notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

terça-feira, 29 de julho de 2014

JOPIBAR a mais antiga sapataria de Setúbal

Após o falecimento de Norberto Aleluia dos Reis, o decano comerciante do ramo das sapatarias de Setúbal, a emblemática Sapataria 53 seria alienada e pouco depois extinta para dar lugar a um outro ramo de comércio relacionado com artigos de cabeleireiro.

Desaparecida a 53 ficariam na baixa apenas quatro outros estabelecimentos deste ramo de negócio com mais de meio século de existência: a Oriental, a Cristal, a Ideal e a Jopibar, esta última contando  com cerca de 70 anos.

Ao balcão da Jopibar podemos encontrar ainda o mais antigo comerciante do ramo, em atividade, o senhor Honorato Coelho, um homem de 77 anos de idade que tem acompanhado a vida comercial da baixa de Setúbal como poucos.

Honorato é um setubalense de gema, filho de um outro comerciante bem conhecido dos antigos habitantes de Troino e da Fonte Nova, em meados do século passado, o “Zé de Norato”, proprietário de uma das mais conhecidas mercearias daqueles bairros habitados, nessa altura, sobretudo por gente ligada às atividades piscícolas.

Os tempos vão difíceis para os comerciantes de uma forma geral e para os da baixa em particular que o diga o senhor Honorato que continua a atender os poucos clientes que entram no seu estabelecimento com um simpático sorriso, como sempre o fez.

Todos lamentamos o desaparecimento do comércio local e dos estabelecimentos de proximidade, mas nem sempre contribuímos para que este comércio sobreviva e vamos adquirir os nossos produtos às grandes superfícies e aos estabelecimentos não tradicionais.

A baixa de Setúbal está mais bonita, mais dinâmica e acreditem que isto não se deve aos estabelecimentos pertencentes aos grandes potentados, mas sim aos pequenos comerciantes, porque os grandes que por lá existem teimam em não comparticipar com um cêntimo para a dinamização daquele espaço e, se agora o mesmo está mais agradável isso deve-se aos pequenos, aos tradicionais, àqueles que sempre lutaram por Setúbal, por isso merecem o meu apoio.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-29


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Os bonitos painéis dos correios setubalenses

Construída entre 1938 e 1941 a Estação dos Correios de Setúbal foi projetada pelo arquiteto Adelino Nunes um profissional afeiçoado aos corpos cilíndricos, sendo o edifício de Setúbal o mais notável exemplo de trabalho projetado por este profissional.

Este arquiteto português pertence à geração de outros notáveis arquitetos portugueses como sejam os famosos Cassiano Branco, Pardal Monteiro e Cristino Silva.

Embora o corpo original ainda lá se mantenha o edifício já foi ampliado e sofreu várias obras de adaptação e modernização sobretudo ao nível do seu interior.

Os espaços exteriores frente ao primitivo corpo do edifício foram em tempos alvo de intervenção, sendo então feita uma artística calçada com desenhos de envelopes.

A ladear a entrada do público  podemos apreciar estes dois bonitos painéis de azulejos, uma arte tão querida do povo português.



Rui Canas Gaspar
2014-julho-28


domingo, 27 de julho de 2014

O emblemático Bairro dos Pescadores

Este emblemático bairro setubalense foi erigido em três distintas fases, tendo sido a primeira inaugurada oficialmente em 1952.

Durante seis anos as casas estiveram erigidas sem ser habitadas e a “visitadora” (assistente social) usando o seu poder discricionário e os seus critérios de avaliação tratou de fazer a lista das famílias a quem deveriam ser atribuídos os fogos.

A cerimónia de inauguração  contou com a presença das autoridades locais e nacionais sendo então presidida pelo Presidente da República, general Craveiro Lopes.

Na comitiva não podia faltar o poderoso almirante Henrique Tenreiro, dirigente máximo da Junta Central das Casas dos Pescadores e delegado do Governo junto dos organismos das pescas.

Ao primeiro bebé nascido no bairro foi colocado o nome do padrinho, como era hábito naquele tempo, por isso o rapaz tomou o nome de Henrique, dado que o padrinho foi precisamente o almirante Henrique Tenreiro.

