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quinta-feira, 31 de outubro de 2019


A “Rosita”

Manhã bem cedo, olho para a foz do Sado e nada mais observo para além de um denso manto de nevoeiro que teima em não mostrar a outra banda. 

Do meio do nada ouve-se o ruído de um motor e o estridente piar de numerosas gaivotas que acompanham aquele invisível barco de pesca que recolhe ao porto.

Os instrumentos de bordo ajudam aqueles heróis que com este tempo vão ao mar buscar o peixe com que nos deliciamos e que fazem dos nossos restaurantes uma referência gastronómica. 

Lembro-me de quando era rapaz ver sair a “Rosita”, a popular “vedeta” da Capitania, em dias que o mau tempo se anunciava, dirigindo-se para a zona da barra, onde ali chegada passava um cabo a cada bote a remos que por ali pescava de forma a rapidamente os rebocar para terra.

Esta embarcação que pertencia  à capitania do porto de Setúbal funcionava como uma mãe que na eminencia do perigo se apressava a ir recolher os filhos para os trazer para o lar, o seu porto de abrigo.

Hoje as embarcações de médio porte e até os botes já são movidos a motor e os novos pescadores já vão munidos de GPS, radares, sondas, telemóveis e demais equipamentos. Mas, o mar, o nevoeiro e o mau tempo continuam a não dar tréguas a estes valentes guerreiros que são os pescadores da nossa terra.

Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com
2019-outubro-31

segunda-feira, 7 de outubro de 2019


Obra de amor continua coberta por telas publicitárias 

Foi uma hora o tempo que despendi ontem para fazer  os quatro quilómetros de perímetro no futuro Parque Verde da Várzea, a fazer fé no relógio e na aplicação sobre saúde do meu telemóvel, responsável por esta informação. 

Aproveitei esta agradável caminhada  para observar com algum pormenor o que por ali já se fez e continua a fazer e não deixei de ir junto às telas publicitárias que envolvem o Mirante da Quinta da Azeda, para ver com os meus próprios olhos que aquela peça histórica ainda ali se encontra, devidamente escorada por fortes e bem travadas peças de andaime. 

Mais uma vez sorri ao ler texto da mensagem publicitária ao banco promotor que reza assim: “Juntos pela preservação da nossa História” e também mais uma vez pensei, pensei, mas não cheguei a qualquer conclusão. 

É que, qualquer coisa não bate certo. A palavra “juntos” remete-nos para uma qualquer parceria que neste caso como que a querer dizer que quer fazer tudo para “preservação da nossa História”.  Subentendendo-se que o banco e a Autarquia quererão manter e recuperar aquela que é uma das primeiras construções em betão armado erigidas em Portugal. 

Porém, até hoje não ouvi da boca de um dos responsáveis autárquicos algo que indicie que estão a fazer um esforço para que a peça (apresentada em tempos como o emblema do PUV) seja para recuperar, ao invés disso apresentam-nos um projeto de réplica, mal parida, destinada a ser construída e implantada algures no futuro parque. 

Gostaria de pensar que as contrapartidas  (e não devem ser pequenas) que se recebem do banco pela enorme publicidade, em lugar de grande destaque, estará a ir para um fundo de reserva que terá como objetivo a recuperação deste belo exemplar arquitetónico que um dia um agricultor setubalense mandou erigir por amor a uma mulher. 

Mas, será que haverá sensibilidade e sobretudo vontade para manter esta peça exposta em toda a sua beleza numa antiga cidade tão carenciada de apontamentos arquitetónicos de relevo? 

É que pode ser caro, mas o dinheiro quando se quer sempre se arranja e depois, será que não temos já por aí algum mealheiro com o dinheiro pago pelo banco que está a usufruir da publicidade inserida naquele espaço? 

São interrogações para as quais não tenho resposta, mas que gostaria de as ter. 

Rui Canas Gaspar
2019-outubro-06
Troineiro.blogspot.com