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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Repondo a verdade histórica sobre a Igreja em Setúbal

Ultimamente tenho andado às voltas com a investigação de elementos que me permitam compilar os necessários elementos de forma a poder apresentar algo sobre a história das mais de nove décadas de vida de uma coletividade setubalense, o São Domingos Futebol Clube.

Na busca de elementos históricos, hoje retirei da minha biblioteca o livro da autoria de Francisco Lobo, intitulado História de Setúbal 1974 a 1986, editado em 2008, tendo por objetivo dar uma olhadela e ali tentar encontrar algo para o trabalho que tenho em mãos.

Logo após a revolução de 25 de abril de 1974 era Francisco Lobo Presidente da Câmara Municipal de Setúbal e eu servia como Secretário Regional Financeiro do Corpo Nacional de Escutas. Nesse tempo, chegamos a ter conversações sobre a sede regional adquirida pelo C.N.E., instalações que ele conjuntamente com os mais altos dirigentes escutistas e líderes políticos e religiosos setubalenses haveriam de inaugurar.

Ainda hoje, quando nos cruzamos na rua reconhecemo-nos e cumprimentamo-nos  respeitosamente, até porque o tenho como pessoa de bem.

Ao folhear o livro deparo-me com uma situação deveras surpreendente e atendendo à obra que é, convém que haja o devido esclarecimento para que a História de Setúbal, não fique deturpada, pelo menos neste aspeto.

Na página 153 sob o título A Proliferação das Religiões em Setúbal podemos ler o seguinte:

“Até ao 25 de Abril de 1974 a única religião autorizada no País era a Católica. Depois dessa data surgiram as mais diversas religiões existentes no Mundo, assim como seitas religiosas que foram ganhando alguns adeptos. Tal abertura preocupou os responsáveis pela Igreja Católica, preocupação esta bem evidenciada nos discursos da altura.

Algumas destas seitas têm objetivos fundamentalmente políticos, como os desenvolvidos pelos Mourmons  - Nosso Senhor Jesus Cristo e dos Santos dos Últimos Dias -  cujo seu mentor, um americano, não esconde a finalidade de incluir nos propósitos do movimento o combate ao comunismo em qualquer parte do mundo.

A chegada a Setúbal desta seita verificou-se nas proximidades dos anos oitenta, quando se instalaram numa das vivendas da Avenida General Daniel de Sousa.  Um dia pediram-me uma reunião para se apresentarem. Da conversa havida tomei conhecimento de alguns aspectos da sua formação organizativa.

O trabalho de conversão de fiéis, em cada País, é feito por grupos de jovens provenientes de outros países que procuram atrair adeptos, fundamentalmente, numa auscultação porta-a-porta. A sobrevivência das organização resulta, unicamente, da comparticipação dos fiéis. Tudo isto foi-me dito nessa visita. Tal declaração levou-me a perguntar-lhes quantos fiéis já tinham em Setúbal, ao que me responderam que tinham à volta de 180.

Como é que com tão poucos fiéis conseguiram adquirir uma vivenda luxuosa, andam bem vestidos, e bem alimentados, como parece?, perguntei, acrescentando – se é aquilo que consta, organizações, principalmente dos EUA, que têm como  objetivo o combate ao comunismo, são os grandes suportes financeiros desta religião, não é verdade? Claro que a conversa não foi mais além.”

O texto continua referindo-se aquele antigo Presidente da Câmara, membro do Partido Comunista, a uma outra passagem, desta vez com os membros da fé Bahá’i.

No que se refere à A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, cujos membros também são conhecidos por mórmons, devido ao Livro de Mórmon que usam como complemento da Bíblia Sagrada, convém dizer que se trata de uma Igreja restauracionista organizada em 6 de abril de 1830 que só teve autorização para entrar em Portugal após a revolução de 25 de abril de 1974 e que chegou a Setúbal em 27 de agosto de 1978, ocorrendo as primeiras reuniões numa casa existente na Quinta de S. Jerónimo, à saída de Setúbal.

No dia 1 de junho de 1980 a congregação inauguraria as instalações na Avenida General Daniel de Sousa, adquiridas pela Igreja, com fundos próprios, um local onde ainda hoje funciona uma das congregações SUD setubalenses.

De notar que os membros setubalenses (nem todos os filiados portugueses juntos) alguma vez teriam capacidade financeira para adquirir estas e outras instalações, porém a política de aquisições imobiliárias para as congregações espalhadas por todo o mundo é gerida a nível mundial pela sede da Igreja.

Depois, é bom notar que o clima que se vivia em Portugal nesses conturbados anos pós revolução e numa altura de “guerra fria” entre os EUA e a então União Soviética era propícia a este tipo de pensamento por parte da generalidade da população e particularmente pelos filiados no Partido Comunista.

Se os jovens missionários mórmons (oriundos de Portugal e dos mais variados países do mundo) não conseguiram elucidar devidamente o então Presidente da Câmara, fica agora pelo menos esta achega para que a verdade histórica seja reposta.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-11

www.troineiro.blogspot.com

1 comentário:

  1. Olá.
    Eu sou Bahá'í e sei que nessa época existia em Setúbal um grupo Bahá'í com alguma dinâmica.
    Pode contar-me o que diz o livro sobre os Bahá'ís?
    Obrigado

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