O bairro era bem mais bonito do que agora se apresenta, com todas as casas pintadas de branco e com bonitos e bem arranjados jardins floridos à frente de cada uma delas.

Dois guardas encarregavam-se de zelar pelo espaço e, se algum rapaz tivesse o azar de jogar à bola por aqueles espaços a vara do guarda fazia-se sentir nas suas costas.

São coisas de Setúbal, uma terra com grande diversidade de curiosas histórias que se vão perdendo no tempo e que queremos sejam preservadas.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-27

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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Quem te avisa teu amigo é!

Em pleno coração da cidade de Setúbal, o antigo Bairro de São Domingos, outrora cheio de vida, apresenta-se hoje silencioso com grande parte das casas desabitadas e muitas delas em tal estado de degradação que ameaçam ruir.

No meio de tanta tristeza, não deixa de ser curioso ser ali que se localiza a Rua da Alegria e ainda mais curioso é podermos observar que também ali uma flor pode fazer a diferença.

Alguém de possibilidades económicas limitadas, habitando numa daquelas velhas habitações térreas, decidiu fazer jus ao nome da rua e como tal acabou por dar um pouco mais de alegria, se não a toda a rua, pelo menos à entrada da sua casa.

Pintou andorinhas na parede, colocou vasos com plantas no chão e outros na parede e transformou o seu espaço num agradável jardim.

Mas como não há bela sem senão, eis que os amigos do alheio, certamente por também gostarem muito de plantinhas e de flores, trataram de ir levando de vez em quando algumas delas. Foi então que o dedicado jardineiro decidiu lançar sobre os larápios uma das infalíveis  pragas do cigano Lelo.

E para que não houvesse dúvidas quanto ao perigo de dali levar alguma plantinha colocou um quadro, no meio das flores, com o seguinte aviso: “Quem neste jardim voltar a roubar sangue há-de chorar”.

E pronto agora já sabe, se quer ter uma vida calma, tranquila e usufruir da beleza do jardim da Rua da Alegria, não pense em levar nem que seja uma pequena plantinha, é que estas pragas são infalíveis.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-25



quinta-feira, 24 de julho de 2014

Américo Ribeiro o homem que fotografou Setúbal

Américo Augusto Ribeiro nasceu em Setúbal no primeiro dia de janeiro de 1906 e viria a falecer em 10 de julho de 1992.

São muitos os setubalenses que recordam este homem de olhar vivo, passo apressado e cabelo ondulado sempre de máquina fotográfica em punho pronto a disparar sobre tudo e sobre todos.

Foi assim que durante 65 anos captou o pulsar de uma região como poucos alguma vez o fizeram, tornando-se conhecido dos seus concidadãos desde que em 1922 expôs os seus trabalhos fotográficos na montra de Alberto Sartoris, o proprietário de um estúdio fotográfico setubalense.

No ano em que Henry Ford, lá longe, nos Estados Unidos via sair da sua fábrica o décimo milionésimo carro “Modelo T”, no outro lado do Atlântico, em Portugal, Américo Ribeiro não adquiria uma destas viaturas mas sim a sua primeira máquina fotográfica, disponibilizando para isso a substancial quantia de 60 escudos.

O fotógrafo cobria todos os acontecimentos na cidade, dos fenómenos meteorológicos aos acontecimentos desportivos, dos eventos sociais aos culturais.

Nas procissões religiosas lá o podíamos ver a captar imagens um pouco de tudo e todos; dos anjinhos aos escuteiros, do povo que seguia na cauda às autoridades civis e religiosas que sob o palio desfilavam.

O seu apurado sentido de repórter, levava-o a não perder tempo e, quando a procissão terminava, eram muitos aqueles que corriam logo para o Largo da Conceição para poder apreciar na monta da Foto Cetóbriga, o seu estabelecimento fotográfico, as imagens captadas poucos minutos antes.

