Abençoados homens que
estão a construir a nossa cidade
Aquelas
calejadas mãos, tão duras como a própria pedra, não param por um momento e, enquanto
uma maneja habilmente o pequeno martelo com que esgravata a terra e bate na pequena
pedra para a ajeitar devidamente no respetivo lugar, a outra vai segurar a
próxima que irá ser colocada.
De
cócoras ou de joelho no chão e com o sol abrasador eles não param de manhã à
noite. Normalmente trabalham de empreitada e quantos mais metros fizeram mais
ganharão e porque se trata de um trabalho desenvolvido ao ar livre têm de
aproveitar o tempo não chuvoso, porque quando a chuva vier não podem trabalhar
na sua arte e nesse caso nada ganharão.
A
equipa de calceteiros que tem estado a trabalhar nas obras de renovação da
Avenida Independência das Colónias, em Setúbal despertaram a natural curiosidade
no meu neto, quando o levei para ver de perto os trabalhos em curso e poder
apreciar a quantidade e diversidade de maquinaria envolvida, desde a fresadora
de pavimento, à máquina de espalhar o material betuminoso, ao cilindro, aos camiões
de transporte, equipamentos manobrados por especializados operários.
Também
uma equipa de eletricistas desenvolvia a sua atividade retirando postes de
iluminação e substituindo-os por outros mais adequados ao novo traçado da via.
O
menino teve assim oportunidade de apreciar, bem de perto, como se fazem as ruas
e avenidas da sua terra e o trabalho que isso dá.
Não
é pois de admirar que embora as máquinas lhe tenham despertado mais curiosidade
a sua atenção tivesse sido centrada naqueles calceteiros que não paravam de
colocar dezenas, ou centenas de milhares de pequenas pedras com área média de
5x5 centímetros.
O
rapaz não deixou de ir bem para junto da equipa observar como aqueles
profissionais faziam o seu trabalho e perguntou-lhes. – Não se cansam? Um destes
homens de mãos duras, mas certamente de coração mole, sorriu para a criança e
respondeu. – Sim cansamo-nos muito, à noite quando vamos para a cama dói-nos o
corpo todo!
Passados
alguns minutos saímos de junto dos calceteiros para ir observar o trabalho das
máquinas que estavam a colocar o novo tapete betuminoso na avenida.
Porém,
quer para o neto quer para o avô ficou o testemunho daquele habilidoso calceteiro,
que mesmo ao domingo continua na sua imparável tarefa, apenas fazendo um curta
pausa para almoçar aquilo que trouxe na marmita.
Foi
uma pequena trégua que o trabalho lhes deu, acrescido do luxo de o ter feito à
sombra de uma abençoada e frondosa árvore desta avenida.
A
partir deste fim de semana o menino certamente que passará a ter uma maior
admiração e respeito por estes homens que constroem a sua cidade e se vir
alguma pedrinha fora do lugar deverá sentir o desejo de logo a colocar no
espaço que lhe foi destinado.
Rui
Canas Gaspar
2016-julho-31
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