A Novela Portuguesa pelo
chão de uma rua setubalense

As
duas crianças que estavam comigo ficaram admiradas com o que viam mas tive
então oportunidade de lhes explicar que aquela folha fazia parte de uma pequena
revista com quase cem anos e certamente fora lida pelos pais dos seus avós.
Aqui
em Setúbal, no nosso velhinho Bairro de Troino algumas senhoras alugavam as
revistas, porque o dinheiro para as comprar era escasso e liam-nas à noite, à
luz dos candeeiros a petróleo. Faziam-no muitas vezes não só para elas mas
também para os outros que se juntavam à sua volta e não sabiam ler porque não
tinham tido tempo para ir à escola.
Era
o tempo em que não havia televisão e as telefonias eram um bem raro e mesmo
estas singelas revistas eram quase um luxo, porém muito procuradas.
Anos
mais tarde um setubalense de sucesso, começaria a ganhar dinheiro transportando
muitas delas e alugando-as por toda a cidade, fazia-se transportar numa mota,
por isso ficou conhecido pela alcunha de Zé da Mota, de seu nome José Eduardo
Martins, homem educado e empreendedor com quem tive oportunidade de privar.

Não
tenho respostas para estas questões, mas a velha folha de papel fez-me
retroceder àqueles tempos de fome e de miséria quando em Setúbal o dinheiro não
chegava para comprar uma simples revista.
Rui
Canas Gaspar
2017-junho-11
www.troineiro.blogspot.com
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