Uma vida gloriosa e um
final infeliz
Luísa
tinha a invulgar capacidade de cantar com a maior perfeição e expressão, não só
na sua própria língua materna, o português, como também em francês, alemão,
italiano e inglês, sendo considerada a meio-soprano mais célebre de todos os
tempos.
Nasceu
em Setúbal, no popular bairro de Troino, em 9 de janeiro de 1753, dois anos
antes do grande terramoto que destruiria boa parte desta localidade. Porém, ela
sobreviveria ao cataclismo vindo a falecer muito depois, com a vetusta idade de
80 anos, no primeiro dia de outubro de 1833.
Embora
nascida à beira do Sado, pouco tempo da sua longa vida aqui passou. Aos 14 anos
já cantava em Lisboa e, em 28 de julho de 1769, quando tinha apenas 16 anos, casaria
na capital do reino com um violinista napolitano, que lhe daria o apelido de
Todi.
Luísa
Todi cantou e encantou os poderosos de praticamente todas as mais importantes
cortes europeias da sua época e a admiração por ela era tão grande que Catarina
II da Rússia convidou-a conjuntamente com o marido e filhos para a sua corte,
tendo-a presenteado com joias fabulosas.
Um
dia, em 1793, vem a Lisboa por ocasião do batizado de mais uma filha do
herdeiro do trono, o futuro D. João VI. Aqui teve de ser ultrapassado um difícil
obstáculo. É que sendo proibido as mulheres cantarem em público, Luísa Todi
necessitou de uma autorização especial para o fazer.
A
sua carreira internacional terminaria em Nápoles no ano de 1799 e depois de
regressar a Portugal, ainda cantou no Porto em 1801, dois anos antes de
enviuvar.
Esta
rica cantora e cantora rica, viria a ficar pobre naquela cidade nortenha. É que
as tropas de Napoleão Bonaparte, invadiram a cidade invicta e na atribulada fuga,
quando atravessava a célebre ponte das barcas, em 1809, as suas joias
perder-se-iam para sempre no fundo do Douro.
A
nossa conterrânea que com a sua invulgar voz e enorme talento encantou meio
mundo, mudar-se-ia para Lisboa em 1811 cidade onde residiu até final da sua
vida.
Consta
que tenha sobrevivido com grandes dificuldades económicas e afetada por
cegueira.
Foi
sepultada perto do Chiado, no cemitério da Igreja da Encarnação, mas com a
construção de um edifício essa área ficaria por baixo das fundações do imóvel construído
nas traseiras da Igreja, mais concretamente no nº 78 da Rua do Alecrim.
O
maior vulto nascido em Setúbal, o expoente máximo do canto que Portugal já
teve, jaz sem qualquer glória sob o pavimento de uma cave lisboeta.
Setúbal
não esqueceu esta sua filha, dando o seu nome à mais importante avenida,
construindo-lhe uma glorieta e atribuindo o seu nome à principal sala de
espetáculos sadina.
Rui
Canas Gaspar
2015-abril-28
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