Era então altura dos mais abonados comprarem um exemplar da foto onde se viam retratados e eu não fugi à regra, ora fardado de escuteiro ou como centurião da legião romana que nos idos anos 60 desfilou num dos celebérrimos carnavais de Setúbal.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-24

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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Como me cortaram a carreira de jornalista e de bombeiro…

Longe vão os tempos em que as crianças do bairro de Troino e de tantos outros bairros típicos da nossa cidade podiam brincar na rua, até que ouvissem a sua mãe chamar pelo seu nome para regressar a casa, tal como as sirenes das fábricas o faziam para convocar as suas operárias quando as fábricas “metiam peixe”.

Os carros eram raros e por vezes quando algum passava pelas nossas bandas logo corríamos para nos empoleirar na traseira do mesmo e desta forma andar alguns metros de boleia, sem medir o perigo a que nos sujeitávamos.

Claro está, que para os moços o perigo não existe, enquanto para as mães ele está sempre à espreita em tudo o que seja lado. Isso era assim ontem, é hoje e continuará a ser amanhã.

- Certo dia, morando a nossa família na Rua das Oliveiras, estava minha mãe a barrar com manteiga o tacho de barro onde iria cozer o bolo de farinha de milho, e eu saltitando à sua volta à espera que a massa estivesse feita para lamber os restos, quando começamos a ouvir as sirenes dos carros dos bombeiros que subiam pela estrada do Viso, nas traseiras da nossa rua.

O bolo para mim deixou logo de ter interesse e, com indisfarçável satisfação, disse para a minha mãe que ia ver onde era o fogo.

- Não vais! Podes ser atropelado. Dizia a minha mãe. Vou! Não sou nada atropelado. Não vais! Vou… Não vais! Vou…

A minha mãe perdeu a paciência e com o tacho de barro já barrado com a manteiga, agarrando com ambas as mãos, bateu-o na minha dura cabeça que se encontrava coberta com uma boina por causa do frio.

O tacho ficou feito em mil pedaços, o bolo deixou de ser feito, levei mais umas palmadas no traseiro e, pelos vistos isso viria a influenciar o meu trajeto profissional futuro que não passaria por seguir a carreira de repórter nem sequer a de bombeiro…

Rui Canas Gaspar
2014-julho-23


A Mercearia Américo

Já lá vai meio século que o senhor Américo está à frente deste peculiar estabelecimento de mercearia, um dos raros exemplares de um tipo de comércio que continua a servir uma vasta clientela e, contra o que seria espectável, com algum sucesso.

Este antigo comerciante quando para aqui veio ainda era solteiro e, diz ele, que neste  mesmo local da Avenida Luísa Todi, já existia o estabelecimento de mercearia.

Trata-se pois de um dos raros exemplares do antigo comércio de proximidade que paulatinamente veio a desaparecer com a proliferação dos super e hipermercados que se vieram a implantar não só em Setúbal mas um pouco por todo o país.

A Mercearia Américo está de portas abertas todos os dias da semana e é uma referência para muitos setubalenses, particularmente para aqueles que residem nos antigos bairros de Troino e da Fonte Nova que ali continuam a afluir.

Para além dos velhos moradores da zona, que se chegaram a abastecer noutras mercearias entretanto desaparecidas, como sejam a do César, José de Norato ou do Pedro, agora outro tipo de clientela tem ali também o seu ponto de abastecimento. Muitos restaurantes da zona por vezes têm necessidade de se socorrer da Mercearia Américo para adquirirem alguns itens de última hora que lhes faltou, do pão à fruta, dos condimentos ao detergente.

Os jovens, também não deixam de passar pela mercearia do senhor Américo para se abastecerem quando vão a caminho da praia e, os bolos, os sumos o queijo ou o fiambre sabem que vão ali encontrar.

Neste antigo espaço podemos verificar que tudo está devidamente ordenado pelas diferentes secções, como nas antigas mercearias, tudo está à vista do cliente, notando-se que os produtos frescos, nomeadamente a fruta, denotam uma excelente qualidade e frescura.

Na Mercearia Américo há um pouco de tudo e por vezes algumas raridades, como por exemplo as ovas de sardinha em conserva, o delicioso “caviar português” tão difícil de encontrar até nas grandes superfícies comerciais e que aqui vamos encontrar a par de outras iguarias.

