Primeiro de Maio, dia do
trabalhador
Deveria
eu ter uns 14 anos quando naquele dia primeiro de Maio, pela manhã, me dirigi
para a baixa setubalense, um dia de trabalho como qualquer outro, dado que em
Portugal não era feriado.
Por
cá não se assinalava o “Dia do Trabalhador” comemorativo daquela manifestação realizada
em Chicago, nos Estados Unidos, no ano de 1886, quando milhares de pessoas
reivindicaram as oito horas de trabalho diário.
Minha
mãe tinha-me avisado para que se visse qualquer panfleto no chão para não o
apanhasse e lesse. Estava a referir-se aos panfletos espalhados durante a noite
pelos militantes comunistas e passíveis dos seus leitores serem denunciados à PIDE.
De
facto, naquela manhã não vi panfletos em Setúbal, eles tinham sido espalhados,
mas os eficientes serviços da polícia política tinham-se encarregado de os
apanhar, tal como o fizeram com alguns conhecidos setubalenses, militantes do
Partido Comunista.
A
temível PIDE, de má memória, prendera naquela madrugada vários opositores ao
regime, reprimindo assim qualquer tentativa subversiva, agindo de forma preventiva
e silenciando as pessoas. Daí que os próprios comentários na baixa fossem
feitos à “boca fechada” quando se falava no assunto e, se dizia, que naquela
madrugada o senhor Álvaro Dias, comerciante na Rua Álvaro Castelões também
tinha sido preso.
Foi
necessário chegar o dia 25 de abril de 1974 para ser instituído em Portugal o
feriado de Primeiro de Maio no ano de queda da ditadura e implantação da
liberdade democrática.
A
exemplo de todo o país o povo saiu à rua e também em Setúbal se assistiu à
maior manifestação que por cá se realizou com o povo a entupir as principais
artérias da cidade.
Passadas
algumas décadas, o entusiasmo deste dia vitorioso foi diminuindo e da memória dos
homens vai-se esfumando nomes de pessoas e factos históricos determinantes para
a liberdade de expressão que hoje naturalmente usufruímos, como sempre assim
tivesse sido.
Julgo
que é da mais elementar justiça prestar homenagem àqueles setubalenses que combatendo
na clandestinidade se sacrificaram pondo em risco até a própria vida para que
hoje tivéssemos a liberdade, até para dizer mal de tudo e de todos, confundindo
frequentemente o estar à vontade com o estar à vontadinha.
Rui
Canas Gaspar
2017-abril-29
www.troineiro.blogspot.com
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