Gato escondido com o rabo
de fora
Após
encontrar um antigo documento pertencente a minha falecida mãe, dei comigo a
pensar nas contradições dos políticos e
governantes que fazem de nós governados pouco mais que meros joguetes das suas
vontades.
Eu,
tal como muitos milhares de portugueses doamos OBRIGATÓRIAMENTE mais de três
anos das nossas jovens vidas na “defesa” da Pátria, preparando-me aqui durante
12 meses e depois tendo sido enviado para a Guiné, onde durante mais 27 meses
servi o meu país na tal “defesa” de uma das nossas “províncias” ultramarinas.
Pouco
tempo depois de eu ter embarcado para a Guiné, meus pais venderam todos os seus
parcos haveres e deixaram a província da Estremadura, mais concretamente a Setúbal
que os viu nascer, crescer, casar e ter os seus filhos, para rumar a outra
província, a de Angola, indo radicar-se noutra cidade portuguesa, a de Luanda.
Se
aqui ele era pescador, lá também o continuou a ser, a diferença residia no
facto de aqui o peixe escassear e não se ganhar para as despesas e lá o peixe
abundar e ganhar o suficiente para fazer uma vida desafogada.
Com
o revolução de 25 de Abril e a eminente independência daquele território os
movimentos independentistas digladiavam-se entre eles, o Exército Português
deixou de ter “força”, o banditismo alastrou em Luanda e o meu jovem irmão foi
atacado, salvando-se porque na altura era um medalhado atleta do Benfica de
Luanda e conseguiu ser suficientemente rápido para fugir aos assaltantes.
De
imediato os meus pais tomaram a decisão de deixar aquela “província”
ultramarina e rumar de novo a Setúbal e, tal como foram daqui para lá, assim vieram de lá para aqui. Se foram pobres, pobres
vieram. A riqueza que trouxeram consigo foi a de uma maior experiencia de vida.
Mas
o que me levou a pensar neste assunto, foi o tal documento que eu falei no
princípio do texto, que mais não é do que um Certificado de Residência passado
pela Administração Local a todos os portugueses que fossem trabalhar e residir para aquela “província”
tal como se faz a qualquer cidadão emigrante.
Afinal
aquilo era ou não uma província? Se não era necessário Certificado de Residência
se eles se mudassem da Estremadura para o Algarve porque carga de água é que o
deveria ser quando se mudaram para a “província” de Angola?
De
facto, a arte da política que deveria ser uma nobre arte tem uns agentes um
bocado esquisitos, fazem leis e tentam impingir ao povo os seus interesses, no
entanto regra geral não são assim tão inteligentes como se julgam, porque regra
geral são como o gato escondido com o rabo de fora…
Rui Canas Gaspar
2014-março-19
Era uma província sim senhor. Mas, além-mar e por conseguinte, o Certificado de Residência era uma maneira de controlar quem estava nessa mesma província.
ResponderEliminarCordialmente,
Nuno Ramos.