A persistência, aliada à qualidade, levou a Câmara Municipal de Setúbal a galardoar este comerciante com a Medalha de Mérito, uma distinção que muito honra este antigo estabelecimento, um dos raros sobreviventes sadinos do comércio local.

Rui Canas Gaspar

2014-07-23

terça-feira, 22 de julho de 2014

Bolacha Piedade um símbolo da doçaria tradicional portuguesa

Corria o ano de 1855, Setúbal ainda não tinha sido elevada à categoria de cidade, quando nesta vila de pescadores nascia aquela que se tornaria a famosa e muito apreciada Bolacha Piedade.

Calcorreando o chão de terra batida do recinto da Feira de Santiago, então com mais de quatro séculos de existência, realizada junto ao Convento de Jesus, apareceriam uns jovens vendedores, com tabuleiros pendurados ao pescoço que apregoavam bem alto um novo e delicioso produto: a Bolacha Piedade.

Este novo tipo de bolacha, que os setubalenses se habituaram a identificar com a Feira de Santiago, estaria presente desde 1855 até aos nossos dias em todas as edições da mesma, realizada em diversos pontos da cidade, desde a zona nascente da Rua da Praia (Av. Luísa Todi) à zona poente da dita avenida e finalmente ao Parque Santiago, nas Manteigadas.

As bolachas, um produto artesanal, são bastante rijas, umas mais tostadas que outras, são muito agradáveis ao paladar e têm um sabor a anis e a erva-doce o que as torna únicas e inimitáveis.

Esta delícia não se deve comer dando-lhe dentadas, se assim o fizermos estamos sujeitos a partir um dente, mas sim, partindo-a em pequenos pedaços que se vão saboreando devagar e calmamente.

Há pessoas que compram as bolachas na feira em quantidade suficiente para consumir ao longo do período que medeia entre este certame e o próximo.

Pelas suas características elas não se irão deteriorar com o passar do tempo.

A Bolacha Piedade é um dos símbolos centenários da doçaria tradicional portuguesa, galardoada com a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal, com produção que tem vindo a ser mantida ao longo de muitas décadas e cuja tradição manda que seja produto indispensável na Feira de Santiago.

Mais que não, seja só para adquirir tão saboroso produto sugiro que vá à Feira de Santiago, embora também ao longo do ano o possa adquirir no estabelecimento próprio que a Bolacha Piedade dispõe na Avenida Luísa Todi, perto da Casa da Baía.



Rui Canas Gaspar
2014-julho-22


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Os Dez Mandamentos regressam ao Luísa Todi


Poucos dias antes de  24 de julho de 1960 pelas ruas da cidade de Setúbal foram distribuídos panfletos anunciando a inauguração do Cine-Teatro Luísa Todi, uma das mais modernas salas de espetáculos de Portugal.

O evento revestiu-se de tal importância que teve a honra de ser presidido pelo Presidente da República, Almirante Américo Tomás tendo estado também presente no importante evento o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira.

O novo espaço, de traça modernista, construído no local onde outrora teria funcionado outro emblemático edifício, o Teatro D. Amélia, tem projeto assinado pelo arquiteto Fernando Silva, autor de obras revelantes como o Hotel Sheraton e Cinema São Jorge, em Lisboa.

Em 1989 a Câmara Municipal de Setúbal adquiriu este espaço e mais tarde levou a cabo profundas obras de melhoramentos e ampliação que culminou com a reabertura deste magnífico espaço em 15 de setembro de 2012.

O filme que inaugurou em 1960 a nova sala de cinema era o que de melhor se tinha feito até então e ainda hoje continua a ser uma obra ímpar da sétima arte: Os Dez Mandamentos, da autoria de Cecil B. DeMille, que contou com os maiores intérpretes da época como Charlton Heston, no papel de Moisés.

O filme foi dos mais dispendiosos até então realizados e os meios empregues foram colossais, desde os 15.000 animais necessários, até aos milhares de figurantes passando pelos meios técnicos inovadores a que não faltou uma máquina especial emprestada pela Força Aérea Egípcia destinada a criar ventanias.

