notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

domingo, 29 de janeiro de 2017

Passamos de cavalo para burro 

Esta é uma expressão que me habituei a ouvir desde os meus tempos de criança quando qualquer coisa em vez de progredir passa a regredir e de que é exemplo a inclusão do porto de Setúbal na alçada de Lisboa.

Já lá vai quase um ano que isso aconteceu e desde então as excelentes relações de colaboração que tinham sido estabelecidas entre a Administração da APSS e a Câmara Municipal de Setúbal praticamente esfumaram-se, tal como sumiram os projetos anunciados para Setúbal por aquela entidade portuária.

Parece que voltamos aos antigos tempos em que a APSS e a CMS estavam de costas voltadas, ou pior ainda, porque mesmo de costas voltadas poderiam fazer alguma coisa, agora o que parece é que o porto pouco ou nada está a fazer por Setúbal desde que comandado a partir da capital.

Sendo assim, é para esquecer os tais cruzeiros de média dimensão que estavam preconizados para Setúbal, tal como ficará para um futuro muito longínquo a recuperação do histórico edifício do cais nº 3, dado que o concurso público foi anulado continuando aquele enorme edifício para ali semiabandonado.

A ferrovia melhorada com relativamente pouco dinheiro ficou no esquecimento e os poluentes camiões continuam a ser a solução para as cargas e descargas do nosso porto.

Os pontões flutuantes para a náutica não avançam, com algumas peças parqueadas em cima da estacada nº 1, tal como não avançam as necessárias defensas nos restantes cais de atracação, colocando em perigo embarcações que ali possam acostar, sobretudo em tempos de marés vivas. 

O programa de melhoramento dos cafés no jardim da beira-mar e asa do avião para ali ficou parado no tempo à espera que a administração alfacinha dê luz verde.

Reforço de areias para as praias setubalenses é para esquecer, tal como é para esquecer os tempos recentes em que vimos a cidade avançar junto ao nosso rio azul numa união de esforços aplaudida por todos aqueles que amam esta terra, independente da cor política de cada um.

Administrar Setúbal a partir de Lisboa é o que dá e, bem pior ainda virá por aí, se os setubalenses e seus líderes políticos não souberem defender convenientemente esta terra com identidade própria e que sempre soube ser livre e independente.

Rui Canas Gaspar
2017-janeiro-29

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Casa Girão, quem te viu e quem te vê!... 

Talvez muitos não saibam, mas, as ruas da baixa de Setúbal eram bem mais movimentadas do que agora podemos observar. O coração da cidade era ponto de encontro, local onde as montras das lojas eram apreciadas, o sítio certo para fazer as compras de quem queria andar na moda.

Daí a quantidade de sapatarias e de lojas de fazendas que abriram portas em meados do século passado e se mantiveram durante longos anos até que novas realidades surgiram, nomeadamente os pronto-a-vestir e os centros comerciais.

No dia 26 de junho de 1953 uma moderna casa de comércio a retalho de texteis abria as suas portas na Rua Antão Girão, quando o reduzido trânsito automóvel ainda por lá se processava. A nova e elegante loja tomou o nome da própria artéria e foi então designada por “Casa Girão”.

As casas comerciais são como os seres vivos, nascem, crescem e morrem. E foi isso mesmo que aconteceu a esta loja de referência do comércio setubalense, já lá vão alguns anos.

O curioso é que a loja fechou, mas o que restava dos artigos para venda, nomeadamente as peças de tecido, por lá ficaram e até a decoração da montra não foi desfeita.

Até hoje assim se encontra, como podemos observar espreitando pelas vidraças quase opacas do pó acumulado ao longo de vários anos de encerramento.

Os porcalhões que não gostam desta terra trataram de rabiscar tudo o que podiam junto à antiga casa comercial, onde tantas senhoras e meninas setubalenses compraram os tecidos com que se apresentaram elegantemente vestidas com modelos de sugestivos figurinos de moda.

E é no estado em que a imagem documenta que infelizmente se encontra este espaço que foi uma casa de referência, em pleno coração de Setúbal, um coração que sangra de tanta injustificada e impune agressão perpetrada por gente que de gente só tem o nome.

Rui Canas Gaspar

2017-janeiro-23


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sábado, 21 de janeiro de 2017

