Um quase desconhecido
artista setubalense
Quem
passa pelo Bairro Salgado, outrora o mais seleto da cidade de Setúbal, local de
residência da antiga burguesia sadina, não deixará de reparar naquelas
construções com aspeto cuidado, onde não faltam apontamentos decorativos dos
mais diversificados estilos, pontuando sobretudo a arte nova.
Porém,
ao olhar com alguma atenção para aqueles edifícios verificamos que algumas destas
elegantes moradias, maioritariamente construídas no final do século XIX
princípio do XX, ostentam pormenores curiosos como aquela localizada na Rua
Garcia Peres, nº 32, que faz esquina com a Rua Gama Braga, cujos topos dos
alçados estão decorados com bonitos baixos-relevos designados pelo artista como
“fantasia”.
Curiosamente,
noutro ponto da cidade, na Rua Augusto Cardoso, antiga Rua dos Sapateiros,
vamos encontrar outro belo edifício, bem conhecido dos setubalenses por ali ter
funcionado durante muitos anos o Clube dos Amadores de Pesca de Setúbal e
presentemente ser o local onde está instalada a galeria e atelier de arte de Lurdes
Pólvora da Cruz.
Também
neste imóvel encontramos vários trabalhos em talha que decoram interior e exteriormente
aquele espaço e que lhe dão uma beleza simples como só os verdadeiros artistas
sabem proporcionar aos comuns mortais.
Ambos
os imóveis têm em comum o facto de terem tido a intervenção artística do mesmo
homem, um pescador, que na primeira metade do século XX viria a enveredar pela
arte de marceneiro entalhador e que ficaria bem conhecido na sua cidade natal
como um destacado militante anarquista.
António
Casimiro da Silva, artista de grande mérito para além da sua atividade
profissional foi também secretário da poderosa União de Sindicatos Operários de
Setúbal.
A
sua dinâmica ação revolucionária levou-o à prisão quando ousou opor-se à
participação de Portugal na Grande Guerra e voltou de novo ao cárcere quando se
envolveu nas lutas contra a governação de Sidónio Pais.
Este
artista e combatente setubalense não deixaria descendência, embora a sua
companheira Laura de Sousa lhe tivesse dado um filho, Reclus Sousa da Silva, o
facto é que o rapaz viria a falecer ainda muito jovem.
Mas
se dele não ficou descendência, para a posteridade ficaram as suas obras de
arte que esperemos sejam preservadas ao longo de muitos e muitos anos tal como
a sua memória de artista e combatente.
Rui
Canas Gaspar
2017-maio-27
www.troineiro.blogspot.com
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