E é precisamente este filme que será rodado na segunda-feira, dia 28 de julho deste ano de 2014, como forma de comemorar o 54º aniversário da inauguração deste emblemático espaço sadino.

Pelas 21,00 horas o Fórum Municipal Luísa Todi espera por si e oferece-lhe a possibilidade única de assistir gratuitamente a este clássico da sétima arte, que há mais de meio século estava em destaque em todo o mundo e que também fazia notícia na nossa cidade.

Rui Canas Gaspar
2014 – Julho – 21


domingo, 20 de julho de 2014

A GÁVEA

Aquela que foi uma conhecida discoteca setubalense, localizada num lugar de excelência, a pouco mais de uns três quilómetros da saída poente da cidade de Setúbal, em pleno Parque Natural da Arrábida, só não está irreconhecível devido à sua privilegiada localização geográfica.

Embora não devamos dar grandes pormenores de localização destes espaços, aqui não há qualquer problema dessa natureza, porquanto diariamente passam pela frente desta construção milhares de pessoas que se dirigem para a praia da Figueirinha.

Depois, já nada há para vandalizar, porque todo o espaço já o foi e também nada mais há para furtar porquanto o que havia de valor já sumiu há muito.

Aqui temos mais um exemplar do nosso património construído, votado ao abandono, um local de gratas lembranças para muitos setubalenses e onde até na praia, a seus pés, foram filmadas algumas cenas de um dos filmes de James Bond. Não o “ordem para matar”, mas provavelmente o “ordem para deixar estar até cair”.








Rui Canas Gaspar
2014-julho-20


quarta-feira, 16 de julho de 2014

A Pedra Furada está agora mais visível

Já está quase tudo no chão transformado em entulho aquilo que sobrava de uma das muitas fábricas de conserva de peixe existentes a nascente da cidade, na Estrada da Graça lá para os lados da Pedra Furada.

A demolição deu-se após a Câmara Municipal de Setúbal ter tomado posse administrativa do espaço, sem que tenha conseguido identificar e notificar os proprietários daquelas amplas ruínas.

Os militares do Regimento de Engenharia nº 1, com as suas potentes máquinas trataram de executar o trabalho, numa ação de colaboração com a autarquia setubalense, com a qual tem estabelecido um protocolo que já os levaram a atuar este ano em diversas zonas do Parque Natural da Arrábida e em anos anteriores noutros espaços que vão do Forte de S. Filipe até aos canaviais da Várzea.

Esta demolição não só vai deixar aquele espaço mais limpo, livre e menos perigoso, devido ao estado fragilizado de algumas paredes, como também veio libertar visualmente a Pedra Furada, o geomonumento ao qual se encontravam encostados os escritórios da fábrica agora demolida.



Rui Canas Gaspar
2014-julho-16


Na Arrábida há uma pequena fortuna ao ar livre

Com a criação do Parque Natural da Arrábida, em 1976, foram encerradas algumas explorações da belíssima e rara Brecha da Arrábida, também conhecida vulgarmente por “Brecha de Portugal” ou “Mármore da Arrábida”.

Este pedra de rara beleza foi outrora empregue nas mais diversas obras de arte, destacando-se o convento de Jesus em Setúbal, com as suas colunas torcidas, tal como a sua pia batismal. Igualmente poderemos observar esta brecha, em toda a sua beleza, aplicada artisticamente no salão nobre da Câmara Municipal de Setúbal, de entre outros locais.

Com a cessão da sua exploração, este raro material tornou-se ainda mais caro, sendo utilizado normalmente pela autarquia sadina em placas alusivas,  normalmente relacionadas com inauguração de obras.

Há quase 40 anos que a Pedreira do Jaspe deixou de laborar no alto do monte do mesmo nome, onde se pode apreciar uma panorâmica deslumbrante focando-se a nossa atenção particularmente no imenso Oceano Atlântico e sobre a Serra do Risco, qual onda petrificada sobre o vasto mar a seus pés.

E é precisamente aqui, ao lado da desativada pedreira, que vamos encontrar vários blocos de pedra já cortada, que estimamos possam ter na ordem dos 150 M3 e que não foi retirada atempadamente deste local.

