A Milenar e quase
ignorada Setúbal
Quando
em 1158 D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, conquistou Palmela aos mouros,
meia dúzia de quilómetros abaixo da colina onde se encontra o seu castelo, Setúbal
pouco mais seria que um pequeno povoado sem grande importância, ocupado por
pescadores e salineiros.
Porém,
um milhar de anos antes deste evento, a mesma Setúbal provavelmente teria um
destaque bem maior do que a altaneira Palmela, isto a fazer fé nas descobertas
arqueológicas que têm aparecido à luz do dia e que nos mostram um espaço onde a
indústria dos preparados de peixe, com destaque para o garum, era de grande vitalidade.
Para
haver muito peixe teriam de ter muitos barcos e, para pescar, forçosamente haveria
indústria associada, como seja a dos cabos, das redes, dos anzois, etc. etc.
Em
terra, teria também de haver as “fábricas” conserveiras de que é exemplo aquela
que ainda podemos observar sob o pavimento envidraçado do edifício do turismo
na Travessa Frei Gaspar, junto ao Largo da Misericórdia, idêntica a outras
postas a descoberto em plena Praça de Bocage.
As
grandes olarias produtoras de ânforas da região teriam de as mandar para
armazéns antes de serem enviadas para o destino final e um desses armazéns
encontrava-se precisamente perto dessas cetárias,
nas traseiras da nossa Biblioteca Publica Municipal, mais precisamente na
travesse João Galo.
Mas,
como tudo muda com o tempo, não deixa de ser curioso que aí mesmo, onde
funcionou o armazém de ânforas haveria de surgir um monumental edifício romano,
provavelmente destruído por qualquer violento sismo. Dele restou uma enorme
cornija que hoje se encontra na Avenida Luisa Todi, junto ao Museu de
Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal.
Esta
enorme pedra de calcário tem o comprimento de 3,60 metros e uma largura de 0,72
por 0,34 de espessura.
Mas,
porque onde existe indústria circula mais dinheiro, também os romanos nos
deixaram uma pequena amostra do muito que por aqui abundava e, alguém escondeu
sem ter tido oportunidade de recuperar uns largos milhares de moedas, colocadas
em duas grandes ânforas, que vieram a ser descobertas na antiga Rua Direita de
Troino.
Setúbal
é uma localidade milenar e certamente serão muitos os setubalenses e muito mais
os forasteiros que nos visitam que disso não tem noção, atendendo a que a nossa
rica história pouco tem sido divulgada e o que resta do nosso património
edificado não tem tido a devida valorização e divulgação, pelo que urge
fazê-lo.
Rui
Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com
2020-maio-04