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segunda-feira, 4 de maio de 2020



A Milenar e quase ignorada Setúbal 

Quando em 1158 D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, conquistou Palmela aos mouros, meia dúzia de quilómetros abaixo da colina onde se encontra o seu castelo, Setúbal pouco mais seria que um pequeno povoado sem grande importância, ocupado por pescadores e salineiros. 

Porém, um milhar de anos antes deste evento, a mesma Setúbal provavelmente teria um destaque bem maior do que a altaneira Palmela, isto a fazer fé nas descobertas arqueológicas que têm aparecido à luz do dia e que nos mostram um espaço onde a indústria dos preparados de peixe, com destaque para o garum, era de grande vitalidade. 

Para haver muito peixe teriam de ter muitos barcos e, para pescar, forçosamente haveria indústria associada, como seja a dos cabos, das redes, dos anzois, etc. etc. 

Em terra, teria também de haver as “fábricas” conserveiras de que é exemplo aquela que ainda podemos observar sob o pavimento envidraçado do edifício do turismo na Travessa Frei Gaspar, junto ao Largo da Misericórdia, idêntica a outras postas a descoberto em plena Praça de Bocage. 

As grandes olarias produtoras de ânforas da região teriam de as mandar para armazéns antes de serem enviadas para o destino final e um desses armazéns encontrava-se precisamente perto dessas cetárias, nas traseiras da nossa Biblioteca Publica Municipal, mais precisamente na travesse João Galo. 

Mas, como tudo muda com o tempo, não deixa de ser curioso que aí mesmo, onde funcionou o armazém de ânforas haveria de surgir um monumental edifício romano, provavelmente destruído por qualquer violento sismo. Dele restou uma enorme cornija que hoje se encontra na Avenida Luisa Todi, junto ao Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. 

Esta enorme pedra de calcário tem o comprimento de 3,60 metros e uma largura de 0,72 por 0,34 de espessura. 

Mas, porque onde existe indústria circula mais dinheiro, também os romanos nos deixaram uma pequena amostra do muito que por aqui abundava e, alguém escondeu sem ter tido oportunidade de recuperar uns largos milhares de moedas, colocadas em duas grandes ânforas, que vieram a ser descobertas na antiga Rua Direita de Troino. 

Setúbal é uma localidade milenar e certamente serão muitos os setubalenses e muito mais os forasteiros que nos visitam que disso não tem noção, atendendo a que a nossa rica história pouco tem sido divulgada e o que resta do nosso património edificado não tem tido a devida valorização e divulgação, pelo que urge fazê-lo. 

Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com
2020-maio-04

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