Valem de facto uma pequena fortuna estes blocos de pedra cortada de excelente qualidade, prontos a carregar para a serração que os transformará em chapas e os polirá de forma a ressaltar toda a ímpar beleza deste material que poderá vir a ter as mais diversas utilizações.

Não sei a quem poderá pertencer este património, presumindo que o mesmo seja propriedade do Estado Português, na pessoa do Parque Natural da Arrábida.

O que sei é que o mesmo ali se encontra há cerca de 40 anos pronto a utilizar, podendo ser comercializado e o dinheiro reverter para a criação ou manutenção de espaços públicos, nomeadamente caminhos e miradouros desta Serra da Arrábida, uma das belezas deste nosso Portugal, tão rico e tão parcamente aproveitado.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-16


segunda-feira, 14 de julho de 2014

A vida de Bocage não foi feita apenas de poesia e anedotas

Bocage era filho de gente importante. Seu pai José Luís Soares de Barbosa, Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, foi juiz de fora, o magistrado nomeado pelo rei de Portugal para atuar em concelhos onde era necessária a presença de um juiz imparcial e que ali habitualmente não residisse.

A mãe, D. Mariana Joaquina Xavier L´Hedois Lustoff du Bocage era filha do Almirante francês Gil Hedois du Bocage que em 1704 chegara a Lisboa com o objetivo de reorganizar a Marinha de Guerra Portuguesa.

Embora nascido de boa família Bocage não teve uma vida nada fácil, pode-se até considerar que teve infância infeliz.

Quando era uma criança de apenas seis anos de idade, seu pai foi preso tendo estado encarcerado no Limoeiro por igual período de tempo. Pouco tempo passado, quando contava 10 anos e o pai ainda se encontrava na prisão, a tragédia abater-se-ia de novo sobre este menino devido ao falecimento de sua mãe.

Mal acabou de fazer os 16 anos alistou-se como voluntário no Exército tendo servido no antigo regimento de Setúbal, onde permaneceu por dois anos até 15 de setembro de 1783. Nessa altura este jovem setubalense tornou-se um homem do mar ao ser admitido na Academia Real dos Guardas-Marinha, antecessora da Escola Naval, onde fez estudos para guarda-marinha.

O rapaz deve ter tido pouca paciência para assimilar a teoria náutica e ainda antes de finalizar o curso veio embora. Mesmo assim, acabou por ser nomeado para esse posto pela rainha D. Maria I.

Em plena juventude, quando contava apenas 18 anos, já a sua fama como poeta e versejador corria por Lisboa.

A vida de Bocage não foi feita só de poesia e anedotas, foi trabalhosa e bem difícil como podemos constatar se nos debruçarmos um pouco sobre este tema.
Rui Canas Gaspar
2014-julho-14


domingo, 13 de julho de 2014

Uma história para a História ocorrida com o barco EVORA

O Barreiro e região envolvente era uma zona da margem sul do Tejo onde laboravam corticeiros, salineiros, pescadores, metalúrgicos, operários químicos e têxteis de entre outros, que labutavam afincadamente por uma vida melhor. Politicamente era uma comunidade também conhecida em Portugal pela luta de resistência que mantinha contra o regime ditatorial vigente no país.

Por esse facto, a PVDE (Policia de Vigilância e de Defesa do Estado) formada em 1933, seguia de perto os movimentos operários particularmente ativos nesta região. As forças policiais faziam sentir a sua presença por intermédio de um forte e omnipresente contingente da Guarda Nacional Republicana, uma força militarizada que naqueles tempos funcionava como uma espécie de guarda pretoriana do Estado Novo.

Em 1945, a PVDE muda de nome e passa a apresentar-se como PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) a temível polícia política portuguesa, organizada segundo os moldes da GESTAPO, a polícia secreta, de má memória em toda a Europa ocupada pela Alemanha nazi.

Naqueles tempos de ditadura, a 23 de maio de 1936, pelas 11 horas da manhã a polícia política invadiu as Oficinas Gerais dos Caminhos-de-Ferro do Sul e Sueste, com o propósito de prender o serralheiro José Francisco.

