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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 


Quando a boa apresentação não joga a favor


No início dos anos 50 do século passado os períodos de defeso da pesca da sardinha, que coincidiam com os terríveis dias de Inverno, eram espaços de tempo onde a fome e a miséria atingiam o auge na cidade de Setúbal, cuja população vivia maioritariamente, direta ou indiretamente, da pesca.

Benilde seria naquela época uma das poucas mulheres de Troino que tinha completado o ensino básico, na escola da Casa dos Pescadores e, ali mesmo, também aprendera a costurar.

Certo dia pensou ajudar financeiramente o marido, pescador, e por isso, decidiu candidatar-se a um emprego de rececionista num consultório médico que funcionava na baixa da cidade.

Vestiu-se a rigor com as roupas que ela mesmo habilmente costurava, deu um jeitinho no cabelo e colocou umas cores no rosto de forma a parecer bem na entrevista.

Azar!!! O entrevistador ao ver a agradável apresentação da candidata nem perdeu muito tempo e logo lhe disse: - Ái menina, isto não é emprego para si, é um trabalho muito simples…

Benilde ficou boquiaberta e desolada acabou por voltar para casa onde continuou a ajudar a família, governando com sabedoria as parcas finanças domésticas e tratando de costurar a roupa com que ela, o seu marido e os seus filhos sempre envergaram e que eram alvo de atenção e reparo por parte de vizinhos e amigos.

A setubalense Benilde até ao dia em que nos deixou sempre manteve a mesma postura de uma mulher prendada, muito elegante e de fino bom gosto, uma senhora que sempre soube dar muito boa conta da sua casa passando um rico legado de valores aos seus dois filhos.

Rui Canas Gaspar

2021-dezembro-17

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