Os
raros bolos setubalenses
Naquele
tempo, passados pouco mais de meio século, era quase um luxo poder comprar um bolo na
pastelaria, fosse ele um disco, um pastel de nata, um bolo de arroz ou qualquer
outro exposto na montra. É que o dinheiro era escasso demais para poder ser
esbanjado nessas coisas mais ou menos supérfluas.
Não é
pois de admirar que fosse com a maior alegria e contido consumo que se degustava
o bolo feito pela mãe, depois de levar uma semana a guardar as natas obtidas
após a fervura do leite, que o leiteiro, portando as suas bilhas e medidas,
vinha vender á porta de casa.
Claro
que pelo Natal logo tínhamos tempo de comer alguma guloseima, se o menino Jesus
estivesse abonado e trouxesse algo mais que um par de meias, ou então que
alguma vizinha partilhasse uma daquelas broas de milho que o patrão lá da
fábrica de conservas tinha mandado a casa por intermédio do operário que ao
longo do ano a vinha chamar com o tradicional “peixe pra já.
E que
terna lembrança ficou daquela prima moradora no nosso Bairro de Troino quando da
sua janela me pedia para ir à mercearia do César comprar um pouco de açúcar
para adoçar o café, fazendo logo de seguida a promessa de quando se casasse me
daria um bolinho da sua boda.
O
curioso é que depois de tantos recados e serviços prestados um dia a prima
casou-se com um vizinho lá da nossa Rua das Oliveiras e fosse pelo entusiasmo,
pelos afazeres, ou por mero esquecimento das promessas feitas o facto é que nem
sequer vi a cor dos tais prometidos bolinhos…
Abençoados
tempos estes que vivemos onde não temos de esperar pelo Natal, por juntar as natas
do leite que ferveu, ou pelo cumprimento de promessas não cumpridas, para
podermos comer em qualquer dia do ano um dos muitos deliciosos bolos que hoje
se nos apresentam.
Rui
Canas Gaspar
2021-fevereiro-10
Troineiro.blogspot.com
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