Devida a desta ação da polícia o pessoal operário decidiu solidarizar-se com o seu colega e logo após o toque das 13 horas partiu em perseguição da polícia que se dirigia para o cais de embarque onde eu me encontrava atracado.

Os operários arremessavam pedras aos agentes que se refugiavam a bordo e estes respondiam a tiro, o que ocasionou 4 feridos. Este evento ficou conhecido para a história como o “caso do vapor EVORA”.

Se o Barco EVORA falasse poderia resumir assim este episódio:

- Eu tremia, não sei se por causa da ligeira ondulação, ou das pedradas que me acertavam cada vez com mais força. Claro que como podem constatar nada tinha a ver com o assunto, apenas cumpria a minha missão de transportador entre as pacíficas margens do Tejo. Mas, tal como reza o velho ditado português: “quando o mar bate na rocha, quem sofre é o mexilhão…”

Rui Canas Gaspar
2014-julho-13


sábado, 12 de julho de 2014

O miserável estado do berço do Parque Natural da Arrábida

Isto é o que resta de um antigo forno de cal.

Foi por causa dele que o poeta Sebastião da Gama lançou o seu grito de alerta para a destruição que em tempos estava a ser alvo a famosa e antiga Mata do Solitário.

Nos anos 40 do século passado um proprietário rico aqui da zona, de nome José Júlio Costa era dono de muitas terras na Arrábida. Ele possuía também um forno de cal, cujas ruínas é suposto serem as que aqui vemos.

Para alimentar o forno o proprietário mandava cortar árvores da sua propriedade, para transformar em lenha a fim de alimentar o mesmo. Neste caso as existentes na Mata do Solitário.

Ora é sabido do alto valor daquele espaço natural, com vegetação quase única no mundo e hoje classificado como Reserva Integral.

Sebastião da Gama, o poeta, grande amante e defensor da Arrábida, a que ele chamava de “Serra Mãe” ao dar conta deste crime ecológico escreveu pelo seu próprio punho uma célebre carta, em 1947, em papel timbrado da Pousada do Portinho da Arrábida, estabelecimento hoteleiro explorado pela sua família.
Naquela missiva, pedia ajuda ao Engenheiro Miguel Neves, entomólogo da Direção-Geral dos Serviços Agrícolas:

“Senhor Engenheiro
Socorro! Socorro! Socorro! O José Júlio da Costa começou (e vai já adiantada) a destruição da metade da Mata do Solitário que lhe pertence. Peço-lhe que trate imediatamente. Se for necessário restaure-se a pena de morte. SOCORRO!”

O corte de lenha acabou, o forno de cal seria desativado, o mato tomaria conta de todo este espaço e aquele que poderemos considerar como o berço do Parque Natural da Arrábida, encontra-se neste miserável estado.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-07


Obras necessárias não devem conduzir a alterações desnecessárias

Sempre gostei muito e aprendi alguma coisa com as chamadas frases célebres ou inspiradoras. Uma delas, atribuída a Montesquieu não me canso de repetir, porque a acho por demais importante especialmente para quem exerce cargos governativos ou para quem desempenha funções de direção ou chefia. Disse certo dia este grande homem: “Para se fazerem grandes coisas não é necessário estar-se acima dos homens, mas sim entre eles”.

Se Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, outro mérito não tem, este, por aquilo que tenho observado não lhe nego e exemplo do que acabo de dizer é o facto de na quinta-feira, dia 10, ao final da tarde envergar as calças do fato de treino e as sapatilhas, juntando-se às centenas de setubalenses e com eles conviver, fazendo a caminhada entre a Praça do Bocage e o Forte de São Filipe.

O mesmo se tem passado em grandes e pequenas ações onde a vimos entre o povo e não no “poleiro” onde muitos governantes, alguns bem incompetentes, por sinal, teimam em não descer, esquecendo-se que só são “importantes” enquanto lhes dermos essa importância.

É claro que todos também sabemos que não se coloca ou retira um prego nesta cidade sem que a presidente saiba e autorize, como tal, o que se faz de bem ou de mal facilmente a ela é atribuída a responsabilidade ou o mérito.

