entre muitas outras que tenho vivenciado nesta passagem por este nosso belo planeta azul, prestes a completar mais uma volta completa em torno do astro rei.

E, porque ainda por cá andamos nesta jornada terrena, desejo como manda a tradição, um Bom 2015, com ou sem passas de uva, vestindo ou não cuecas de cor azul, como igualmente manda, ou mandava, a tradição naqueles tempos em que o Salazar morreu.

Rui Canas Gaspar

2014-dezembro-28
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

No poupar é que está o ganho

A época natalícia é um período em que particularmente os comerciantes procuram fazer mais negócios, por vezes até numa vã tentativa de poder salvar um mau ano em que as receitas das vendas mal chegaram para cobrir as despesas.

Não é pois de admirar que tenha sido colocado ênfase por parte de pequenos comerciantes e artistas que vivem dos seus trabalhos artesanais no pequeno mas simpático mercado de Natal montado na Praça do Bocage em bonitos quiosques e pequenas bancas de venda.

Logo no início daquele evento escutei da parte de alguns destes comerciantes a sua preocupação com o custo do aluguer destes espaços, em função das vendas espectáveis.

Não sei se o negócio correu de feição para todos aqueles homens e mulheres que tentam sobreviver no meio de uma tempestade que a todos afeta, no entanto, a minha opinião é que a iniciativa é bem interessante, movimentando muitas pessoas que não se reveem no comércio praticado nas grandes superfícies comerciais.

A Praça do Bocage ficou bem agradável, os quiosques são simples mas simpáticos e ficam muito bem compostos com o tipo de iluminação natalícia proporcionada pelas micro lâmpadas.

Sei de pessoas que vindas de outras localidades aqui se deslocaram com o objetivo de visitar este espaço e adquirir algumas das prendas que tradicionalmente oferecem pelo Natal.

Estou convicto que os custos com a instalação deste espaço poderão ser minorados no próximo ano, se os seus responsáveis recorrerem a um pequeno investimento, de pouco mais do que meia dúzia de euros, ou seja a aquisição de um programador  (relógio) para acender e apagar as luzes.

É que na luminosa manhã de Natal, pelas 11,00 horas, passei por esta praça, agora com os quiosques fechados, mas com mais de uma dezena de holofotes desnecessariamente acesos.

Não sei quantos dias e quantas horas foram desperdiçadas em energia elétrica. Sei que ela é cara e que cada holofote  gastará no mínimo 250 w.

Como os custos diretos e indiretos serão necessariamente imputados a quem utiliza o espaço, basta que se desligue a iluminação quando ela não é necessária para se poupar não sei quanto, mas que não será pouco.

Com a poupança que se fará nos gastos com energia desperdiçada, poderão ser diminuídos os custos suportados pelos comerciantes e estes por sua vez, mantendo as mesmas margens de lucro, poderão diminuir o preço dos seus produtos ao cliente final.

Já lá pelo meu velhinho bairro de Troino se dizia desde os meus tempos de menino: “no poupar é que está o ganho” e julgo que não estamos mais em época de esbanjamento, de desperdício e de percas, nem que sejam a das nossas já fracas energias. Digo eu…

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-25

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A propósito do rótulo de uma velha lata de conserva…

Numa pilha de embalagens quase desfeitas, de antigas latas de conserva, amontoadas sobre uma velha palete de madeira, ainda se consegue ver o rótulo de uma dessas latas de conserva que foram fabricadas em Setúbal e cujo lote se destinava aos consumidores norte-americanos.

Passados algumas dezenas de anos sobre o fabrico e embalamento deste lote, e depois de dois incêndios ocorridos  nas antigas instalações conserveiras, somos levados a concluir que alguém “ficou a arder” neste, ou no outro lado do Atlântico, onde o referido lote nunca chegou.

É que as conservas destinadas à Season Brand, sedeada em Nova Jersey, nunca lá chegaram, embora a empresa importadora ainda hoje continue a funcionar naquele Estado dos Estados Unidos da América e a marca ainda exista.

O que não existe a trabalhar é uma única fábrica de conservas de peixe, das largas dezenas que chegaram a laborar em Setúbal e onde esta deliciosa conserva do bom peixe da nossa costa foi outrora fabricada.

O abandono das instalações, as intempéries, o vandalismo e os fogos não foram suficientes para apagar completamente a memória de uma indústria e de um local onde outrora laboraram várias centenas de operárias especializadas nas diversas tarefas que culminariam com o nosso delicioso peixe a chegar à mesa de consumidores americanos.

