Um valioso prémio sorteado na Feira de Santiago
Naquele ano de mil novecentos e vinte e qualquer coisa o
jovem pescador setubalense Artur Canas, quando a noite refrescava, em Agosto, saiu
de sua casa no Bairro de Troino e foi até à Feira de Santiago para se divertir um
pouco.
Naquele tempo, na feira, para além das habituais
diversões, existiam várias barracas onde os visitantes podiam comprar rifas na
esperança de lhes sair algum interessante prémio.
Artur decidiu testar a sua sorte e, para seu espanto, ao
desembrulhar o papelinho verificou que o número inscrito correspondia a um bom
prémio.
Imagine-se que, numa altura em que não seriam muitos os
pescadores que dispunham de relógio foi precisamente um que calhou em sorte a
este setubalense. Porém, não se tratava de um relógio de pulso, mas sim de uma bela
peça de cerâmica, com cerca de 15 cm de altura, em forma de casinha.
O pescador, bastante contente com a sua sorte, acabaria
por levar o relógio para bordo do barco de pesca, onde lhe fez companhia ao
longo de anos, até que os salpicos de água salgada danificaram a máquina
tornando-a inoperacional.
Mas, porque a peça era bem bonita, mesmo sem a mesma funcionar,
ficou a servir lá em casa como motivo decorativo.
Os anos passaram, Artur e sua esposa faleceram, a peça de
cerâmica passou para a filha que também viria a falecer e esta lembrança
acabaria por ficar ao seu neto Rui.
O curioso é que, bem visível, na base da peça está o
símbolo da mais prestigiada fábrica de cerâmica portuguesa, a Vista Alegre e,
como se isso não fosse suficiente ali está igualmente inscrito “centenário 1824
– 1924” ou seja uma rara peça comemorativa do primeiro centenário desta
instituição que em breve fará 200 anos.
Era assim a Feira de Santiago, naqueles tempos em que eram
colocadas para sorteio peças verdadeiramente interessantes e até valiosas ao
invés dos peluches e plásticos com que hoje nos brindam.
Anos mais tarde calhar-me-ia a mim herdar a tradição de
ser o feliz contemplado com diferentes prémios nas barracas de roleta na Feira
de Santiago quando esta se realizava na Avenida Luísa Todi, e raro era a vez
que comprava rifas e não me saíam prémios, mas nunca por lá vi algo de valor tão
significativo como aquele prémio com que o meu avô Artur Canas foi bafejado.
Rui Canas Gaspar
Troineiro.blogspot.com
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