notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Viva Setúbal 

Depois de um assoberbado dia de trabalho, nada melhor para descontrair um pouco que um passeio à beira-mar, de preferência pelo Parque Urbano de Albarquel, provavelmente a melhor obra feita em Setúbal nas últimas décadas. 

E foi isso mesmo que acabei de fazer com a noite a cair e uma temperatura agradável debaixo de um céu azul-escuro que dava uma cobertura perfeita ao nosso calmo rio azul. 

Quando cheguei àquele espaço deparei-me com um agradável e suave aroma vindo do lugar  onde se estão a desenrolar as iniciativas da semana do mar e do pescador. 

E, foi de nariz no ar, que cheguei ao balcão e identifiquei os bivalves por aqui conhecidos por navalhas, já grelhados e prontos a comer. Não resisti e pedi uma doze que degustei ali sentado naquela improvisada e agradável esplanada. 

O palco estava montado e pouco depois o grupo estava a atuar, hoje deveria ter sido os “Amigos do Xico da cana” mas trocaram com o outro grupo típico setubalense “Os Alcorrazes”. 

Muita animação, muita festa, excelente ambiente foi o que nos proporcionou aquele grupo musical que no próximo dia 8 de julho irá apresentar no Fórum Municipal Luísa Todi o seu novo cd duplo, num evento, cheio de boas surpresas, que qualquer setubalense gostará de assistir. 

Setúbal é um mundo por descobrir e só quem se fecha na casca como o lingueirão não descobrirá o seu verdadeiro sabor, pela minha parte gosto mais assim bem aberto e com aquele aroma delicioso que me atraiu nesta noite que chega ao fim. 

E tal como cantaram os Alcorazes: “Vejam Setúbal, tirem a prova, das Fontainhas do Castelo à Fonte Nova”. Se calhar é por isso que eu prefiro ver Setúbal ao natural em vez de me contentar com a virtual. 

Boa noite, bom dia, ou boa tarde dependendo do local do mundo onde os amigos possam estar. 

Abreijos 

Rui Canas Gaspar
2017-maio-29

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A obra setubalense de Adães Bermudes 

No dia 4 de junho de 1891 nascia oficialmente em Setúbal a Associação dos Soldadores, os operários especializados que desempenharam um importante papel nas fábricas de conservas de peixe antes da introdução da maquinaria que viria a substitui-los naquela tarefa. 

Vinte anos após a formação desta associação de classe, a organização detentora de importantes fundos financeiros, inaugurava um belo edifício onde viria a funcionar a sua sede social. 

Coube ao conceituado arquiteto e político português Adães Bermudes, descendente de galegos, a tarefa de desenvolver este projeto entre muitos outros por demais importantes que constam no seu curriculum. 

O arquiteto republicano e membro da Maçonaria, distinguido com o prémio Valmor, conquistado em Lisboa no ano de 1908, foi o responsável por belos edifícios particulares e públicos, disseminados um pouco por todo o país, de onde se destacam os concebidos para o Banco de Portugal, entre eles o notável exemplar da cidade de Faro. 

Em 1911 Setúbal teria a honra de inaugurar uma obra com a assinatura deste mestre da arquitetura portuguesa, precisamente o edifício localizado no lado Sul no número 219 da Avenida Luísa Todi onde iria passar a funcionar a Associação de Soldadores. 

Os anos passaram e mais tarde o edifício, localizado ao lado do emblemático “Grande Salão Recreio do Povo” passaria a ter outras funções. 

Porém, o seu belo alçado principal ainda mantém todo o charme concebido pelo seu criador e continua a ser um ponto de referência na principal avenida sadina.

Rui Canas Gaspar 

2017-maio-29 


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domingo, 28 de maio de 2017

A padaria setubalense que virou espaço artístico 

Provavelmente algumas pessoas, vindas das bandas de Troino,  atravessariam a pequena ponte entre as duas margens da Ribeira do Livramento, ali bem perto da Capela do Carmo, para poderem entrar na Rua dos Sapateiros. 

Elas dirigiam-se à Padaria Carmona para adquirir o saboroso pão que ali se fabricava, bem perto do Largo do Sapal, tal como o faziam as pessoas importantes que residiam nesta zona central de Setúbal. 

Passados alguns anos a padaria foi vendida e os novos donos decidiram que aquele era o espaço adequado para fazer um bom café, um restaurante, uma espécie de clube para a elite setubalense onde se pudesse fumar, ler o jornal, discutir e até comer no Império, como assim foi então batizado. 

O novo proprietário encetou os necessárias trabalhos de adaptação tendo chamado para decorar o espaço o talentoso António Casimiro da Silva, que levou tempos e tempos a acabar a obra porque para além dos seus afazeres profissionais era um destacado militante anarquista. 