Uma vida foi salva hoje na Doca dos Pescadores em Setúbal
O dia apresentava-se cinzento e frio, a maré estava vazia e olhando para as águas da Doca dos Pescadores pareceu-me que ele estava morto, com fio em volta do pescoço.
Era hora de almoço e os pescadores dos botes já não estavam por ali, apenas um apareceu alguns minutos depois, enquanto eu seguia com o olhar aquele corpo que pouco depois se mexeu, dando-me a certeza que estaria com vida.
Chamei pelo pescador que acabava de chegar e pedi-lhe que desse a volta com o seu bote de forma a salvar aquele condenado que não tinha hipótese de sair dali com vida.
O pescador apanhou-o, puxou pelo canivete e cortou as redes de nylon que se enrolavam numa ponta do pescoço enquanto a outra extremidade estava presa a um pedaço de esferovite.
Solto daquela situação, voltou a atirá-lo à água e logo ele alegremente deu um mergulho de tal ordem que só veio a reaparecer no meio da doca.
Estava salvo! O pescador com um grande sorriso, olhou para a muralha onde me encontrava e disse: “já fizemos hoje a nossa boa ação” e de imediato o bote seguiu doca fora para a pesca dos chocos e eu, com as mãos geladas pelo frio cortante vim à procura do almoço.
O mergulhão lá ficou no seu ambiente, nadando, voando e mergulhando alegremente, neste dia que lhe deve ter ficado gravado na memória, por ter encontrado alguém que certamente leu a mesma cartilha a avaliar pela frase: “já fizemos hoje a nossa boa ação”.
Rui Canas Gaspar
2017-janeiro-20
O abandonado Porto de Rei 

Presentemente chamam-me Sado e pelas minhas águas já proporcionei agradáveis viagens, até 70 quilómetros para montante de barcos que transportavam mercadorias ou pessoas umas mais importantes e outras nem por isso. Porém, olhava para todas elas de igual maneira.

Para as receber no meu cais designado por Porto de Rei, cinco léguas acima de Alcácer do Sal, os homens construíram umas escadarias adossadas ao mesmo bem como uma casa apalaçada de dois pisos onde não faltava sequer um amplo pátio com portal brasonado e cantaria habilmente aparelhada.

Outras casas foram igualmente construídas de forma que aquele lugar, a julgar pelo que podemos ainda observar, deveria ter tido muito movimento de pessoas e mercadorias.

Certo dia apareceu por estas bandas o fumegante e mal cheiroso caminho-de-ferro e as pessoas deixaram de utilizar as minhas águas que funcionavam como uma estrada fluvial, trocando os meus serviços por aquela malfadada novidade.

Foi o princípio do fim! As casas deixaram de ter manutenção, as pessoas foram embora, as silvas e canaviais atacaram-me em força e neste bonito dia de sábado quando recebi a visita de um amigo senti-me envergonhado, por já estar tão afastado daquele cais onde outrora desembarcaram até nobres damas e cavalheiros que dali seguiam para o Palácio de Vila Viçosa.

Já há muito tempo que não recebia a visita de um amigo e o que resta de mim, agora quase sem forças, ainda deu para fazer adeus lá de longe, enquanto ele observava curioso as decrépitas construções que um dia também foram jovens e belas como eu.

É assim a vida, quando somos jovens todos se servem de nós, quando atingimos o Inverno da vida, abandonam-nos à nossa sorte. Valham-nos os verdadeiros amigos que de vez em quando nos visitam e se lembram de nós, partilhando com outros os nossos momentos de pujança.

Rui Canas Gaspar

2017-janeiro-21


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domingo, 15 de janeiro de 2017

Olha se a moda pega?!...

Nestes tempos friorentos de Inverno, uma temperatura relativamente agradável como aquela que se fez sentir neste dia de domingo em Setúbal, com o brilhante céu azul naturalmente convidou os setubalenses a sair de casa.

Não foi pois de admirar que pudéssemos constatar que toda a zona ribeirinha estivesse repleta, não só de setubalenses mas de muitos forasteiros que nos visitam, daí os parques de estacionamento estarem praticamente lotados.

Na Figueirinha, em pleno Parque Natural da Arrábida, parecia que estávamos num dia de Verão, com o parqueamento quase lotado e muita gente a passear usufruindo da bela e solarenga tarde.

Ali podia-se apreciar de tudo um pouco, e os cheiros do assador de castanhas misturavam-se com o das deliciosas farturas, perfumando o ar e fazendo crescer água na boca.

Para dar mais colorido àquele belo espaço, podiam-se observar um conjunto de possantes motas estacionadas frente ao restaurante que também se encontrava cheio de gente.

Alguns cãezinhos também por lá andavam presos pela trela, ou não, e como sempre acontece se a maioria dos seus  donos apanhavam os dejetos, outros faziam que não viam…

O que achei curioso foi ver um casal a passear levando pela trela o seu animal de estimação e desta vez não se tratava de um cão pequeno ou grande, mas sim, imaginem! um porco preto vietnamita, despertando a natural curiosidade de quem por ali passeava.


Olha se a moda pega?!...

Rui Canas Gaspar

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2017 - Janeiro - 15

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

SETÚBAL NÃO PÁRA 

Apetece-me cantarolar aquela popular marcha setubalense:

Vejam Setúbal, tirem a prova
Das Fontainhas,  do Castelo à Fonte Nova

Porque a minha vida me obriga a deslocações um pouco por toda a cidade, hoje reparei que mais um edifício foi estupendamente recuperado no degradado Bairro de S. Domingos, frente à ponte que dali dá acesso à Avenida Luísa Todi, parecendo-me ter como destino um hostel.

Em frente, os muros de acesso ao miradouro estavam a ser rebocados e as paredes pintadas dando um aspeto bem mais agradável àquela muito apreciada e visitada zona do Miradouro de S. Sebastião.