Hoje, estas coisas  fazem  parte da história desta terra de gentes do rio e homens do mar, cujas memórias devem ser preservadas e passadas aos nossos filhos e netos, que nunca ouviram o alegre alarido dos ranchos de conserveiras, caminhando apressadas a caminho das fábricas que as chamavam ao trabalho com o som estridente das suas potentes sirenes.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-25

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sábado, 20 de dezembro de 2014

Tenham vergonha!

Falei aqui, já lá vão alguns dias, sobre o estado deplorável em que se encontram os espaços exteriores do Arquivo Distrital de Setúbal, sedeado nas Manteigadas, zona nascente de Setúbal.

Um amigo confidenciou-me que a zona relvada, sempre bem aparada e tratada, junto à estrada é da responsabilidade da Junta de Freguesia de São Sebastião.

A Escola Profissional, está com os dias de vida contados, dado tratar-se de uma Fundação. De vez em quando lá vai levando algum tratamento no que se refere ao seu aspeto, embora se tema pelo futuro das instalações se não forem rapidamente ocupadas com alguns serviços após o encerramento como estabelecimento escolar.

Quanto aos espaços exteriores do ADS nem o presidente da Junta de Freguesia nem a Presidente da Câmara, estão na disposição de gastar lá um cêntimo dado o equipamento estar na alçada da tutela da Cultura, logo caberá ao Governo a sua manutenção, entidade que alega falta de verba para o fazer.

E como nesta história todos têm razão lá vamos nós contribuintes pagando a custo os nossos pesados impostos, taxas e tudo o que demais vão inventando para nos levar os míseros euritos para depois vermos o património de todos nós ser delapidado, vandalizado e abandonado (vejam por exemplo as bocas de incêndio junto ao ADS a serem roubadas aos bocados…) porque suas excelências simplesmente não se entendem sobre um espaço que é público.

Parece que alguém vai ter de organizar um evento turístico para aquelas bandas de forma a trazer alguns distintos convidados até ao local, pode ser que assim haja alguma vergonha na cara e se disponham a enviar para ali algum cantoneiro de limpeza.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-20

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Era eu um jovem que tinha acabado poucos dias antes de cumprir o serviço militar obrigatório, servindo uma comissão militar de 27 meses na Guiné, quando escrevi para o jornal “O Setubalense”, o texto que abaixo reproduzo, publicado naquele jornal em 22 de dezembro de 1972.

Os anos passam mas as memórias ficam e, não passa um Natal sem que deixe de recordar aquela noite de consoada partilhada com os meus camaradas de armas no aquartelamento da pequena povoação de Bijene, vindo-me à mente aqueles que ainda hoje se encontram nestas circunstâncias num qualquer recanto do mundo.

 “ Repicam os sinos
Troam os canhões
É NATAL !
O céu azul-escuro, todo estrelado, convidava ao amor!

A quietude da noite, a brisa suave e quente abanava levemente as palmeiras e mangueiros. Como era diferente aquela noite de Natal!

Habituados como estávamos, a ter nesta quadra o tempo frio e chuvoso, aquela brisa agradável despertava em nós sentimentos diferentes. Éramos um punhado de jovens aquartelados numa pequena povoação algures na fronteira norte da Guiné.

Ensaiamos algumas canções natalícias, escutistas e populares, com os nossos camaradas. Decoramos as toscas mesas com telas de sinalização, fizemos estrelas com invólucros de maços de cigarros, colamos postais de “boas festas” e armamos uma árvore de natal, que não era pinheiro mas sim um mangueiro.

Sentimentos comuns nos uniam; a fraternidade, a solidão e a bela quadra festiva que estávamos vivendo.

Pouco antes da meia noite, começamos a preparar a ceia.  Garrafas de bebidas várias iam surgindo, iguarias próprias da quadra eram postas em comum. Oh! Como é belo viver em paz e ter este sentimento de fraternidade… Porém, para além de toda a beleza, de toda a paz aparente, os espíritos de todos estavam alerta e, de vez em quando, o olhar desviava-se para a cerca de arame farpado por detrás da qual estava o mato, a bolanha, o perigo.

Lá longe, a muitos milhares de quilómetros, festejava-se a festa da família, família à qual todos pertencíamos, e que naquele momento, naquelas longas horas, o nosso pensamento voava para o conforto do lar. O nosso corpo estava em África, mas os nossos corações estavam na Metrópole.

