Obra de amor continua
coberta por telas publicitárias
Foi
uma hora o tempo que despendi ontem para fazer
os quatro quilómetros de perímetro no futuro Parque Verde da Várzea, a
fazer fé no relógio e na aplicação sobre saúde do meu telemóvel, responsável
por esta informação.
Aproveitei
esta agradável caminhada para observar com
algum pormenor o que por ali já se fez e continua a fazer e não deixei de ir
junto às telas publicitárias que envolvem o Mirante da Quinta da Azeda, para
ver com os meus próprios olhos que aquela peça histórica ainda ali se encontra,
devidamente escorada por fortes e bem travadas peças de andaime.
Mais
uma vez sorri ao ler texto da mensagem publicitária ao banco promotor que reza
assim: “Juntos pela preservação da nossa História” e também mais uma vez
pensei, pensei, mas não cheguei a qualquer conclusão.
É
que, qualquer coisa não bate certo. A palavra “juntos” remete-nos para uma
qualquer parceria que neste caso como que a querer dizer que quer fazer tudo
para “preservação da nossa História”. Subentendendo-se
que o banco e a Autarquia quererão manter e recuperar aquela que é uma das
primeiras construções em betão armado erigidas em Portugal.
Porém,
até hoje não ouvi da boca de um dos responsáveis autárquicos algo que indicie
que estão a fazer um esforço para que a peça (apresentada em tempos como o
emblema do PUV) seja para recuperar, ao invés disso apresentam-nos um projeto
de réplica, mal parida, destinada a ser construída e implantada algures no
futuro parque.
Gostaria
de pensar que as contrapartidas (e não
devem ser pequenas) que se recebem do banco pela enorme publicidade, em lugar
de grande destaque, estará a ir para um fundo de reserva que terá como objetivo
a recuperação deste belo exemplar arquitetónico que um dia um agricultor
setubalense mandou erigir por amor a uma mulher.
Mas,
será que haverá sensibilidade e sobretudo vontade para manter esta peça exposta
em toda a sua beleza numa antiga cidade tão carenciada de apontamentos
arquitetónicos de relevo?
É
que pode ser caro, mas o dinheiro quando se quer sempre se arranja e depois,
será que não temos já por aí algum mealheiro com o dinheiro pago pelo banco que
está a usufruir da publicidade inserida naquele espaço?
São
interrogações para as quais não tenho resposta, mas que gostaria de as ter.
Rui
Canas Gaspar
2019-outubro-06
Troineiro.blogspot.com
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