Mas, o facto é que o espaço ficou pronto e bonito e a clientela inicialmente não faltou àquele novo estabelecimento que, embora sem casa de banho, se apresentava dotado de lavatório com toalha, imagine-se o luxo!... 

Mas, como não há amor que sempre dure, certo dia também as dívidas do proprietário à banca levaram a que o imóvel fosse parar ao Montepio Geral que o acabaria por vender em hasta pública. 

E foi alguém mais endinheirado da capital que acabaria por adquirir o bonito e bem localizado edifício, arrendando-o posteriormente ao Clube dos Amadores de Pesca de Setúbal, que ali tiveram a sua sede e centro de convívio por cerca de meio século, até que dia chegou e dali partiram os últimos pescadores. 

As instalações estiveram então fechadas durante uns cinco anos até serem adquiridas por Lurdes Pólvora da Cruz que tratou de recuperar aquele lindo espaço, tentando combater o salitre, a degradação das paredes, melhorando os pavimentos e dando nova vida às obras de arte produzidas por António Casimiro Silva. 

Presentemente é ali bem perto da Praça de Bocage, na Rua de Augusto Cardoso que podemos apreciar este lindo exemplar arquitetónico, bem como as belas telas produzidas por esta artista que deu vida nova a este antigo espaço setubalense tão recheado de história e de estórias. 

Rui Canas Gaspar

2017-maio-28
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sábado, 27 de maio de 2017

Um quase desconhecido artista setubalense

Quem passa pelo Bairro Salgado, outrora o mais seleto da cidade de Setúbal, local de residência da antiga burguesia sadina, não deixará de reparar naquelas construções com aspeto cuidado, onde não faltam apontamentos decorativos dos mais diversificados estilos, pontuando sobretudo a arte nova.

Porém, ao olhar com alguma atenção para aqueles edifícios verificamos que algumas destas elegantes moradias, maioritariamente construídas no final do século XIX princípio do XX, ostentam pormenores curiosos como aquela localizada na Rua Garcia Peres, nº 32, que faz esquina com a Rua Gama Braga, cujos topos dos alçados estão decorados com bonitos baixos-relevos designados pelo artista como “fantasia”.

Curiosamente, noutro ponto da cidade, na Rua Augusto Cardoso, antiga Rua dos Sapateiros, vamos encontrar outro belo edifício, bem conhecido dos setubalenses por ali ter funcionado durante muitos anos o Clube dos Amadores de Pesca de Setúbal e presentemente ser o local onde está instalada a galeria e atelier de arte de Lurdes Pólvora da Cruz.

Também neste imóvel encontramos vários trabalhos em talha que decoram interior e exteriormente aquele espaço e que lhe dão uma beleza simples como só os verdadeiros artistas sabem proporcionar aos comuns mortais.

Ambos os imóveis têm em comum o facto de terem tido a intervenção artística do mesmo homem, um pescador, que na primeira metade do século XX viria a enveredar pela arte de marceneiro entalhador e que ficaria bem conhecido na sua cidade natal como um destacado militante anarquista.

António Casimiro da Silva, artista de grande mérito para além da sua atividade profissional foi também secretário da poderosa União de Sindicatos Operários de Setúbal.

A sua dinâmica ação revolucionária levou-o à prisão quando ousou opor-se à participação de Portugal na Grande Guerra e voltou de novo ao cárcere quando se envolveu nas lutas contra a governação de Sidónio Pais.

Este artista e combatente setubalense não deixaria descendência, embora a sua companheira Laura de Sousa lhe tivesse dado um filho, Reclus Sousa da Silva, o facto é que o rapaz viria a falecer ainda muito jovem.

Mas se dele não ficou descendência, para a posteridade ficaram as suas obras de arte que esperemos sejam preservadas ao longo de muitos e muitos anos tal como a sua memória de artista e combatente.

Rui Canas Gaspar
2017-maio-27

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Vá para fora cá dentro, de Setúbal pois claro! 

Quem pouco sai de casa e não dá umas voltas pela cidade dificilmente se dá conta do desusado movimento que por aqui cada vez se verifica com mais intensidade, quer de setubalenses quer dos forasteiros que cada vez são em maior número. 

Para aproveitar este fluxo não é pois de admirar que a alentejana Câmara do Redondo tivesse aqui vindo promover a sua festa das flores com um bonito e sugestivo pavilhão que implantou em plena Avenida Luísa Todi. 

Também neste fim-de-semana Setúbal decidiu honrar as flores com um verdadeiro festival e a cidade mais uma vez animou-se com muita gente nas ruas da baixa, quer durante o dia quer à noite onde a música e a dança teve lugar. 

Curiosamente tive oportunidade de verificar a existência de várias excursões que demandaram a nossa cidade vindas de vários pontos do país e do estrangeiro. Mas, o mais curioso foi também ver passear pela cada vez mais cosmopolita Setúbal, africanos usando as lindas vestes típicas do Senegal, indianas com os seus saris e até outro tipo de turistas/aventureiros que deslocando-se de bicicleta percorrem o mundo, sem esquecer a bela Setúbal. 

