Maria, peixe pra já!
Naquele tempo, em meados do século passado, eram muitas
as fábricas de conserva de peixe que laboravam um pouco por toda a cidade de
Setúbal.
A pesca era abundante e os barcos faziam fila para vender
o pescado, sobretudo sardinha, destinado à dinâmica indústria conserveira.
Logo que o fabricante comprava o peixe na lota a fábrica
fazia soar a sua estridente sirene e identificada pelo diferente som as
operárias saiam de casa correndo na direção da mesma afim de ocuparem o seu
posto de trabalho, fosse a que horas fosse, de manhã, de tarde, ou mesmo de
noite.
Mas, para reforçar o sonoro aviso algumas fábricas ainda
mandavam um “moço”, normalmente vestido de calça curta e camisa de ganga de cor
azul, montado numa bicicleta (pasteleira) passar pela casa de cada uma das
operárias afim de chamá-las ao serviço, gritando na rua, “Maria, peixe pra já!”.
E, as Marias, largavam tudo o que estavam a fazer,
agarravam no avental, na toca e na tesoura, enfiavam os chinelos nos pés e
corriam rua afora deixando tudo para trás de forma a chegar ao local de trabalho
atempadamente, não fossem atrasar-se e a mestra já não as deixar entrar
perdendo assim a oportunidade de trazer alguns magros centavos para casa.
E quantas crianças, ainda bebés, não foram mamando pelo
caminho e já na fábrica ficariam a dormir no interior de alguma caixa de
madeira, servindo de berço, enquanto a sua esforçada mãe trabalhava para prover
o seu sustento?
Eram tempos difíceis aqueles que tantos e tantos homens e
mulheres da nossa terra vivenciaram e ainda hoje perduram na memória de muitos
setubalenses.
Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com
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