Na Metrópole, onde os sinos convidavam à oração de Natal, onde os cânticos belos convidavam as pessoas a serem boas (pelo menos nesse dia), e nós, naquela pequena povoação, sem sinos e sem cânticos a convidar ao amor, teimávamos em aliar aquela Santa Noite à Paz.

Meia-noite. Na Metrópole, repicavam os sinos. Os lares festejavam o Natal, o nascimento de Jesus, aquele que veio ao mundo para nos trazer a paz. Na terra sem sinos, onde nos encontrávamos, três potentes obuses abriam fogo.

As diabólicas “bocas do inferno” faziam ouvir a sua voz poderosa, arrasando com a sua força brutal, todos os meios de vida ao seu alcance.

E nós, mesquinhos e simultaneamente terríveis seres, cantando cânticos de paz e amor à mesma hora em que os sinos repicavam, fazíamos com que aquelas terríveis armas fizessem ouvir o seu estrondo medonho, a fim de permitirem que as nossas pobres gargantas cantassem em paz tão lindos cânticos de amor.

A noite de Natal findou. Aleluia! Jesus nasceu, e nós não fomos atacados. Estávamos vivos!

Aqui, na Metrópole, cantam os sinos! Todos cantamos, de uma forma ou de outra. A roda giratória não para; uns que vão outros que vêm, ficando no conforto do lar.

Pensando nos que lá estão, e que não ouvem os sinos, juntamos a nossa voz aos que, de todo o coração vos desejam Santo Natal.”

Rui Canas Gaspar
11-dezembro-2014

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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Arquivo Distrital de Setúbal é para ficar no meio do mato?

Provavelmente não serão muitos os setubalenses que alguma vez entraram neste imponente edifício, propriedade de todos nós, e onde se guarda grande parte da memória coletiva do povo da nossa região.

Trata-se do Arquivo Distrital de Setúbal, um moderno e enorme edifício inaugurado em 2001 na Rua Professor Jorge de Macedo, nas Manteigadas, zona nascente da cidade de Setúbal, um local que é uma das mais importantes fontes informativas da nossa história familiar, empresarial, religiosa, desportiva, em suma do dia-a-dia do nosso passado coletivo.

Ao que parece, os serviços que asseguram tão valioso espólio documental deveriam ter um quadro de pessoal na ordem das duas dezenas de funcionários estão a operar com menos de 50% do pessoal.

Mesmo assim, constata-se que estamos em presença de pessoas competentes, simpáticas e solícitas, sempre prontas a ajudar os utentes de forma eficiente.

Em contraste com o moderno e funcional edifício reparamos que os espaços exteriores que o rodeiam estão votados ao abandono. Os jardins deram origem ao matagal, as árvores definham e as palmeiras atacadas pelo escaravelho vermelho completam o triste cenário.

Esta é uma situação incompreensível e que nada dignifica os nossos autarcas, ainda mais numa cidade que tanto foco tem colocado na cultura e nos respetivos equipamentos que têm vindo a ser colocados ao dispor da população, em quantidade e em qualidade.

A situação é tanto mais caricata quando a poucos metros de distância, junto ao bairro, à beira da estrada que liga Setúbal ao Faralhão podemos apreciar a zona verde sempre bem tratada, sinal de que por aquelas bandas existem jardineiros e que os serviços até funcionam.

Sendo assim, porque não fazer uma “barrela” e levar até à zona do nosso Arquivo Distrital, uma equipa de funcionários do serviço de limpeza e jardins da Junta de Freguesia de São Sebastião, que julgo ser a autoridade responsável por esta área, e que munidos de desbastadoras de mato, alguns ancinhos e umas pás pusessem termo ao deplorável estado em que aquele local se encontra.

Depois, bem depois, era só manter com o recurso ao corta relvas e a umas vassouradas.

É que termos um venerável senhor, elegantemente vestido de smoking e com os sapatos velhos, rotos e por polir não me parece que seja a melhor forma de o apresentar a quem quer que seja. A não ser que se pretenda que o Arquivo Distrital de Setúbal seja referenciado como um edifício que esteja localizado no meio do mato, algures nas Manteigadas.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-09

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

No P.U.A. há perigo para a navegação

No Parque Urbano de Albarquel a Câmara Municipal de Setúbal  adverte que a zona de praia é perigosa, que a mesma tem movimentação de embarcações e que para além disso as correntes marítimas ali são muito fortes, motivos mais que suficientes para todos termos muito cuidado, e quando digo todos estou a referir-me inclusivamente aos próprios Serviços Municipais.