Um pouco mais acima à entrada da autoestrada reparei que a decoração alusiva à cidade europeia do desporto já estava retirada e a obra de arte com o nome da cidade estava devidamente colocada, agora com mais visibilidade que antes.

No Monte Belo equipas de trabalhadores avançam em força com as obras do Burger King e até no enorme muro das antigas instalações da Junta Autónoma das Estradas, uma equipa de pessoal da autarquia pintava aquele inestético espaço completamente grafitado.

Já cá em baixo, à entrada da Av. Luísa Todi, frente ao Leo, os separadores  plásticos foram finalmente substituídos por pinos definitivos tendo o espaço interior sido decorado com floreiras.

De facto ainda há muito por fazer, a cidade também não é nenhuma aldeola  e, como tal, como diz o nosso povo “quanto maior é a nau, maior é a tormenta”.

 Muita coisa foi sendo protelada ao longo de vários anos, mas é indiscutível que se assiste a uma recuperação patrimonial quer por parte da autarquia, quer por parte de particulares e a um esforço de embelezamento como não me lembro de alguma vez ter assistido em Setúbal.

Vamos continuar neste caminho, se queremos atrair mais turistas e, como tal, criar mais postos de trabalho para se produzir mais riqueza e consequentemente diminuir impostos que tanto nos afligem.

Rui Canas Gaspar

2017-janeiro-06

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Eu gosto da mudança de “SETÚBAL” 

O Município de Setúbal permutou no ano passado os terrenos no Monte Belo onde estavam as antigas bombas de gasolina, com um armazém junto à Doca dos Pescadores, onde irá erigir o Centro Municipal para a Promoção e Desenvolvimento das Artes.

O novo proprietário dos terrenos no Monte Belo irá ali erigir um restaurante Burguer King, uma bomba de gasolina, comprometendo-se ainda a fazer um jardim devidamente equipado, bem como  algumas obras no espaço público municipal limítrofe à Praça da Independência, bem como um troço de passeio e ciclovia entre o Novohotel e a nova construção.

No âmbito deste acordo a fonte decorativa com a palavra “SETÚBAL” foi deslocalizada do terreno publico que agora passou a particular, para um outro espaço recentemente relvado a norte das instalações prisionais de Setúbal, junto à rotunda terminal da autoestrada. Ficando bem visível para quem por ali chega à cidade.

Não é virgem, antes pelo contrário, é até comum a “dança de monumentos” em Setúbal, uns que mudaram de local  para melhor, outros nem por isso.

Neste caso em concreto e independentemente do facto do terreno onde estava colocada a fonte passar a privado, entendo que ambos os espaços ficarão valorizados, um com a construção de mais um espaço de restauração com o correspondente arranjo urbanístico envolvente e o outro, junto à rotunda mais atraente.

Para complementar o enquadramento do equipamento deslocalizado o mesmo é enquadrado por grandes palmeiras tornando ainda mais agradável aquele espaço que dentro em breve irá sofrer nova alteração porquanto deverá ser substituída a decoração da rotunda alusiva à cidade europeia do desporto 2016.

Gostei da solução e aplaudo a mudança, embora outros setubalenses a critiquem como é natural em democracia sendo sabido que nunca se pode agradar a todos.

Rui Canas Gaspar
2017-janeiro-04

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domingo, 1 de janeiro de 2017

COISAS DE SETÚBAL

Não passaram ainda muitos anos desde que encerrou portas a Papelaria Rubi, com instalações na Rua Arronches Junqueiro, quase a chegar ao Largo da Misericórdia, local onde poderíamos encontrar o seu proprietário João Francisco Envia.
Este homem, nascido em 1919 e falecido em 2010, comerciante, escritor e dirigente associativo faz parte dos setubalenses de mérito a quem a história local não esquece tendo atribuído o seu nome a uma artéria da cidade.
Seu tio, Manuel José Envia, nasceu em 1871 e faleceu em 1963. Tinha 15 anos quando escreveu o seu primeiro artigo literário publicado no jornal Semana Setubalense e a partir daí nunca mais parou. Uma paixão que ao longo de várias décadas o levaria sobretudo a desenvolver atividades de publicista e escritor teatral.
Foi este distinto setubalense, também ele com honras de figurar na toponímia da cidade, que para além de muitos outros trabalhos publicados escreveu e editou em 1948 o livro Coisas de Setúbal, um trabalho com 360 páginas ilustradas com retratos de setubalenses ilustres, a que juntou as correspondentes biografias.
Em janeiro de 2017 quando estamos a comemorar o 3º aniversário do grupo faceboquiano “Coisas de Setúbal” é bom recordar este destacado setubalense que viveu num tempo em que a internet era palavra inexistente.
Se Manuel Envia fosse vivo teria aqui neste grupo um manancial de informação que lhe permitiria escrever um segundo volume do seu Coisas de Setúbal agora muito mais enriquecido graças à participação de muitos setubalenses de nascimento ou de coração que desempenham as mais díspares atividades ao serviço desta linda terra do rio azul.
Rui Canas Gaspar
2017-janeiro-01
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