Quando a boa apresentação não joga a favor
Benilde seria naquela época uma das poucas mulheres de
Troino que tinha completado o ensino básico, na escola da Casa dos Pescadores e,
ali mesmo, também aprendera a costurar.
Certo dia pensou ajudar financeiramente o marido,
pescador, e por isso, decidiu candidatar-se a um emprego de rececionista num
consultório médico que funcionava na baixa da cidade.
Vestiu-se a rigor com as roupas que ela mesmo habilmente costurava,
deu um jeitinho no cabelo e colocou umas cores no rosto de forma a parecer bem
na entrevista.
Azar!!! O entrevistador ao ver a agradável apresentação
da candidata nem perdeu muito tempo e logo lhe disse: - Ái menina, isto não é
emprego para si, é um trabalho muito simples…
Benilde ficou boquiaberta e desolada acabou por voltar
para casa onde continuou a ajudar a família, governando com sabedoria as parcas
finanças domésticas e tratando de costurar a roupa com que ela, o seu marido e
os seus filhos sempre envergaram e que eram alvo de atenção e reparo por parte
de vizinhos e amigos.
A setubalense Benilde até ao dia em que nos deixou sempre
manteve a mesma postura de uma mulher prendada, muito elegante e de fino bom
gosto, uma senhora que sempre soube dar muito boa conta da sua casa passando um
rico legado de valores aos seus dois filhos.
Rui Canas Gaspar
2021-dezembro-17