Coisas importantes para as
crianças de Troino
Em
meados do passado século XX eram muitas as mães de Troino que naquela manhã,
antes dos seus filhos irem fazer o importante exame da 3ª ou da 4ª classe lhes
davam a beber uma infusão milagrosa, o “chá de flor de laranjeira” para acalmar
os nervos, segundo diziam.
Antes,
as crianças eram bem lavadas, dentro da grande bacia colocada na cozinha, onde
se despejava uma cafeteira de água quente para temperar e não ficar tão fria a
água do banho. Seguidamente vestiam as suas melhores roupas e eram penteadas
não esquecendo de colocar um pouco de brilhantina ou fixador para manter o
cabelo penteado por mais tempo.
O
menino tratava então de segurar na pasta de cartão atada com três fitinhas
dentro da qual levava uma folha de papel de 35 linhas e lá ia ele prestar
provas do que tinha aprendido, com ou sem o recurso a algumas reguadas quando
estivesse desatento àquilo que se ensinava.
Estudei
na Escola da Casa dos Pescadores onde aprendi as primeiras letras e os meus
primeiros exames foram feitos na Escola Conde Ferreira, onde outros professores
que não a D. Lucinda, trataram de estar atentos a tudo o que os pequenos
estudantes faziam, ou deixavam de fazer.
Era
um marco importante na vida das crianças de Troino do meu tempo estes exames,
tal como o era a comunhão solene. Nessas alturas eramos vestidinhos a rigor e
depois de feita a comunhão dirigiamo-nos ao retratista para gravar, em cenário apropriado, tão
importante momento. Sim, porque a grande maioria das pessoas não tinham Kodak para registar estas efemérides.
Nem
tinham a máquina fotográfica como também não tinham dinheiro. A minha
habilidosa e talentosa mãe, que também aprendeu a técnica de costura na Casa
dos Pescadores, tratou de fazer a fatiota e investiu alguns escudos nas fotos do
filho para que ficassem para a posteridade.
Depois
de feita a comunhão na Igreja da Anunciada e de ser retratado lá fui eu
mostrar-me aos amigos, familiares e vizinhos, que generosamente tratavam de gratificar
o modelo e de se congratular com o acontecimento marcante, não só para a
família como para toda a vizinhança, uma outra família mais alargada…
Desta
forma o investimento no fotógrafo era recuperado e lá ficávamos com a foto para
a posteridade para ilustrar aquilo que agora partilho convosco, recordando um
pouco sobre as coisas de Setúbal.
Rui
Canas Gaspar
2014-março-15
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