A Adega da Ti Procópia

Descobri
mais esta novidade setubalense ao passar hoje na Rua Praia da Saúde, frente à
doca dos Pescadores, onde irá funcionar este novo equipamento.
Ao
olhar para o edifício onde dentro de alguns dias muitos pares irão dançar
recuei no tempo, mais de meio século, e lembrei-me quando ali funcionava a
Adega da Ti Procópia.
E
tenho bem gravada na memória a imagem da Ti Procópia sentada num banco de
madeira, no primeiro andar, com uma lata de folha-de-flandres, ao colo cheia de
rebuçados, enquanto seu marido, o taberneiro, atendia os muitos pescadores que
ali iam beber o seu copito de tinto.
Minha
mãe era amiga da dita senhora e tinha ido visitá-la e eu acompanhava-a e, foi
então, que tive aí a minha primeira lição de técnica comercial. A Ti Procópia desembrulhava
um a um os rebuçados. Dentro do papel que o envolvia havia um cromo com a
imagem de um jogador de futebol. Muitos desses cromos eram repetidos apenas um
deles era único e a esse os rapazes chamavam do “mais custoso”.
Alguns
dos rebuçados tinham um cromo que dava direito a um pequeno prémio, porém o
mais apetecível era o “mais custoso” que daria direito à bola catchumbo. Uma
riqueza! É que a maioria do pessoal jogava futebol com uma feita de uma meia
cheia de trapos velhos.
Os
rapazes e alguns adultos iam comprando os rebuçados na esperança de lhe sair a
desejada bola e a Ti Procópia fazia o seu trabalho de casa antes de colocar os
rebuçados à venda. Tratava de descobrir o “mais custoso” para o colocar lá no
fundo da lata de forma a que fosse o último ou dos últimos a ser vendido.
Assim,
todos iam comprando os rebuçados na esperança de lhe sair a bola que só sairia
mesmo quando a lata dos rebuçados estive vazia, é que havia sempre alguém para “rebentar
a lata” ou seja, para comprar os últimos rebuçados e desta maneira conseguir o
almejado prémio.
Faço
sinceros votos para que os novos proprietários da futura escola de dança tenham
feito bem o seu trabalho de casa, tal como a Ti Procópia o fazia, para que o
seu espaço se desenvolva e floresça e seja uma mais-valia para a cidade e para
os seus empreendedores.
Rui
Canas Gaspar
2014-fevereiro-13
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