De facto, o mar que tudo leva e tudo trás, brindou o areal do Parque Urbano de Albarquel com um enorme tronco, arrastado sabe-se lá de onde, e ali ficou na areia, até que uma qualquer maré o puxe de novo para água e o leve para algures.

Se há perigos que os homens do mar tanto temem é exatamente este dos objetos de grandes dimensões que se encontram à deriva, sendo que o embate numa embarcação pode ser fatal. Foi esse mesmo reparo que o meu pai, velho e experiente lobo-do-mar, fez questão de mencionar quando viu o perigo que ali se encontrava.

Não sei a quem cabe a responsabilidade de prevenir um eventual acidente motivado por aquele enorme tronco. Se à Câmara Municipal, se à A.P.S.S. o que sei é que uma qualquer maré poderá arrastá-lo para as águas do Sado e um qualquer barco poderá colidir com ele.

Parece que pelas nossas bandas não temos muito o hábito de prevenir, mas quando o acidente acontece corremos com toda uma panóplia de meios e recursos humanos quais operacionais sempre prontos e aptos a resolver situações por mais complicadas que sejam.

Mas meus amigos governantes, vocês que sabem a quem compete resolver este tipo de situação, tratem dela quanto antes, não vá acontecer o pior e depois não poderão argumentar com uma daquelas desculpas esfarrapadas a que já nos habituamos a escutar e que o nosso povo costuma rotular de “desculpa de mau pagador”.

Qualquer funcionário dos vossos Serviços, munido de motosserra, poderá cortar o tronco e removê-lo dali antes que o mar o faça com consequências imprevisíveis.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-05

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Setúbal é uma cidade onde se pode sair à noite em segurança

Dizem aquelas pessoas que trabalham durante a noite em Setúbal, que esta é uma cidade segura, bem vigiada e bem patrulhada pelas forças de segurança, com frequentes operações stop durante a noite e com as entradas e saídas da cidade bem controladas.

É certo que todos compreendemos que não pode haver um polícia em cada esquina e por isso eu defendo que as câmaras de vigilâncias instaladas na via publica são um excelente meio dissuasor.

Hoje contou-me alguém uma curiosa experiencia a que assistiu, esta semana, e em que foi interveniente uma patrulha da Polícia de Segurança Pública. Pelo seu ineditismo não resisto a partilhar aqui.  

Pouco passava da uma da manhã quando uns “rapazinhos” resolveram ir fazer rali para o novo parque de estacionamento recém-construído pela APSS, junto aos cacifos dos pescadores, frente ao Bowling de Setúbal.

O automóvel onde se deslocavam passava velozmente entre as autocaravanas que ali estavam estacionadas, como se fossem pinos, com um chiar de pneus impressionante, a que se juntava o roncar do motor, a gritaria dos ocupantes e a música altíssima do rádio da viatura.

Um carro patrulha da P.S.P. chega com o “pirilampo” desligado, apaga as luzes e bloqueia a saída do parque. Entretanto o condutor e acompanhantes não deram pela chegada do carro patrulha e param a sua viatura, dentro do parque, frente ao “ÉVORA” com a música altíssima e fazendo uma gritaria que certamente incomodaria não só os turistas estrangeiros que ali pernoitavam mas também quem estivesse nas redondezas.

Qual não foi o espanto do motorista e ocupantes da viatura, quando sem se terem apercebido tinham os agentes da P.S.P. de volta do carro a mandarem-nos sair para identificação, provavelmente a convidarem-nos a fazer algum teste de alcoolémia e, muito provavelmente, a autuarem o condutor pelo excesso de ruido que estava a fazer na via pública durante a noite.

Se é frequente ouvirmos queixas de falta de patrulhamento por parte da P.S.P., especialmente diurno, se é um facto que o vandalismo grassa nesta e noutras cidades, também não deixa de ser verdade que a segurança dos setubalenses está de certo modo assegurada por profissionais que zelam pelo bem-estar dos cidadãos.

Que o digam aqueles que por for questões de trabalho ou de lazer têm de se deslocar à noite pela cidade, sobretudo junto às artérias de entrada e saída, sem esquecer o ponto crítico de controlo que é a zona da “rotunda dos golfinhos”.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-04

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A mal-educada Ofélia lá se vai safando

O agradável aroma do saboroso peixe da nossa costa a assar no carvão, a brisa marítima que sopra vinda do oceano e o estridente piar das gaivotas ali junto à Doca dos Pescadores, fazem abrir o apetite a qualquer mortal que passe por aquele magnífico local, à beira do rio azul.

