As boas memórias que ficaram da “nossa” Comenda
A minha ficha de escuteiro regista o ano de 1961 como sendo
o do primeiro acampamento que fiz na Herdade da Comenda, no sítio de Almelão, a
cerca de 1 km para o interior da foz da Ribeira da Ajuda.
Desde essa data até à minha saída do ativo escutista foram
dezenas de noites de campo em acampamentos levados a cabo no interior da “nossa”
Comenda.
É bom notar que já naquele tempo, antes da revolução da
25 de abril de 1974, o espaço encontrava-se vedado em grande parte da herdade e
antes de acamparmos solicitávamos a devida autorização ao representante do
proprietário.
Não me recordo do rosto do guarda da propriedade no tempo
do Conde Armand, mas registei o nome de Chacatas ou Xacatas a quem geralmente dirigíamos
o pedido de autorização para acampar debaixo daqueles enormes eucaliptos, na
margem da ribeira e junto à mina de água.
Pouco antes da “Revolução dos Cravos” a herdade foi
vendida à TORRALTA, que acabou por a entregar como dação em pagamento ao Banco
Pinto & Sotto Mayor, que por sua vez vendeu a António Xavier de Lima. Após
o seu falecimento os herdeiros
alienariam à Seven Properties – Sociedade de Investimentos Imobiliários S.A.,
atuais detentores desta enorme propriedade, em pleno Parque Natural da
Arrábida.
Aquando na posse de António Xavier de Lima os escuteiros
continuaram a acampar naquele magnifico espaço, que permitia as mais diferentes
aventuras e a propriedade continuou a ser devidamente guardada desta vez por António Chinita cuja imagem aqui mostramos e onde também se podem ver
alguns dos belos painéis de azulejos, rapidamente furtados e vandalizados
quando este que foi o último guarda das instalações deixou de exercer a sua
atividade.
Presentemente a casa apalaçada arquitetada por Raúl Lino
encontra-se recuperada, a propriedade está a ser limpa e ordenada e, se alguns
setubalenses e demais utentes daqueles espaços estão tristes por não os poderem
agora utilizar, outros ficarão satisfeitos pela recuperação levada a cabo pelos
novos proprietários.
Quanto a mim, ficaram as memórias do tempo de juventude e
de muitos e bons momentos de salutar convívio e das histórias contadas à volta
da fogueira, naquelas noites estreladas, como só as vivi na “nossa” Comenda.
Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com
2021-outubro-29
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