Considero que muito de bom esta senhora tem feito pela minha cidade, enquanto presidente da Autarquia, é claro que algumas outras coisas dispensaria pela certa.

Aquela que agora me aflige, tal como a muitos setubalenses, é de facto as alterações preconizadas para as vias rodoviárias existentes entre a Avenida da Guiné  Bissau e a Alexandre Herculano, que considero, tal como  muitos utentes e moradores desta zona uma autentica aberração.

Não sou do tipo de criticar por criticar, muito menos tenho a pretensão de ser senhor da razão, mas enquanto utente frequente destas vias não posso de forma nenhuma concordar com uma obra que a ser concretizada vai prejudicar em vez de beneficiar, reduzindo as atuais vias de circulação automóvel de 4 para 2, quando o trânsito automóvel está cada vez menos fluído.

Tudo o mais anunciado para ser concretizado naquelas artérias pode muito bem ser feito sem ser à custa da redução das faixas rodoviárias porque ali existe espaço suficiente para o fazer.

E porque a senhora presidente é uma mulher que gosta, e bem, de governar entre o povo, sugiro que veja com seus próprios olhos o que se está a fazer nestas artérias da cidade, que podem até ficar mais bonitas, mas que não deixam de ficar muito menos funcionais e potenciadoras de caos automobilístico, com o consequente buzinão diário e um ainda maior numero de acidentes que aqueles que acontecem semanalmente na rotunda do Vitória.

Enquanto é tempo é que temos de arrepiar caminho, porque depois, para corrigir o disparate as despesas serão maiores e provavelmente a carteira dos contribuintes estará bem mais leve, quando é sabido que obras necessárias não devem conduzir a alterações desnecessárias.

Rui Canas Gaspar
2014-julho-12

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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Agremiações centenárias da cidade de  Setúbal

Setúbal é uma terra que teve um crescimento populacional significativo nos  últimos anos, pelo que não deixa de ser curioso apreciar que nesta terra de gentes do rio e homens do mar tivessem sido criados tantos clubes recreativos, culturais  e desportivos, tendo chegado até aos nossos dias alguns deles com mais de um século de vida.

- O Club Setubalense é o decano dos clubes setubalenses, porquanto nasceu em 12 novembro 1855 e estava vocacionado para o convívio e a cultura da elite setubalense.

- A Capricho Setubalense, fundada em 22 novembro 1867 direcionou a sua ação sobretudo para a área da música e nasceu a partir da fusão de duas outras agremiações os “amarelos” e os “vermelhos”.

- A Sociedade Musical e Recreativa União Setubalense seria fundada oficialmente em 22 março 1899 teve por base uma outra agremiação designada por “Operária”.

- Já aquele que os setubalenses gostam de apelidar de “O ENORME”, o Vitória Futebol  Clube foi fundado em 20 novembro 1910. Foi o primeiro a nascer após a implantação da República, sendo designado inicialmente como Sport Victória.

- O Ateneu Setubalense  é o mais jovem clube centenário sadino, foi fundado em 19 de maio 1914 e tinha como finalidade a educação e cultura, tendo entrado já este ano, de forma muito discreta, para o clube das centenárias agremiações.

A próxima coletividade a entrar no restrito grupo das coletividades centenárias setubalenses são os conhecidos alvinegros, o popular clube União Futebol Comércio e Indústria, fundado em 24 de junho de 1917 por empregados da indústria conserveira e do comércio que dela sobrevivia.

O próximo membro será o Clube Naval Setubalense que terá de esperar mais meia dúzia de anos para se juntar aos clubes centenários, porquanto só viu a luz do dia em 6 de maio de 1920, graças ao entusiasmo do Comandante Afonso O’Neill.

E para ilustrar este pequeno apontamento nada melhor que um grupo de atletas do Naval, em “fato de trabalho” num tempo não muito longínquo em que as senhoras iam a banhos um pouco mais compostas do que algumas das suas conterrâneas que hoje mais encaloradas vão a banhos usando apenas uma pequena tanga, aqui bem às portas da nossa cidade.

Rui Canas Gaspar
2017-julho-09