Quando se aproximam as 13,00 horas os restaurantes daquela zona começam a estar bem movimentados e os experientes assadores não dão mãos a medir para servir a clientela.

Há os clientes esporádicos, há os turistas e há também os que por este ou aquele motivo são habituais.

Costumo frequentar um desses estabelecimentos e tal como eu todos já nos habituamos a ver chegar uma senhora loura, entrar, sentar-se pedir o seu peixinho grelhado, comer, pagar e sair, provavelmente alguma empresária setubalense, alguma executiva, ou alguém que por força das circunstancias tem de comer fora diariamente.

Mas se todos os frequentadores do restaurante pedem delicadamente o seu peixe assado, à mesma hora chega outra cliente, que não está na disposição de esperar e é tal a confusão que ali arranja que o assador corre logo a atendê-la.

O mais curioso é que a Ofélia, nome porque é já conhecida não pede o peixe assado e, como se estivesse num qualquer restaurante japonês, come-o cru, tal como de sushi se tratasse.

Mas mais. A Ofélia não quer estar em espaços fechados, mal o assador lhe entrega o peixe e lá vai ela comer para a esplanada e até para cima dos carros, de preferência topo de gama…

Mas, esta morenaça é de tal calibre que depois de comer, vai-se embora sem se despedir ou agradecer e, curiosamente, nunca a vi pagar pelo almoço que lhe é servido.

De facto, parece que ser arruaceira e mal-educada às vezes dá resultado é que já vi situações idênticas lá para os lados da Segurança Social e até no Hospital de São Bernardo, pelo que a gaivota Ofélia não será nenhuma exceção à regra.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-04

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Parece que chegou o princípio do fim do projeto de devolução do rio à cidade

O Parque Urbano de Albarquel é provavelmente o espaço verde mais procurado e acarinhado pela população de Setúbal.

Inaugurado em 2008, com quatro hectares, o parque encontra-se no topo poente de um espaço que faz parte da devolução do rio à cidade, uma área que já se estende praticamente por toda a margem norte do Sado frente a Setúbal.

Para que o programa seja concluído e, feita a ligação entre a Doca dos Pescadores e a Toca do Pai Lopes, falta apenas demolir as antigas instalações industriais da “Sadonaval” localizadas entre a Praia da Saúde e o PUA. Trata-se de uma zona prevista para a construção do “Terminal 7” um espaço polivalente de apoio às atividades náuticas.

Alguns setubalenses mostram-se céticos no respeitante à desocupação deste espaço por parte daquela empresa e com a construção do novo edifício.

Curiosamente, hoje (03-dez-2014) reparei numa placa afixada naquele local dando conta de que no local funciona um centro náutico municipal.

Certamente que a Autarquia não iria ali colocar esta placa se não tivesse tomado posse do edifício, pelo que este pequeno passo poderá representar o princípio do fim de um projeto acarinhado pela grande maioria dos setubalenses que amam como ninguém o seu belo rio azul.

Aguardemos o desenrolar desta boa notícia que certamente passou despercebida de muitos dos utentes daquele espaço e que nos surpreendeu pela positiva.

Rui Canas Gaspar
2014-dezembro-03

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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

“Quando chegar a hora da ação o tempo de preparação já passou”

Ao final da manhã de hoje, 28 de novembro de 2014, ainda se podiam ver dezenas de trabalhadores da Autarquia sadina e muitos sapadores bombeiros a remover toneladas de areias barrentas e lixo arrastado pela corrente desde a estrada de S. Luís, para a estrada dos arcos, na zona do Bairro de Montalvão, estendendo-se a devastação até à Avenida 22 de Dezembro.

Na retaguarda desta frente de trabalho, os Sapadores Bombeiros de Setúbal, com um camião tanque daquela Companhia procediam ao moroso trabalho de lavagem do pavimento.

As zonas habitualmente mais castigadas pelas cheias e que se temia virem a ser afetadas efetivamente não o foram, tendo as águas vindas da Ribeira do Livramento mais as captadas na cidade e canalizadas para a mesma sido escoadas normalmente.

O problema desta vez deu-se, ao que parece, devido a entupimento na zona de entrada do encanamento da ribeira que vindo da Serra de S. Luís passa junto ao Rio da Figueira, daí que a zona do novo McDonalds fosse das primeiras a ser inundada quando ainda não se tinha atingido o pico da chuvada.

