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sábado, 27 de maio de 2017

Um quase desconhecido artista setubalense

Quem passa pelo Bairro Salgado, outrora o mais seleto da cidade de Setúbal, local de residência da antiga burguesia sadina, não deixará de reparar naquelas construções com aspeto cuidado, onde não faltam apontamentos decorativos dos mais diversificados estilos, pontuando sobretudo a arte nova.

Porém, ao olhar com alguma atenção para aqueles edifícios verificamos que algumas destas elegantes moradias, maioritariamente construídas no final do século XIX princípio do XX, ostentam pormenores curiosos como aquela localizada na Rua Garcia Peres, nº 32, que faz esquina com a Rua Gama Braga, cujos topos dos alçados estão decorados com bonitos baixos-relevos designados pelo artista como “fantasia”.

Curiosamente, noutro ponto da cidade, na Rua Augusto Cardoso, antiga Rua dos Sapateiros, vamos encontrar outro belo edifício, bem conhecido dos setubalenses por ali ter funcionado durante muitos anos o Clube dos Amadores de Pesca de Setúbal e presentemente ser o local onde está instalada a galeria e atelier de arte de Lurdes Pólvora da Cruz.

Também neste imóvel encontramos vários trabalhos em talha que decoram interior e exteriormente aquele espaço e que lhe dão uma beleza simples como só os verdadeiros artistas sabem proporcionar aos comuns mortais.

Ambos os imóveis têm em comum o facto de terem tido a intervenção artística do mesmo homem, um pescador, que na primeira metade do século XX viria a enveredar pela arte de marceneiro entalhador e que ficaria bem conhecido na sua cidade natal como um destacado militante anarquista.

António Casimiro da Silva, artista de grande mérito para além da sua atividade profissional foi também secretário da poderosa União de Sindicatos Operários de Setúbal.

A sua dinâmica ação revolucionária levou-o à prisão quando ousou opor-se à participação de Portugal na Grande Guerra e voltou de novo ao cárcere quando se envolveu nas lutas contra a governação de Sidónio Pais.

Este artista e combatente setubalense não deixaria descendência, embora a sua companheira Laura de Sousa lhe tivesse dado um filho, Reclus Sousa da Silva, o facto é que o rapaz viria a falecer ainda muito jovem.

Mas se dele não ficou descendência, para a posteridade ficaram as suas obras de arte que esperemos sejam preservadas ao longo de muitos e muitos anos tal como a sua memória de artista e combatente.

Rui Canas Gaspar
2017-maio-27

www.troineiro.blogspot.com

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