notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

domingo, 28 de dezembro de 2014

E, como manda a tradição um Bom 2015

As estações de rádio davam conta naquele bonito dia de Verão, 27 de julho de 1970, que António Oliveira Salazar acabava de falecer, depois de um acidente doméstico que o levara a cair de uma cadeira de lona, quando gozava um período de férias no Forte Santo António no Estoril.

O acidente teria ocorrido em 3 de agosto de 1968 sem nunca se ter sabido se foi por descuido, desequilíbrio ou debilidade da cadeira, o facto é que o Presidente do Conselho de Ministros, ao cair bateu com a cabeça no pavimento de pedra e nunca mais recuperou até à sua morte, dois anos depois.

Naquele tempo, depois do acidente do ditador eram muitos os que pensavam que o país iria finalmente mudar de rumo e que a guerra que Portugal mantinha com os movimentos de libertação nas suas colónias de Angola, Moçambique e Guiné iria acabar.

Mas não, um ano depois, em 1969, eu e mais uns milhares de jovens portugueses fomos incorporados no serviço militar obrigatório. E passado um ano, precisamente no dia 27 de julho de 1970, enquanto uns choravam e outros abriam garrafas de espumante, eu estava num cais em Lisboa, sem saber se o navio misto de carga e passageiros, “Ana Mafalda” construído pela CUF (Companhia União Fabril) em Lisboa, no ano de 1951, partiria ou não rumo à Guiné.

Naquele cais a despedir-se dos jovens militares estavam alguns familiares, não muitos, porquanto éramos poucos os que íamos em rendição individual de outros camaradas que tinham acabado o seu tempo de comissão militar.

Recordo o porte elegante de minha mãe, de lágrima ao canto do olho, o rosto fechado e tenso do meu pai, velho lobo-do-mar, olhando fixamente para aquele navio que estava prestes a levar o seu filho para um teatro de guerra de onde não saberia se voltaria vivo. Até porque estava na nossa memória recente o falecimento de outros jovens setubalenses naquelas guerras…

Havia a esperança de que com o anúncio da morte do ditador o barco não largasse amarras daquele cais, mas não, o barco partiu, Salazar foi sepultado, a guerra acabaria somente quatro anos depois graças à revolução de 25 de abril de 1974.

Quanto a mim, fui, vim e ainda por cá ando depois de ter vivido a experiencia militar, uma de entre muitas outras que tenho vivenciado nesta passagem por este nosso belo planeta azul, prestes a completar mais uma volta completa em torno do astro rei.

E, porque ainda por cá andamos nesta jornada terrena, desejo como manda a tradição, um Bom 2015, com ou sem passas de uva, vestindo ou não cuecas de cor azul, como igualmente manda, ou mandava, a tradição naqueles tempos em que o Salazar morreu.

Rui Canas Gaspar

2014-dezembro-28
www.troineiro.blogspot.com

Sem comentários:

Enviar um comentário