Os setubalenses estão a
acorrer em força à Culsete
O
quente dia de Outono mais parecendo um belo dia de Verão estava a chegar ao fim
e Fátima Medeiros, cansada e transpirada ainda se encontrava ao balcão da
CULSETE a mais antiga livraria de Setúbal, que anunciou o seu encerramento,
apanhando muitos setubalenses de surpresa.
Já
lá vão três anos que Manuel Medeiros nos deixou, o homem que em 1973 abriu aquela
casa. Ele, açoriano de nascimento decidiu deixar a vocação de padre casando-se
com Fátima e estabeleceu-se em Setúbal com a Culdex, que pouco anos depois
daria origem a Culsete.
Mais
do que uma livraria a Culsete viria a afirmar-se como uma casa de cultura e uma
referência no panorama nacional como livraria independente.
Fátima
Medeiros não se queixa do negócio e esse não foi o motivo para a decisão que
tomou, se não fosse a doença que a apoquenta não seria tão cedo que a Culsete encerraria
portas, mas se a vontade e o gosto pela cultura e pelos livros é forte a doença
não perdoa nem dá tréguas.
Hoje
fui encontrar esta mulher culta, formada com curso superior e autora de vários
livros, à frente do balcão, cansada devido ao extenso dia de trabalho sob uma
temperatura pouco agradável, mesmo assim sorridente pelo facto das vendas
estarem a correr provavelmente melhor do que imaginara e assim sendo os livros
irem parar às mãos de pessoas que gostam deles, sem ter de passar por um
qualquer alfarrabista.
Muitos
setubalenses têm vindo a acorrer à livraria para adquirir toda a sorte de obras,
algumas a baixo preço, outras a preço normal. Mas, em todos os clientes reparei
no desejo de contribuir de uma forma solidária para a liquidação do stock e ao
mesmo tempo observei a manifestação de tristeza pelo encerramento deste local
de cultura genuína.
Tive
oportunidade de escutar da boca de uma cliente a novidade de que até o
Presidente da República, homem de cultura, já tinha sido informado, podendo até
vir, quem sabe, a passar pela Culsete. Curiosamente essa mesma cliente,
deputada municipal, fazia compras com o seu jovem filho e da pilha de livros
que escolhera também lá iam três títulos de minha autoria, o que, naturalmente,
me deixou satisfeito como autor.
Se
por um lado fico triste com o encerramento da mais antiga livraria da minha
terra, mais uma vez reconheço que para os meus conterrâneos a solidariedade não
é palavra vã e embora possamos discordar disto e daquilo, quando é necessário
somos capazes de atitudes da mais genuína solidariedade e disso mesmo é prova a
afluência que se está a verificar à Culsete a mais antiga livraria setubalense
com encerramento anunciado.
Rui
Canas Gaspar
2016-setembro-29
www.livrosdorui.blogspot.com
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