Recordando o bombeiro José de Sousa
Embora estivéssemos em janeiro a manhã
apresentava-se com uma amena temperatura, pelo que se tornava agradável andar
um pouco pelo meu velho Bairro de Troino, depois de ter tratado dos assuntos de
ordem profissional que me propus desenvolver nesta manhã.
Gosto de observar as gentes da minha terra, as
casas onde muitos dos meus amigos e pessoas conhecidas viveram. Enquanto ia
olhando um pouco para todo o lado dei comigo a sorrir com o pensamento que
tinha tido há muitos anos quando me dei ao trabalho de contar as pessoas que
tinha cumprimentado desde que saíra de casa até chegar à Praça do Bocage. Foram
mais de trinta…
Naquele tempo parece que toda a gente se conhecia.
Hoje, depois de mais de uma hora a andar parei junto de um dos cinco passos
existentes em Setúbal, a capelinha dedicada a São Marçal, patrono dos bombeiros
e até esse momento não tinha aparecido ninguém conhecido.
Estive a apreciar aquela capelinha, outrora sempre
limpa e bem tratada e onde na época natalícia podíamos ver um grande e bem
elaborado e tradicional presépio, que carinhosas e calejadas mãos tomavam à sua
responsabilidade.
Vi, apreciei, fotografei e fiquei desgostoso com o
ar triste a que a mesma se encontra, com vidro partido, reboco a cair, fios
elétricos pendurados e um aspeto de abandono, condizente com muitas das
habitações da zona da minha meninice.
Pensativo, deixo aquele local e entro na Rua
Direita de Troino, e eis que me cruzo com um homem que vem andando devagar
apoiado numa canadiana. Reconheço-o, cumprimento-o, é a primeira saudação do
dia. Ele não me conhece, são quase quinze anos de diferença que nos separam,
ele era já um homem enquanto eu não passava de um puto.
Paro e entabulo conversa com aquele homem que não
me conhecia, embora a sua imagem me tivesse ficada retida na memória ao longo
de décadas.
José de Sousa, 79 anos, nascido em Troino, na Rua
do Castelo, bombeiro, era ele que tratava daquela capelinha até 2011, a sua
saúde já não lhe permite desenvolver essa tarefa como outrora o fez com tanto
carinho e empenhamento. O mesmo empenhamento que colocou ao serviço dos seus
conterrâneos no combate a centenas de fogos na nossa terra.
Hoje o nosso amigo José de Sousa teve oportunidade
de encontrar alguém com quem conversar uns minutos sobre um assunto que tanto
lhe diz e ao referir-se àquela e à outra capelinha existente no Larga da
Veronica, que também cuidava não deixa de se manifestar de forma verbal
violenta contra um antigo presidente da Câmara que mandou arrancar os azulejos
que ele próprio colocara naqueles espaços, propriedade da Santa Casa da
Misericórdia de Setúbal.
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