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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Como recordo tão bem aquelas festas populares de São Pedro no Montijo

As luzes multicolores alegravam ainda mais os vistosos enfeites com que o Montijo se apresentava engalanado. Uma forma de honrar festivamente São Pedro, o seu patrono.

Era difícil naquela noite de 1970 transitar por aquelas ruas repletas de pessoas denotando alegria e boa disposição e o nosso grupo de jovens, rapazes e moças, idos de Setúbal ajudava ao bom ambiente com a alegria própria das nossas verdes duas dezenas de Primaveras.

Estava já com quase um ano de serviço militar obrigatório cumprido e prestava serviço no Batalhão de Reconhecimento de Transmissões, aquartelado na Trafaria, encontrando-me naquele momento a usufruir de um período de folga.

Naquele dia festivo tinha recebido uma nota do aquartelamento para me apresentar no mesmo e, porque a minha especialidade militar fosse a primeira do seu tipo pensei que iria ser transferido para o Quartel-General da Região Militar de Lisboa, dado que os meus camaradas de curso já tinham sido mobilizados uns para Angola e outros para Moçambique.

No Montijo a festa estava animada e nós também, quando no meio da multidão encontro o Gomes, um camarada que por coincidência se encontrava naquela altura de serviço na secretaria do BRT. Logo tratei de lhe perguntar o que é me queriam, ou melhor, para onde me iriam transferir.

O Gomes, um rapaz alto e forte, com ar bonacheirão, tentou dar a volta à conversa, dizendo para me divertir e no dia seguinte logo trataria do assunto referente à notificação. Ora, a resposta dele cheirou-me a esturro e perante a minha insistência acabou por dizer que me encontrava mobilizado para o pior cenário da guerra colonial, a Guiné.

A festa continuou no Montijo o nosso grupo de jovens setubalenses continuou a divertir-se enquanto Oliveira Salazar o ditador que com mão de ferro governara Portugal sofria com as dores motivadas pela queda de uma cadeira.
Apresentei-me na minha Unidade militar e foram-me concedidos mais uns dias de licença.

 No dia 26 de julho, o navio misto “Ana Mafalda”, transportaria não só mercadorias mas também duas centenas de jovens para a guerra na Guiné e, quando o barco estava prestes a partir veio a notícia de que Salazar teria falecido.

A esperança de que o barco não saísse esfumou-se quando o mesmo largou amarras do cais da Rocha do Conde de Óbidos, transportando-me para uma aventura que naquelas quentes e longínquas terras africanas se arrastaria por longos 27 meses.

Nunca mais pude esquecer os festões, balões e as luzes multicoloridas daquelas populares festas de São Pedro, no Montijo e ainda hoje recordo o rosto simpático do meu camarada Gomes, numa imagem que me ficou gravada na memória desde que me deu aquela pouco agradável notícia, já lá vão 45 anos.

Rui Canas Gaspar



2015-junho-25

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