O que sabemos nós setubalenses
sobre a Rua do Gás?
Quando
olhamos para a nossa bonita cidade amplamente iluminada, com as luzes a
refletir nas calmas águas da “baía dos golfinhos” não nos passa pela cabeça que
em tempos não muito distantes ela era tomada por uma escuridão quase absoluta.
Faz
neste ano de 2014, precisamente um século que faleceu o poeta setubalense
Paulino de Oliveira a que a edilidade atribuiu no Bairro de Troino o seu nome a
uma concorrida artéria daquela tão característica zona.
Numa
altura em que a cidade de Setúbal vai substituindo o sistema de iluminação pública
tradicional pelo que de mais moderno existe no mundo, a iluminação LED, é bom
lembrar que quando Paulino de Oliveira vivia na nossa terra a iluminação era de
tal forma forma deficiente que pouco depois de se pôr o sol a localidade mergulhava
nas mais profundas trevas.
Nesse
tempo algumas, poucas, luminárias a azeite eram colocadas em alguns locais
estratégicos da cidade. Porém devido às características das lamparinas,
abastecidas com azeite, a sua luz não teria muito tempo de duração, pelo que,
poucas horas depois de serem acesas a sua fraca luz extinguir-se-ia.
Alguns
anos mais tarde, uma inovação chegaria também a Setúbal, a iluminação a gás.
O
jornal “O Curioso de Setúbal” noticiaria no seu editorial datado de 26 de junho
de 1858 a novidade acerca da projetada iluminação a gás: “Vamos dar mais um
passo no caminho da civilização, vamos gozar de mais uma vantagem, que a
indústria do homem inventou para a comodidade da vida e para o aformoseamento
das povoações (…)”.
Agora
que as principais artérias de Setúbal deixavam de estar às escuras outra
realidade se apresentava e o poeta Paulino de Oliveira legou-nos a sua
impressão sobre isto mesmo, escrevendo:
(…)
De
noite, outro triste aspecto
O
gás, muito frouxo, em fila,
Lembra
um enterro nocturno,
Em
procissão que desfila.
(…)
Os
candeeiros, de perto,
Ao
vento as luzes tremidas,
Lembram
bêbados, aos bordos,
Dizendo
pragas sumidas.
Para
o fabrico do gás de iluminação foi então construída uma unidade fabril sedeada
no local hoje ocupado pelo moderno edifício dos serviços das Águas do Sado, em
plena Avenida Luísa Todi.
Desses
tempos de escuridão foi-nos legado como memória o nome de uma artéria da
cidade, precisamente o nome da rua a poente do referido edifício, onde podemos
ler na respetiva placa toponímica: “Rua do Gás”.
Rui
Canas Gaspar
2014-novembro-15
www.troineiro.blogspot.com
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