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terça-feira, 18 de novembro de 2014

As “Sentinas do Velho Choco”

No distante ano de 1933 a Câmara Municipal de Setúbal procedeu à escavação de parte da antiga muralha defensiva da cidade, junto à “Boa Morte” (Av. General Daniel de Sousa) para ali construir umas instalações sanitárias que iriam servir uma vasta camada da população cujas casas, naquela época, não dispunham desta indispensável divisão.

Entre os homens do mar setubalenses era comum naqueles tempos serem colocadas alcunhas e, o guarda dessas instalações sanitárias não escapou a esse enraizado hábito e, por isso mesmo, foi apelidado de “choco”.

WC ou o termo de instalações sanitárias era então pouco usual, sendo mais utilizado o de “sentinas” que tem o mesmo significado de “cloaca”, já utilizado pelos romanos, um espaço a que nós hoje também designamos por “latrina”, “retrete”, privado, etc.

E porque o senhor que guardava e seria o responsável pelas instalações já não devia ser muito jovem, aquele local era conhecido do pessoal de Troino e da Fonte Nova como as “Sentinas do Velho Choco”.

Os anos passaram, as antigas casas modernizaram-se e mesmo aquelas mais antigas sofreram as devidas adaptações de modo a que todas as habitações ficassem dotadas do necessário saneamento básico e fossem equipadas com retrete munidas de pelo menos uma sanita.

Com esta modernização das antigas casas e com a construção das novas as sentinas públicas de que a cidade dispunha foram sendo gradualmente desativadas.

Pouco depois da revolução de 25 de abril de 1974, mais propriamente em 1977 é formado o Grupo Desportivo e Recreativo O Sindicato que viria a ocupar, para sua sede, as desativadas “Sentinas do Velho Choco”, propriedade da Câmara Municipal de Setúbal.

Porque o espaço certamente não seria o mais adequado, o clube mudar-se-ia para instalações mais apropriadas, ficando gravado na parede da muralha em azulejos, não só o símbolo do clube como a sua designação social.

Para evitar o vandalismo a construção foi emparedada e hoje, dia 18 de novembro de 2014 tive oportunidade de estar na sua frente, recordando tempos passados naquela zona da cidade, perto da rua onde nasci e sorrindo ao pensar que o “velho choco” tão cioso da limpeza daquele local não deveria ficar nada contente se pudesse observar o estado miserável em que o mesmo se encontra e que a imagem documenta.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-18

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