As “Sentinas do Velho
Choco”
No
distante ano de 1933 a Câmara Municipal de Setúbal procedeu à escavação de
parte da antiga muralha defensiva da cidade, junto à “Boa Morte” (Av. General
Daniel de Sousa) para ali construir umas instalações sanitárias que iriam
servir uma vasta camada da população cujas casas, naquela época, não dispunham
desta indispensável divisão.
Entre
os homens do mar setubalenses era comum naqueles tempos serem colocadas
alcunhas e, o guarda dessas instalações sanitárias não escapou a esse enraizado
hábito e, por isso mesmo, foi apelidado de “choco”.
WC
ou o termo de instalações sanitárias era então pouco usual, sendo mais
utilizado o de “sentinas” que tem o mesmo significado de “cloaca”, já utilizado
pelos romanos, um espaço a que nós hoje também designamos por “latrina”, “retrete”,
privado, etc.
E
porque o senhor que guardava e seria o responsável pelas instalações já não devia
ser muito jovem, aquele local era conhecido do pessoal de Troino e da Fonte
Nova como as “Sentinas do Velho Choco”.
Os
anos passaram, as antigas casas modernizaram-se e mesmo aquelas mais antigas sofreram
as devidas adaptações de modo a que todas as habitações ficassem dotadas do
necessário saneamento básico e fossem equipadas com retrete munidas de pelo
menos uma sanita.
Com
esta modernização das antigas casas e com a construção das novas as sentinas
públicas de que a cidade dispunha foram sendo gradualmente desativadas.
Pouco
depois da revolução de 25 de abril de 1974, mais propriamente em 1977 é formado
o Grupo Desportivo e Recreativo O Sindicato que viria a ocupar, para sua sede, as desativadas “Sentinas
do Velho Choco”, propriedade da Câmara Municipal de Setúbal.
Porque
o espaço certamente não seria o mais adequado, o clube mudar-se-ia para
instalações mais apropriadas, ficando gravado na parede da muralha em azulejos,
não só o símbolo do clube como a sua designação social.
Para
evitar o vandalismo a construção foi emparedada e hoje, dia 18 de novembro de
2014 tive oportunidade de estar na sua frente, recordando tempos passados
naquela zona da cidade, perto da rua onde nasci e sorrindo ao pensar que o “velho
choco” tão cioso da limpeza daquele local não deveria ficar nada contente se
pudesse observar o estado miserável em que o mesmo se encontra e que a imagem
documenta.
Rui Canas Gaspar
2014-novembro-18
www.troineiro.blogspot.com
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