A palavra convence mas o exemplo
arrasta
Naquele tempo a vida em Setúbal era bem difícil, os
pescadores trabalhavam muito e ganhavam pouco e os vendavais eram mais fortes pondo frequentemente em risco as suas vidas.
A devoção dos homens do mar ao Senhor Jesus do Bonfim materializava-se
por vezes com a oferta das mais diferentes dádivas em função da graça recebida.
Naquele tempo podia-se observar muitos quadros de arte naif bem como pequenas replicas
de barcos de pesca expostos numa das salas daquela vetusta capela.
Esta devoção acabaria por atravessar o Atlântico e rumar
à Bahia onde muitos brasileiros tem um carinho muito especial pelo Senhor Jesus
do Bonfim, graças a idêntica imagem
levada de Setúbal para aquelas terras .
Era tarde de domingo, Francisco e Benilde levando pela
mão o seu pequeno filho, vindos de Troino, atravessaram o amplo parque verde e dirigiram-se
à capela. Entraram reverentemente e a mãe levando pela mão o menino subiu por
uma escada então existente nas traseiras
do altar de forma a chegar à base da imagem de Jesus crucificado. Nesse local
havia uma caixa de esmolas, onde a senhora entregou ao filho uma moeda de prata
para este depositar naquela caixa.
O casal vinha agradecer e mostrar gratidão pelo facto de
naquela quinzena o pescador ter sido abençoado com invulgar pescaria e como
ganhou mais entendeu por bem também distribuir por intermédio da Igreja.
Provavelmente Francisco e Benilde partiram desta vida e
nunca pensaram que um gesto tão simples viria a marcar para sempre a maneira de
ser e de estar de seu filho.
Por vezes os gestos mais simples encerram grandes ensinamentos
que a voragem dos tempos não consegue fazer esquecer, daí que ainda hoje me
lembro desta passagem de vida, tendo para mim que a palavra convence mas o
exemplo arrasta.
Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com