O nosso Rio Sado está a
morrer?
Quando
estudávamos no ensino básico aprendemos que o Rio Sado nascia na Serra do
Caldeirão, já perto do Algarve e corria de Sul para Norte.
No
nosso imaginário quase que estávamos a ver um pequeno fio de água que brotava
da serra e que iria aumentando de caudal à medida que outros pequenos regatos
se lhe juntavam até chegar a Setúbal onde o podíamos ver largeirão desde a
nossa cidade até Troia.
Se
calhar a mesma minha imagem infantil é aquela que ainda hoje perdura na mente
de muitas pessoas que já se encontram no Inverno da vida e mesmo naquelas que
sendo mais jovens aceitam como bom este pensamento.
Acontece
que já em 1610 Duarte Nunes de Leão fazia a seguinte descrição:
“Do Sado que é maior que todos, também não
fazem os geógrafos menção alguma, tirando Ptolemeu que lhe chama Callipode.
Este rio não tem
nascimento algum próprio, mas é um ajuntamento de águas das ribeiras de
Exarama, de Odivellas, de Garcia menino, e de Santa e se ajuntam a tempo que já
vão muito grandes, por águas que colheram de muitas ribeirinhas, regatos e
fontes: E se ajuntam todos em um certo passo do qual se faz um rio grande que
se chama Sado.
Seu curso é de quatro
léguas, no cabo das quais se mete no esteiro de Alcácer que vem para Setúbal.
Neste rio até onde
chamam o porto del Rei, se navega por barcas grandes e se matam infinitas
tainhas muito grandes e formosas, barbos e bogas e enguias, por a grande
pescaria que ali se faz e a muita caça que naquela parte há de coelhos e
perdizes e muitas aves para caça de falcões e por muita e aprazível verdura
deste espaço de terra muitos homens nobres na primavera vão ali folgar.”
Naquele
tempo os Invernos eram muito mais rigorosos e as chuvas copiosas faziam
engrossar os caudais de riachos e ribeiras que viriam posteriormente encorpar o
Sado.
A
partir do século XX a quase totalidade dessas águas deixou de correr para o
Sado ficando represadas por uma dezena e meia de barragens disseminadas um
pouco por toda a bacia hidrográfica do nosso rio.
As
condições meteorológicas entretanto sofreram um agravamento ano após ano e,
como tal, até esses cursos de água ficaram ameaçados com a consequente falta de
água nas barragens, que no final do Inverno deste ano de 2017 rondavam os 30%
quando deveriam estar cheias e a transbordar para o Sado.
Assim
sendo, o que resta do rio azul? Que é que vemos frente a Setúbal senão as águas
do Oceano Atlântico e uma ínfima percentagem de água doce?
Até
quando teremos Rio Sado?
Rui
Canas Gaspar
2017-março-12
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