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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

 



Maria, peixe pra já!

Naquele tempo, em meados do século passado, eram muitas as fábricas de conserva de peixe que laboravam um pouco por toda a cidade de Setúbal.

A pesca era abundante e os barcos faziam fila para vender o pescado, sobretudo sardinha, destinado à dinâmica indústria conserveira.

Logo que o fabricante comprava o peixe na lota a fábrica fazia soar a sua estridente sirene e identificada pelo diferente som as operárias saiam de casa correndo na direção da mesma afim de ocuparem o seu posto de trabalho, fosse a que horas fosse, de manhã, de tarde, ou mesmo de noite.

Mas, para reforçar o sonoro aviso algumas fábricas ainda mandavam um “moço”, normalmente vestido de calça curta e camisa de ganga de cor azul, montado numa bicicleta (pasteleira) passar pela casa de cada uma das operárias afim de chamá-las ao serviço, gritando na rua, “Maria, peixe pra já!”.

E, as Marias, largavam tudo o que estavam a fazer, agarravam no avental, na toca e na tesoura, enfiavam os chinelos nos pés e corriam rua afora deixando tudo para trás de forma a chegar ao local de trabalho atempadamente, não fossem atrasar-se e a mestra já não as deixar entrar perdendo assim a oportunidade de trazer alguns magros centavos para casa.

E quantas crianças, ainda bebés, não foram mamando pelo caminho e já na fábrica ficariam a dormir no interior de alguma caixa de madeira, servindo de berço, enquanto a sua esforçada mãe trabalhava para prover o seu sustento?

Eram tempos difíceis aqueles que tantos e tantos homens e mulheres da nossa terra vivenciaram e ainda hoje perduram na memória de muitos setubalenses.

Rui Canas Gaspar

Troineiro.blogspot.com

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