Vamos às beatas à Ti
Prudência?
Hoje
é praticamente impossível escutarmos algo parecido com isto, vindo da boca de
rapazes dos seus 11 ou 12 anos, porém, em Setúbal há cerca de 70/80 anos era de
certo modo comum junto da rapaziada do Bairro de Troino.
A
Ti Prudência, senhora então muito conhecida, tinha vindo do Algarve, de onde
era também oriunda boa parte da população da zona poente da cidade e, em
Setúbal, ter-se-ia estabelecido com uma taberna na Avenida Luísa Todi, perto da
Travessa do Seixal, artéria que teria ido beber a sua designação a uma praia
que ficava ali em frente, no outro lado da avenida.
Embora
houvesse inúmeras tabernas na zona, era ali na Ti Prudência que os mestres dos
barcos costumavam parar, conversar, beber um copo de vinho tinto e fumar um cigarro.
Esta
categoria de pescadores era bem mais abastada, dado que ganhavam muito mais que
ou outros homens do mar. Por haver mais fartura de dinheiro também se davam ao
luxo de desperdiçar e, os seus cigarros não eram fumados até quase queimar as
pontas dos dedos como a maioria dos outros pescadores o faziam.
Quando
chegava a pouco mais de meio, atiravam-no para o chão e por ali ficavam à porta
da adega da Ti Prudência muitas das pontas dos cigarros dos mestres.
Os
rapazes de Troino, que mal tinham onze anos começavam a embarcar na vida do
mar, muito pouco ganhavam e aquilo que auferiam não chegava para comprar os cigarros
“mata-ratos” que quase todos fumavam.
Daí
que eram aos magotes aqueles pequenos pescadores que diariamente iam às beatas,
para com essas pontas fazerem novos cigarros.
E
era à porta da taberna da Ti Prudência, taberna que passados tantos anos ainda
lá está, hoje sem este tipo de fumadores e transformada num típico e conhecido
restaurante setubalense que a colheita era maior porquanto os mestres de então
eram nesse aspeto os que mais desperdiçavam.
Rui
Canas Gaspar
2016-dezembro-05
www.troineiro.blogspot.com
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