A padaria setubalense que
virou espaço artístico
Provavelmente
algumas pessoas, vindas das bandas de Troino, atravessariam a pequena ponte entre as duas
margens da Ribeira do Livramento, ali bem perto da Capela do Carmo, para
poderem entrar na Rua dos Sapateiros.
Elas
dirigiam-se à Padaria Carmona para adquirir o saboroso pão que ali se
fabricava, bem perto do Largo do Sapal, tal como o faziam as pessoas
importantes que residiam nesta zona central de Setúbal.
Passados
alguns anos a padaria foi vendida e os novos donos decidiram que aquele era o
espaço adequado para fazer um bom café, um restaurante, uma espécie de clube
para a elite setubalense onde se pudesse fumar, ler o jornal, discutir e até
comer no Império, como assim foi então batizado.
O
novo proprietário encetou os necessárias trabalhos de adaptação tendo chamado
para decorar o espaço o talentoso António Casimiro da Silva, que levou tempos e
tempos a acabar a obra porque para além dos seus afazeres profissionais era um
destacado militante anarquista.
Mas,
o facto é que o espaço ficou pronto e bonito e a clientela inicialmente não
faltou àquele novo estabelecimento que, embora sem casa de banho, se
apresentava dotado de lavatório com toalha, imagine-se o luxo!...
Mas,
como não há amor que sempre dure, certo dia também as dívidas do proprietário à
banca levaram a que o imóvel fosse parar ao Montepio Geral que o acabaria por
vender em hasta pública.
E
foi alguém mais endinheirado da capital que acabaria por adquirir o bonito e
bem localizado edifício, arrendando-o posteriormente ao Clube dos Amadores de
Pesca de Setúbal, que ali tiveram a sua sede e centro de convívio por cerca de
meio século, até que dia chegou e dali partiram os últimos pescadores.
As
instalações estiveram então fechadas durante uns cinco anos até serem
adquiridas por Lurdes Pólvora da Cruz que tratou de recuperar aquele lindo
espaço, tentando combater o salitre, a degradação das paredes, melhorando os
pavimentos e dando nova vida às obras de arte produzidas por António Casimiro Silva.
Presentemente
é ali bem perto da Praça de Bocage, na Rua de Augusto Cardoso que
podemos apreciar este lindo exemplar arquitetónico, bem como as belas telas
produzidas por esta artista que deu vida nova a este antigo espaço setubalense tão
recheado de história e de estórias.
Rui
Canas Gaspar
2017-maio-28
www.troineiro.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário