E, como manda a tradição
um Bom 2015
As
estações de rádio davam conta naquele bonito dia de Verão, 27 de julho de 1970,
que António Oliveira Salazar acabava de falecer, depois de um acidente
doméstico que o levara a cair de uma cadeira de lona, quando gozava um período
de férias no Forte Santo António no Estoril.
O
acidente teria ocorrido em 3 de agosto de 1968 sem nunca se ter sabido se foi
por descuido, desequilíbrio ou debilidade da cadeira, o facto é que o Presidente
do Conselho de Ministros, ao cair bateu com a cabeça no pavimento de pedra e
nunca mais recuperou até à sua morte, dois anos depois.
Naquele
tempo, depois do acidente do ditador eram muitos os que pensavam que o país
iria finalmente mudar de rumo e que a guerra que Portugal mantinha com os
movimentos de libertação nas suas colónias de Angola, Moçambique e Guiné iria
acabar.
Mas
não, um ano depois, em 1969, eu e mais uns milhares de jovens portugueses fomos
incorporados no serviço militar obrigatório. E passado um ano, precisamente no
dia 27 de julho de 1970, enquanto uns choravam e outros abriam garrafas de
espumante, eu estava num cais em Lisboa, sem saber se o navio misto de carga e
passageiros, “Ana Mafalda” construído pela CUF (Companhia União Fabril) em
Lisboa, no ano de 1951, partiria ou não rumo à Guiné.
Naquele
cais a despedir-se dos jovens militares estavam alguns familiares, não muitos,
porquanto éramos poucos os que íamos em rendição individual de outros camaradas
que tinham acabado o seu tempo de comissão militar.
Recordo
o porte elegante de minha mãe, de lágrima ao canto do olho, o rosto fechado e
tenso do meu pai, velho lobo-do-mar, olhando fixamente para aquele navio que
estava prestes a levar o seu filho para um teatro de guerra de onde não saberia
se voltaria vivo. Até porque estava na nossa memória recente o falecimento de
outros jovens setubalenses naquelas guerras…
Havia
a esperança de que com o anúncio da morte do ditador o barco não largasse
amarras daquele cais, mas não, o barco partiu, Salazar foi sepultado, a guerra
acabaria somente quatro anos depois graças à revolução de 25 de abril de 1974.
Quanto
a mim, fui, vim e ainda por cá ando depois de ter vivido a experiencia militar,
uma de entre muitas outras que tenho vivenciado nesta passagem por este nosso
belo planeta azul, prestes a completar mais uma volta completa em torno do
astro rei.
E,
porque ainda por cá andamos nesta jornada terrena, desejo como manda a
tradição, um Bom 2015, com ou sem passas de uva, vestindo ou não cuecas de cor
azul, como igualmente manda, ou mandava, a tradição naqueles tempos em que o
Salazar morreu.
Rui
Canas Gaspar
2014-dezembro-28
www.troineiro.blogspot.com
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