Se, de facto, os Serviços da Autarquia responderam com prontidão e em força numa atitude reativa o mesmo não se poderá dizer em relação à prevenção que deixa muito a desejar, e isto não é criticar por criticar, basta perder-se uns minutos e ir “meter a cabeça” nas duas principais linhas de água que vêm sair no centro da cidade, para verificar o seu estado.

Por outro lado, se dermos uma volta pela cidade analisando o estado das sarjetas, compreenderemos ainda melhor o porquê das coisas acontecerem.

Desta vez também não vamos culpabilizar o Sado porque o coitado não teve nada teve a ver com o assunto, porquanto as águas podiam escoar para o mesmo, dado que a maré já estava na vazante.

Há muito que aprendi e tento colocar em prática na minha vida, embora nem sempre o consiga fazer: “Quando chegar a hora da ação o tempo de preparação já passou”. Era bom que outros meus conterrâneos, governados e governantes tentassem fazer o mesmo assim podia ser que se evitassem males maiores.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-28

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Repondo a verdade histórica sobre a Igreja em Setúbal

Ultimamente tenho andado às voltas com a investigação de elementos que me permitam compilar os necessários elementos de forma a poder apresentar algo sobre a história das mais de nove décadas de vida de uma coletividade setubalense, o São Domingos Futebol Clube.

Na busca de elementos históricos, hoje retirei da minha biblioteca o livro da autoria de Francisco Lobo, intitulado História de Setúbal 1974 a 1986, editado em 2008, tendo por objetivo dar uma olhadela e ali tentar encontrar algo para o trabalho que tenho em mãos.

Logo após a revolução de 25 de abril de 1974 era Francisco Lobo Presidente da Câmara Municipal de Setúbal e eu servia como Secretário Regional Financeiro do Corpo Nacional de Escutas. Nesse tempo, chegamos a ter conversações sobre a sede regional adquirida pelo C.N.E., instalações que ele conjuntamente com os mais altos dirigentes escutistas e líderes políticos e religiosos setubalenses haveriam de inaugurar.

Ainda hoje, quando nos cruzamos na rua reconhecemo-nos e cumprimentamo-nos  respeitosamente, até porque o tenho como pessoa de bem.

Ao folhear o livro deparo-me com uma situação deveras surpreendente e atendendo à obra que é, convém que haja o devido esclarecimento para que a História de Setúbal, não fique deturpada, pelo menos neste aspeto.

Na página 153 sob o título A Proliferação das Religiões em Setúbal podemos ler o seguinte:

“Até ao 25 de Abril de 1974 a única religião autorizada no País era a Católica. Depois dessa data surgiram as mais diversas religiões existentes no Mundo, assim como seitas religiosas que foram ganhando alguns adeptos. Tal abertura preocupou os responsáveis pela Igreja Católica, preocupação esta bem evidenciada nos discursos da altura.

Algumas destas seitas têm objetivos fundamentalmente políticos, como os desenvolvidos pelos Mourmons  - Nosso Senhor Jesus Cristo e dos Santos dos Últimos Dias -  cujo seu mentor, um americano, não esconde a finalidade de incluir nos propósitos do movimento o combate ao comunismo em qualquer parte do mundo.

A chegada a Setúbal desta seita verificou-se nas proximidades dos anos oitenta, quando se instalaram numa das vivendas da Avenida General Daniel de Sousa.  Um dia pediram-me uma reunião para se apresentarem. Da conversa havida tomei conhecimento de alguns aspectos da sua formação organizativa.

O trabalho de conversão de fiéis, em cada País, é feito por grupos de jovens provenientes de outros países que procuram atrair adeptos, fundamentalmente, numa auscultação porta-a-porta. A sobrevivência das organização resulta, unicamente, da comparticipação dos fiéis. Tudo isto foi-me dito nessa visita. Tal declaração levou-me a perguntar-lhes quantos fiéis já tinham em Setúbal, ao que me responderam que tinham à volta de 180.

Como é que com tão poucos fiéis conseguiram adquirir uma vivenda luxuosa, andam bem vestidos, e bem alimentados, como parece?, perguntei, acrescentando – se é aquilo que consta, organizações, principalmente dos EUA, que têm como  objetivo o combate ao comunismo, são os grandes suportes financeiros desta religião, não é verdade? Claro que a conversa não foi mais além.”

O texto continua referindo-se aquele antigo Presidente da Câmara, membro do Partido Comunista, a uma outra passagem, desta vez com os membros da fé Bahá’i.

No que se refere à A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, cujos membros também são conhecidos por mórmons, devido ao Livro de Mórmon que usam como complemento da Bíblia Sagrada, convém dizer que se trata de uma Igreja restauracionista organizada em 6 de abril de 1830 que só teve autorização para entrar em Portugal após a revolução de 25 de abril de 1974 e que chegou a Setúbal em 27 de agosto de 1978, ocorrendo as primeiras reuniões numa casa existente na Quinta de S. Jerónimo, à saída de Setúbal.

No dia 1 de junho de 1980 a congregação inauguraria as instalações na Avenida General Daniel de Sousa, adquiridas pela Igreja, com fundos próprios, um local onde ainda hoje funciona uma das congregações SUD setubalenses.

De notar que os membros setubalenses (nem todos os filiados portugueses juntos) alguma vez teriam capacidade financeira para adquirir estas e outras instalações, porém a política de aquisições imobiliárias para as congregações espalhadas por todo o mundo é gerida a nível mundial pela sede da Igreja.

Depois, é bom notar que o clima que se vivia em Portugal nesses conturbados anos pós revolução e numa altura de “guerra fria” entre os EUA e a então União Soviética era propícia a este tipo de pensamento por parte da generalidade da população e particularmente pelos filiados no Partido Comunista.

Se os jovens missionários mórmons (oriundos de Portugal e dos mais variados países do mundo) não conseguiram elucidar devidamente o então Presidente da Câmara, fica agora pelo menos esta achega para que a verdade histórica seja reposta.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-11

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma boa iniciativa condenada a morrer à nascença

A ideia já aplicada noutros países até que nem é má de todo, eu próprio também tive oportunidade de a aplaudir, embora discordando do local onde foi implementada e da época do ano em que teve lugar.

Sempre defendi e continuo a estar convencido que uma pequena biblioteca, tipo contentor multiusos que a C.M.S. dispõe, seria o ideal e que a melhor altura para incrementar o programa seria a Primavera e de preferência nos nossos parques urbanos, nomeadamente o P.U.A.

Poucos dias após a implementação dos clips nos bancos da Avenida Luísa Todi, já os mesmos estavam completamente inoperacionais sem que muitos setubalenses alguma vez tivessem dado conta de tal inovação.

Virados, revirados, amolgados, completamente inoperacionais é o seu estado poucos dias após serem colocados nos bancos da avenida Luísa Todi.

Todas as cidades tem muita gente boa e também alguns outros cidadãos que não valem rigorosamente nada, porquanto não sabem nem querem viver em sociedade. Mas o mais grave é que se eles tem esse direito também tem o dever de respeitar as opções dos outros, o que não fazem, daí o vandalismo gratuito que assistimos um pouco por todo o lado.

Sendo assim, a bonita ideia da troca de livros, nos moldes em que foi implementada, não passou disso mesmo, de uma bonita ideia.

Temos de ser práticos e ter a noção real do mundo que nos rodeia e, como tal, implementar ou não, determinadas ações no terreno, sobre pena de estarmos a desperdiçar recursos que não são assim tão abundantes.

Por isso, volto à carga, no sentido de ser implementada uma pequena biblioteca, com ou sem troca de livros, a começar no P.U.A.. E, porque não se trata de um serviço assim tão trabalhoso ou complicado o contentor, armário ou o que se achasse por bem, poderia ficar localizado junto às instalações sanitárias. A pessoa que lá está de serviço poderia fazer a entrega e recolha dos livros, “sem cartões, nem complicações” como anunciado num bem conseguido slogan publicitário.

Não perco a esperança de ver esta iniciativa implementada, porque é sabido da tremenda influencia que um bom livro pode ter na vida de qualquer pessoa, a par do simples e agradável prazer de ler.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-24

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domingo, 23 de novembro de 2014

Memórias do Convento de São Francisco

No dia 15 de dezembro de 1963, alguns moradores acordam sobressaltados, com as primeiras grandes pedras de parte das antigas muralhas que protegiam a cidade de Setúbal, a desabarem sobre o prédio onde residiam, na Rua das Oliveiras, no bairro de Troino.

Eu e o meu amigo Marinho estávamos com 15 anos de idade, ele morava no r/c esq. e eu no dto. E se a porta do meu quarto não ficou bloqueada com os pedregulhos o mesmo não aconteceu com a dele, que foi necessária alguma ajuda para o rapaz dali sair.

Felizmente a queda dos pedregulhos não causou vítimas embora algumas habitações ficassem sem condições de habitabilidade. Os bombeiros chamados a intervir mandaram evacuar de imediato o edifício, temendo novo e maior desmoronamento da muralha, o que de facto veio a suceder nas horas subsequentes.

