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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Na Arrábida a Fonte da Paciência espera pacientemente que alguém trate do seu espaço.

Sou uma das várias fontes existentes um pouco por todo o Parque Natural da Arrábida e considero-me importante pelos mais diferentes motivos, mais que não seja porque forneci  um bem imprescindível à vida, a água.

É bem provável que fosse também por minha causa que, já lá vão imensos anos,se tivessem instalado aqui perto uns romanos que se dedicavam a laborar um enorme complexo onde conservavam peixe e fabricavam produtos seus derivados que exportavam para os mais diversos cantos do seu vasto império.

Séculos mais tarde criadores de gado apascentaram nas minhas imediações os seus animais e também eles vinham aqui saciar a sede. Para além de ficar registado em foto, posteriormente pintaram  essas cenas em painéis que hoje podem ver a decorar o espaço que ainda ocupo.

No final do século passado, quando centenas de casas, casinhas e casinhotas ocupavam a base da serra e espalhavam-se ao longo de todo o Portinho da Arrábida, até aqui ao Creiro, muitos dos seus habitantes era a mim que recorriam para pacientemente encher os recipientes com que portavam aquilo que eu generosamente oferecia.

Não era muito abundante, de facto, ao longo dos anos fui perdendo as forças, mas sempre fui generosa e nunca deixei ficar ninguém mal, ainda que aqui levassem algum tempo para encher os seus recipientes.  Tinham de ter paciência, uma importante virtude!...

A idade não perdoa e um dia deixei de correr à vista de todos como sempre o fiz e, não se riam, porque o mesmo irá acontecer convosco.

Os senhores do Parque Natural da Arrábida fizeram-me uma linda sepultura e trataram de aqui fazer um espaço de descanso e paz em minha homenagem, inaugurando-o em 2002.

 Imaginem que fizeram lindas cercaduras em madeira tratada, colocaram bancos e um bonito mural, com três painéis de azulejos dando conta aos visitantes que não me tinham conhecido em vida sobre a importância que eu teria tido outrora.

Mas, agora sinto-me triste e abandonada, com o mato a crescer à minha volta e com as paredes do meu mural a necessitar de uma limpeza e um pouco de tinta.  Nada que não se possa fazer com um pouco de boa vontade.

Aguardo pacientemente a chegada de alguém que voluntária ou institucionalmente me venha, não ressuscitar, mas ao menos cuidar do espaço onde outrora dei tantas alegrias e saciei a sede a inúmeras gerações.

Rui Canas Gaspar
2016-fevereiro-05

www.troineiro.blogspot.com

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