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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Os setubalenses estão a acorrer em força à Culsete 

O quente dia de Outono mais parecendo um belo dia de Verão estava a chegar ao fim e Fátima Medeiros, cansada e transpirada ainda se encontrava ao balcão da CULSETE a mais antiga livraria de Setúbal, que anunciou o seu encerramento, apanhando muitos setubalenses de surpresa.

Já lá vão três anos que Manuel Medeiros nos deixou, o homem que em 1973 abriu aquela casa. Ele, açoriano de nascimento decidiu deixar a vocação de padre casando-se com Fátima e estabeleceu-se em Setúbal com a Culdex, que pouco anos depois daria origem a Culsete.

Mais do que uma livraria a Culsete viria a afirmar-se como uma casa de cultura e uma referência no panorama nacional como livraria independente.

Fátima Medeiros não se queixa do negócio e esse não foi o motivo para a decisão que tomou, se não fosse a doença que a apoquenta não seria tão cedo que a Culsete encerraria portas, mas se a vontade e o gosto pela cultura e pelos livros é forte a doença não perdoa nem dá tréguas.

Hoje fui encontrar esta mulher culta, formada com curso superior e autora de vários livros, à frente do balcão, cansada devido ao extenso dia de trabalho sob uma temperatura pouco agradável, mesmo assim sorridente pelo facto das vendas estarem a correr provavelmente melhor do que imaginara e assim sendo os livros irem parar às mãos de pessoas que gostam deles, sem ter de passar por um qualquer alfarrabista.

Muitos setubalenses têm vindo a acorrer à livraria para adquirir toda a sorte de obras, algumas a baixo preço, outras a preço normal. Mas, em todos os clientes reparei no desejo de contribuir de uma forma solidária para a liquidação do stock e ao mesmo tempo observei a manifestação de tristeza pelo encerramento deste local de cultura genuína.

Tive oportunidade de escutar da boca de uma cliente a novidade de que até o Presidente da República, homem de cultura, já tinha sido informado, podendo até vir, quem sabe, a passar pela Culsete. Curiosamente essa mesma cliente, deputada municipal, fazia compras com o seu jovem filho e da pilha de livros que escolhera também lá iam três títulos de minha autoria, o que, naturalmente, me deixou satisfeito como autor.

Se por um lado fico triste com o encerramento da mais antiga livraria da minha terra, mais uma vez reconheço que para os meus conterrâneos a solidariedade não é palavra vã e embora possamos discordar disto e daquilo, quando é necessário somos capazes de atitudes da mais genuína solidariedade e disso mesmo é prova a afluência que se está a verificar à Culsete a mais antiga livraria setubalense com encerramento anunciado.

Rui Canas Gaspar
2016-setembro-29

www.livrosdorui.blogspot.com

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