Neste contexto nasceu a URBISADO
Em 1970 Setúbal fervilhava de atividade com a construção civil a edificar muitos prédios onde outrora existiam quintas, várias industrias de montagem de automóveis a laborar, a SOCEL, indústria de pasta de papel já em plena laboração e a SETENAVE que no ano seguinte aqui iniciaria os trabalhos para edificação dos maiores estaleiros navais da Europa, enquanto na outra margem do Sado se iniciavam os trabalhos de construção daquela que estava anunciada como a capital do turismo europeu, a TORRALTA que ali ocupava nas construções de Troia largas centenas de operários. Tudo isto a par das demais indústrias já aqui instaladas, destacando-se a SECIL e a SAPEC faziam deste concelho um espaço de atração de gente oriunda um pouco de todo o país.
A classe trabalhadora via assim os seus salários serem um pouco mais generosos, devido à maior oferta que procura de empregos, o ramo automóvel conhecia invulgar dinamismo, com a venda das viaturas normalmente efetuadas com o recurso a letras (títulos de crédito) e a venda dos apartamentos disparava graças sobretudo ao financiamento bancário para as casas recém-construídas em regime de propriedade horizontal.
A falta de habitação em Setúbal era gritante e nesse ano podia ser observado na periferia da cidade, quer a nascente quer a poente, um conjunto de mais de duas mil e duzentas barracas onde habitavam em condições muito precárias cerca de 11 mil pessoas, correspondente a cerca de 25% da população sadina nesse tempo.
O senão, era uma terrível e nefasta guerra travada lá longe, em África, em três frentes, nos territórios ultramarinos de Angola, Moçambique e Guiné, para onde foram mobilizados 90% dos rapazes portugueses, dos quais se estima tivessem morrido cerca de 10 mil militares, fossem feridos na ordem dos 20 mil e uma centena de milhar de civis tenham perdido a vida. Uma tragédia que só viria a conhecer o fim com a revolução de 25 de abril de 1974.
O dinâmico empresário setubalense, Zé da Mota, estava ele próprio no auge da sua atividade como exportador de conservas de peixe e, foi precisamente no ano de 1970, que levantou na Câmara Municipal de Setúbal, licenças de construção para erigir na cidade sadina mais vinte e seis prédios de sete pisos, naquele que viria a ser designado por bairro da Urbisado, assumindo aquele novo espaço o nome da empresa construtora a URBISADO – Urbanizações e Empreendimentos do Sado, S.A.R.L.
Rui Canas Gaspar