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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Frei Martinho desceu à cidade de Setúbal

Quando Frei Martinho chegou em 1539 à Serra da Arrábida ficou deslumbrado com a beleza da paisagem e desabafou dizendo: “Se não estou no céu estou nos arrabaldes”.

Não sei se ele teria passado pelo arrabalde que naquele tempo era conhecido pela Herdade Barbuda, um amplo terreno adquirido uns anos antes pelo rei D. Manuel I para ali plantar um bonito jardim.

E assim aconteceu. As árvores e flores foram plantadas e ao longo dos séculos o espaço foi-se modificando, alindando ao gosto da época e chegou até aos nossos dias tal como o conhecemos pela atual designação de Parque do Bonfim.

Nestes últimos meses o parque tem vindo a sofrer obras de melhoramento e hoje mesmo vimos chegar meia dúzia de personagens que vieram assentar arraiais guiados pelo frade arrábido que desceu lá do conventinho até aos arrabaldes conhecido por Setúbal, sem mesmo trazer qualquer garrafa de Arrabidine, cujo segredo de fabrico tão bem conhece.

E para que o caminho não lhe custasse tanto convidou os amigos, Bocage, Luísa Todi, Dona Vinha, Descarregador de Peixe e Maria Baía que lhes fizeram companhia, tagarelando todo o caminho sobre os assuntos relacionados com a cidade que vinham visitar.

Falaram do alindamento e das novas cores com que têm sido pintados os edifícios municipais, das ervas que proliferam pela cidade, do lixo que não cabe nos contentores, do cócó dos cãezinhos cujos asseados donos não se dobram para apanhar, das muitas recuperações de imóveis que estão a acontecer sobretudo na baixa da cidade e da anunciada marina e zona envolvente, sem que deixassem de debater o tema obrigatório do IMI alto que se farta e das melgas da Feira de Santiago.

Claro está que cada um tem e emite a sua douta opinião pelo que não chegaram a acordo, sentenciando Bocage: “cada cabeça, cada sentença!”

Melhor para uns, nem por isso para outros, numa coisa todos estiveram de acordo é que Setúbal está muito diferente e, para melhor!

E assim, conseguiram levar de vencida aqueles cerca de 16 quilómetros que distam do convento de Santa Maria de onde vieram até à antiga Herdade Barbuda onde agora todos se encontram à espera que os visitem.

Porém, como a tradição já não é o que era, frei Martinho quis ser fotografado para que a sua imagem ficasse para a posteridade neste dia em que chegou ao parque do Bonfim que cada vez está mais bonito, como acontece com os arrabaldes a nascente da sua casa.

Rui Canas Gaspar
2016-setembro-27

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