O inconfundível perfume de Mário Ledo
Naqueles tempos difíceis, no início dos anos 50 do
passado século XX, a juntar à miséria que se vivia em boa parte da cidade de
Setúbal, Mariana adicionava ainda o facto de sua mãe ser cega e, como tal, apenas
com os seus tenros 13 anos ter de iniciar a sua vida laboral na indústria
conserveira.
Era ali no “lago” (Largo José Afonso) que funcionava a
Fábrica de Conservas Unitas, propriedade do carismático Mário Ledo e, foi nessa
unidade fabril, que a menina começou a trabalhar. Porém foi sol de pouca dura!...
No final do primeiro dia de trabalho o patrão estava a coloca-la
fora da fábrica dado que então só era permitido começar a trabalhar com 14 anos
e a jovem ainda estava com os 13. Mário Ledo fora enganado!
À menina valeu-lhe a mestra que foi interceder junto do
patrão que teve em consideração o facto de Mariana ser parte importante da
ajuda financeira da pobre família residente numa casa abarracada no Viso e,
como tal, decidiu abrir exceção.
Mariana recorda o seu primeiro patrão como um homem de
trato algo rude, porém de bom coração e sobretudo um homem que se fazia
anunciar ainda antes de entrar na fábrica. É que Mário Ledo usava um tipo de perfume
de tal forma intenso que mal chegava à porta da fábrica era motivo para que se
passasse de imediato a palavra sobre a sua eminente entrada.
Os anos passaram, Mariana foi conhecendo e trabalhando em
várias fábricas de conservas de peixe das muitas que laboravam na nossa terra,
porém por muito que procurasse ao longo dos anos o que nunca mais veio a
encontrar foi o tal perfume que Mário Ledo usava e que deve ter ficado na
memória de muitas das operárias que saíam da sua fábrica com outro cheiro mais
desagradável e que eram alvo da rapaziada que lhes mandavam “piropos” bem menos
agradáveis.
Volvidos mais de sessenta anos sobre a sua entrada no
mundo laboral, esta setubalense fez-se retratar no Bairro dos Pescadores, junto
ao marco que assinala a indústria conserveira setubalense.
Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com