notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

terça-feira, 29 de abril de 2025

 Neste contexto nasceu a URBISADO 


Em 1970 Setúbal fervilhava de atividade com a construção civil a edificar muitos prédios onde outrora existiam quintas, várias industrias de montagem de automóveis a laborar,  a SOCEL, indústria de pasta de papel já em plena laboração e a SETENAVE que no ano seguinte aqui iniciaria os trabalhos para edificação dos maiores estaleiros navais da Europa, enquanto na outra margem do Sado se iniciavam os trabalhos de construção daquela que estava anunciada como a capital do turismo europeu, a TORRALTA que ali ocupava nas construções de Troia largas centenas de operários. Tudo isto a par das demais indústrias já aqui instaladas, destacando-se a SECIL e a SAPEC faziam deste concelho um espaço de atração de gente oriunda um pouco de todo o país.

A classe trabalhadora via assim os seus salários serem um pouco mais generosos, devido à maior oferta que procura de empregos, o ramo automóvel conhecia invulgar dinamismo, com a venda das viaturas normalmente efetuadas com o recurso a letras (títulos de crédito) e a venda dos apartamentos disparava graças sobretudo ao financiamento bancário para as casas recém-construídas em regime de propriedade horizontal.

A falta de habitação em Setúbal era gritante e nesse ano podia ser observado na periferia da cidade, quer a nascente quer a poente, um conjunto de mais de duas mil e duzentas barracas onde habitavam em condições muito precárias cerca de 11 mil pessoas, correspondente a cerca de 25% da população sadina nesse tempo.

O senão,  era uma terrível e nefasta guerra travada lá longe, em África, em três frentes, nos territórios ultramarinos de Angola, Moçambique e Guiné, para onde foram mobilizados 90% dos rapazes portugueses, dos quais se estima tivessem morrido cerca de 10 mil militares, fossem feridos na ordem dos 20 mil e uma centena de milhar de civis tenham perdido a vida. Uma tragédia que só viria a conhecer o  fim com a revolução de 25 de abril de 1974.

O dinâmico empresário setubalense, Zé da Mota, estava ele próprio no auge da sua atividade como exportador de conservas de peixe e, foi precisamente no ano de 1970, que levantou na Câmara Municipal de Setúbal, licenças de construção para erigir na cidade sadina mais vinte e seis prédios de sete pisos, naquele que viria a ser designado por bairro da Urbisado, assumindo aquele novo espaço o nome da empresa construtora a URBISADO – Urbanizações e Empreendimentos do Sado, S.A.R.L.

Rui Canas Gaspar



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

 



Como chegaram a Setúbal 7 grandes e vistosos carros alegóricos

Para o brilhantismo dos corsos carnavalescos de finais dos anos 60, quando Francisco Finuras era Rei do Carnaval,  foi decisiva a ação de um grande e popular setubalense, José Eduardo Martins, o conhecido “Zé da Mota”, então membro da comissão de festas municipal, corresponsável pela organização destes eventos.

Foi ele que com os seus peculiares dotes de negociante conseguiu trazer para Setúbal sete enormes carros alegóricos que se encontravam armazenados em Alcoentre e que tinham sido utilizados num dos anteriores desfiles levado a cabo no cosmopolita Estoril.

Esta história é verdadeiramente surpreendente! O dono do Casino Estoril não estava na disposição de emprestar os carros e nem sequer quis receber os membros da comissão de festas de Setúbal. Por isso, Zé da Mota, fazendo-se passar por negociante de ferro-velho, interessado na compra de toda a sucata de carnaval conseguiu marcar uma reunião e convence-lo a entregar os vistosos carros que seriam então vendidos a 10 contos cada um.

Poucos dias depois das partes terem fechado negócio os atrativos e  enormes carros estavam a ser rebocados por tratores para Setúbal, com escolta da Polícia de Viação e Trânsito, numa delicada e difícil operação, que durou toda a noite e onde não faltaram fios elétricos quebrados e partes do Estoril sem energia.

Ainda hoje no Estoril estão à espera que os bonitos carros alegóricos, então já sem utilização e a degradar-se num armazém de Alcoentre, sejam pagos pelo arguto “ferro velho”, pelo rei Finuras ou pelas depauperadas finanças seu reino.

Mas, como diz o povo: “É carnaval, ninguém leva a mal”…

Rui Canas Gaspar

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domingo, 2 de fevereiro de 2025



Mas que peixe tão esquisito que havia de aparecer…

Nos anos sessenta do passado século XX a grande frota pesqueira setubalense capturava maioritariamente a sardinha, que era na sua generalidade encaminhada para as dezenas de fábricas conserveiras que laboravam um pouco por toda a cidade.

Os anos setenta nasciam e com eles uma maldição atingia os pescadores sadinos, é que ao invés das suas redes capturarem sardinhas vinham pejadas de pequenos peixes, da família dos cavalos marinhos e a que os setubalenses logo trataram de batizar de “apara-lápis”, embora também sejam conhecidos por “trombeteiros” ou “cornetas” e tenham a designação científica de Macroramphosus scolopax.

Os apara-lápis sem quase nenhum valor comercial era descarregado às toneladas no porto de Setúbal e daí encaminhado para a SADOP, uma unidade industrial sita na periferia da cidade, onde o peixe era transformado em farinha.

Este peixe representou o princípio do fim da indústria de pesca de cerco setubalense e da sua indústria conserveira, a que se juntaram as alterações climáticas, a pesca por meio de arrasto e a falta de alimento para a sardinha, de entre outros aspetos não completamente esclarecidos.

Neste domingo, dia 02 de fevereiro deste ano de 2025, logo pela manhã o meu irmão enviou-me a fotografia do pequeno peixe, uma imagem que ele captou numa banca do nosso Mercado do Livramento e que nos fez recordar tempos bem difíceis, ou não fossemos nós descendentes de velhos e rijos pescadores setubalenses.

Quem nunca ouviu falar em semelhante espécie, sugiro que possa escutar a canção que oportunamente foi criada a propósito desta inusitada invasão das nossas águas costeiras.

https://www.youtube.com/watch?v=prpQDWLuvjg

 

Rui Canas Gaspar

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