Mas
que peixe tão esquisito que havia de aparecer…
Nos anos sessenta do
passado século XX a grande frota pesqueira setubalense capturava
maioritariamente a sardinha, que era na sua generalidade encaminhada para as
dezenas de fábricas conserveiras que laboravam um pouco por toda a cidade.
Os anos setenta
nasciam e com eles uma maldição atingia os pescadores sadinos, é que ao invés das
suas redes capturarem sardinhas vinham pejadas de pequenos peixes, da família dos
cavalos marinhos e a que os setubalenses logo trataram de batizar de “apara-lápis”,
embora também sejam conhecidos por “trombeteiros” ou “cornetas” e tenham a
designação científica de Macroramphosus scolopax.
Os apara-lápis sem
quase nenhum valor comercial era descarregado às toneladas no porto de Setúbal
e daí encaminhado para a SADOP, uma unidade industrial sita na periferia da
cidade, onde o peixe era transformado em farinha.
Este peixe representou
o princípio do fim da indústria de pesca de cerco setubalense e da sua indústria
conserveira, a que se juntaram as alterações climáticas, a pesca por meio de
arrasto e a falta de alimento para a sardinha, de entre outros aspetos não
completamente esclarecidos.
Neste domingo, dia 02
de fevereiro deste ano de 2025, logo pela manhã o meu irmão enviou-me a
fotografia do pequeno peixe, uma imagem que ele captou numa banca do nosso
Mercado do Livramento e que nos fez recordar tempos bem difíceis, ou não
fossemos nós descendentes de velhos e rijos pescadores setubalenses.
Quem nunca ouviu falar
em semelhante espécie, sugiro que possa escutar a canção que oportunamente foi
criada a propósito desta inusitada invasão das nossas águas costeiras.
https://www.youtube.com/watch?v=prpQDWLuvjg
Rui Canas Gaspar
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