E foi precisamente à frente da vetusta e popular Mercearia Américo que os exóticos viajantes pararam para se abastecerem naquela casa que funciona de manhã à noite, todos os dias do ano. 

Setúbal é de facto uma terra que urge partir à descoberta, inclusive por alguns dos próprios setubalenses de nascimento ou de adoção que certamente muito terão ainda para conhecer, recomendando-se por isso o velho slogan propagandístico e que tão bem aqui se adequa: “Vá para fora cá dentro” . 

Rui Canas Gaspar 

2017-maio-27 


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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Setúbal acompanha os tempos e o vento de feição 

Foi na Escola Industrial e Comercial de Setúbal, quando era menino, que aprendi caligrafia e a arte de bem escrever as letras inglesa, francesa e gótica, habilmente ensinadas a milhares de setubalenses pelo professor Camalhão. 

Mas, provavelmente este homem de ar severo não teria sido professor se não tivesse um pai com possibilidades financeiras acima da média, atendendo aos tempos difíceis que então se vivia na nossa terra. 

Seu pai era horticultor e mandou erigir algumas casas na Horta da Rã, ao lado da Quinta das Rosas, onde hoje está a funcionar o Mac’Donalds, no Rio da Figueira. Por isso não é de admirar que a horta também fosse conhecida pela Quinta do Camalhão. 

E foi precisamente neste espaço, que se encontrava desativado das suas funções agrícolas há bastantes anos que hoje pude assistir a três máquinas em operações, uma que derrubava as construções, outra que tritorava o entulho transformando-o de novo em terra e a terceira que recolhia a madeira velha. 

Muito mais rápido que o amigo Camalhão haveria de supor as suas construções foram transformadas de novo em terra, embora por ali ainda não seja visível qualquer anúncio obrigatório sobre a demolição em curso ou a obra que irá ser erigida. 

Sabe-se, no entanto, que naquele espaço irá nascer um supermercado Continente, com um piso subterrâneo destinado ao necessário parqueamento, coisa que o Mac’Donalds não previu e por isso utilizou parte do terreno do vizinho temporariamente, sofrendo agora as consequências com a quebra de clientela. 

Aquela zona da cidade dentro em breve estará irreconhecível, não só com esta construção mas porque também o velho edifício frente ao restaurante e onde se localiza a conhecida taberna “Vendaval” já foi vendido e em breve será também alvo de obras de recuperação. 

Setúbal acompanha os tempos e ventos que sopram de feição alindando-se e modernizando-se. Quer os particulares quer a autarquia estão a fazer as coisas acontecer, o que naturalmente será bom para todos os setubalenses e para quem nos visita. 

Rui Canas Gaspar
2017-maio-19

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terça-feira, 2 de maio de 2017

O meu obrigado ao Hospital de São Bernardo 

Nos anos seguintes à revolução de 25 de abril de 1974 muitos casais setubalenses optavam por ir ter os seus bebés a clínicas particulares de Lisboa, duvidando dos recursos disponibilizados pelo nosso Hospital de São Bernardo. 

Em nossa casa discutimos o assunto e optamos por este hospital para local de nascimento dos nossos filhos, sem nunca nos termos arrependido da decisão tomada devido ao impecável tratamento de que fomos alvo. 

Das raras vezes que tomei contacto com os seus serviços nunca tive razão de queixa, embora por vezes o tempo de espera para quem está doente seja sempre preocupante. 

Este ano devido à doença que afetou o meu pai tive de ir lá por três vezes e de todas elas fomos atendidos com a máxima eficiência e profissionalismo, surpreendendo-nos o facto de a última consulta estar marcada para as 16,00 e faltavam dois minutos para a hora agendada quando o altifalante nos chamava para o consultório médico… 

Independentemente da pontualidade, os dois médicos que nos atenderam, foram de um profissionalismo e sensibilidade indescritível, mostrando-se muito bons conhecedores do processo clínico do paciente. 

Já tenho acompanhado doentes a hospitais particulares onde os médicos quase nem levantam a cabeça para olhar o doente recebendo-nos como se de um frete se tratasse. 

Igualmente tenho ido a consultórios particulares onde os horários não são para cumprir e onde se paga a peso de ouro. 

Se eu tivesse de classificar, numa escala de 0 a 20, certamente não daria menos de 19 ao Hospital de São Bernardo, um estabelecimento de que muito me orgulho enquanto setubalense. 

Cada um tem a sua experiência, eu tenho a minha, e deixo este testemunho e agradecimento pela forma como sempre tenho sido bem atendido neste hospital público, sem “conhecimentos” e sem “cunhas” mas como simples cidadão setubalense. 

Rui Canas Gaspar

2017-maio-02