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sábado, 13 de fevereiro de 2021

 




Setúbal entre o verde e o azul

No último meio século a cidade de Setúbal cresceu bastante e, proporcionalmente ao aumento das novas construções, verificou-se a diminuição dos espaços verdes, então ocupados por diversas quintas onde predominavam os pomares de laranjeiras.

Curiosamente as colinas a poente da cidade apresentavam-se então quase despidas de vegetação como podemos constatar por fotos da época, uma situação que gradualmente viria a mudar, apresentando-se hoje esses espaços cobertos por milhares de arvores, sobretudo pinheiros.

E os novos inquilinos que se instalaram não só pelas encostas mas também por todos os terrenos disponíveis são de tal forma numerosos que hoje podemos observá-los ao longo de largas dezenas de hectares de zona envolvente aos fortes de S. Filipe e Casalinho, descendo pela encosta até ao da Albarquel, seguindo a mancha verde para poente até ao forte do Outão.

Na sequencia dos trabalhos de contenção de terras na encosta do nosso castelo está a proceder-se a um desbaste de arvoredo em torno do mesmo, provavelmente no âmbito das medidas de proteção contra incendios, o que permite a quem está na cidade ver o Forte de São  Filipe na sua plenitude, como já não acontecia á várias dezenas de anos.

Esta ampla mancha verde a norte do Sado, combinada com o lindo azul do nosso rio e Atlantico dá um enquadramento único a Setúbal que assim beneficia de uma boa qualidade ambiental oferecida pela Natureza que tão generosamente colocou à nossa disposição a serra e o mar.

Rui Canas Gaspar

Troineiro.blogspot.com

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

 



 

Os raros bolos setubalenses

Naquele tempo, passados pouco mais de meio século,  era quase um luxo poder comprar um bolo na pastelaria, fosse ele um disco, um pastel de nata, um bolo de arroz ou qualquer outro exposto na montra. É que o dinheiro era escasso demais para poder ser esbanjado nessas coisas mais ou menos supérfluas.

Não é pois de admirar que fosse com a maior alegria e contido consumo que se degustava o bolo feito pela mãe, depois de levar uma semana a guardar as natas obtidas após a fervura do leite, que o leiteiro, portando as suas bilhas e medidas, vinha vender á porta de casa.

Claro que pelo Natal logo tínhamos tempo de comer alguma guloseima, se o menino Jesus estivesse abonado e trouxesse algo mais que um par de meias, ou então que alguma vizinha partilhasse uma daquelas broas de milho que o patrão lá da fábrica de conservas tinha mandado a casa por intermédio do operário que ao longo do ano a vinha chamar com o tradicional “peixe pra já.

E que terna lembrança ficou daquela prima moradora no nosso Bairro de Troino quando da sua janela me pedia para ir à mercearia do César comprar um pouco de açúcar para adoçar o café, fazendo logo de seguida a promessa de quando se casasse me daria um bolinho da sua boda.

O curioso é que depois de tantos recados e serviços prestados um dia a prima casou-se com um vizinho lá da nossa Rua das Oliveiras e fosse pelo entusiasmo, pelos afazeres, ou por mero esquecimento das promessas feitas o facto é que nem sequer vi a cor dos tais prometidos bolinhos…

Abençoados tempos estes que vivemos onde não temos de esperar pelo Natal, por juntar as natas do leite que ferveu, ou pelo cumprimento de promessas não cumpridas, para podermos comer em qualquer dia do ano um dos muitos deliciosos bolos que hoje se nos apresentam.

Rui Canas Gaspar

2021-fevereiro-10

Troineiro.blogspot.com