O Governo Civil de Setúbal apressou-se a socorrer, facilitando o alojamento das famílias afetadas por esta ocorrência. Cedeu então, temporariamente, uma ala do primeiro andar do velho convento de São Francisco até que as mesmas conseguissem com os seus próprios meios arrendar novas casas.

O convento encontrava-se nessa altura a servir de instalações de apoio ao Regimento de Infantaria 11 que o utilizava, sobretudo como paiol e depósito de armamento.

Os Serviços Municipalizados de Água e Eletricidade encarregaram-se de fazer chegar um cabo com energia elétrica até à porta do edifício e foram os próprios moradores que tiveram de fazer o resto do trabalho, ou seja, concluir a instalação elétrica nas zonas comuns e no interior das habitações. Nessa altura o edifício ainda dispunha das condições mínimas de habitabilidade.

Um sargento do exército e sua esposa habitavam em permanência uma casa na ala fronteira, e os soldados frequentemente saiam e entravam naquele quartel (termo porque era conhecido na época) em colunas de camiões, normalmente noturnas.

Uma das dependências do edifício encontrava-se repleta de documentação, enquanto, no andar inferior àquele onde passaram a residir os novos ocupantes armazenava-se diverso material de guerra, armas e munições.

Neste ano de 1963 ainda ali podiam ser vistos alguns cavalos do exército. Constatava-se também a existência, nas cavalariças, de algumas antigas galeras de transporte, bem como diversos apetrechos hípicos usados pelos militares.

As famílias desalojadas ainda estiveram naquelas instalações, do então Ministério do Exército, por um período de cerca de dois anos até que com os seus próprios meios encontraram novas habitações, no vizinho bairro de Troino de onde eram oriundas.

O antigo convento só viria a conhecer nova ocupação após a chegada de refugiados das antigas colónias portuguesas após a revolução de 25 de abril de 1974.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-23

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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Há dias felizes

Robert Baden-Powell sentindo que se aproximava a hora da partida para o eterno acampamento, escreveu uma mensagem destinada aos escu(o)teiros de todo o mundo apelando para que procurassem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram.

Como velho escuteiro (escuteiro uma vez, escuteiro toda a vida) desde menino que interiorizei aquela mensagem do chefe e tenho procurado nortear a minha vida pelos princípios aprendidos desde rapaz nesse grande Movimento Universal.

É por isso que escrevo o que penso e julgo ser o mais correto, no sentido de que este nosso belo planeta azul possa ficar um pouco melhor, com o meu pequeno contributo, não me movendo por interesses político/partidários, de protagonismo, ou outro que não seja o bem comum.

Posto isto, penso que dará para inferir de quais os interesses que me movem e como tal também para perceber que quando escrevo algo apontando para questões que considero anómalas não significa que estou contra partidos, entidades ou pessoas, mas sim contra situações que estão incorretas, segundo minha opinião.

O início da tarde deste dia 21 de novembro de 2014 encontrou-me deveras satisfeito. Depois de uma manhã a trabalhar fora, quando cheguei à Avenida Independência das Colónias verifiquei que tinham sido desentupidas as sarjetas, com o recurso a uma máquina de alta pressão, uma situação que estranhamente se arrastava há anos e que por coincidência hoje foi resolvida passadas algumas horas de ter sido colocado um texto na net sobre o assunto.

Mais satisfeito fiquei quando encontrei de boa saúde o vizinho que tinha sido atropelado nesta concorrida artéria, ontem à noite, numa altura que chovia e a visibilidade era fraca.

Finalmente, ao passar perto do Largo do Sapalinho, ali junto à Praça de Bocage, reparei que os andaimes tinham sido retirados e a Casa do Benfica, bem pintada, com as cores vermelho e branco dava bem nas vistas e, embora não seja benfiquista não deixo de me congratular com mais um edifício devidamente recuperado que ajuda a dar um melhor aspeto à nossa baixa.

É assim, há dias felizes, como dizia o “pão e uvas” conhecido cauteleiro setubalense. Com coincidências ou não, o resultado final é o que conta, tal como acontece no futebol, em que o que são contabilizadas para efeito de pontuação são as bolas que entram na baliza.

E agora que o Benfica dá mais nas vistas lá no centro da cidade resta-nos gritar o vivó Vitória e vamos lá marcar mais uns pontos, pintando umas passadeiras, tapando alguns buracos e acabando de vez os passeios da rotunda da Avenida Europa.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-11

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