Como recordo tão bem
aquelas festas populares de São Pedro no Montijo
As
luzes multicolores alegravam ainda mais os vistosos enfeites com que o Montijo se
apresentava engalanado. Uma forma de honrar festivamente São Pedro, o seu
patrono.
Era
difícil naquela noite de 1970 transitar por aquelas ruas repletas de pessoas
denotando alegria e boa disposição e o nosso grupo de jovens, rapazes e moças,
idos de Setúbal ajudava ao bom ambiente com a alegria própria das nossas verdes
duas dezenas de Primaveras.
Estava
já com quase um ano de serviço militar obrigatório cumprido e prestava serviço
no Batalhão de Reconhecimento de Transmissões, aquartelado na Trafaria,
encontrando-me naquele momento a usufruir de um período de folga.
Naquele
dia festivo tinha recebido uma nota do aquartelamento para me apresentar no
mesmo e, porque a minha especialidade militar fosse a primeira do seu tipo
pensei que iria ser transferido para o Quartel-General da Região Militar de
Lisboa, dado que os meus camaradas de curso já tinham sido mobilizados uns para
Angola e outros para Moçambique.
No
Montijo a festa estava animada e nós também, quando no meio da multidão
encontro o Gomes, um camarada que por coincidência se encontrava naquela altura
de serviço na secretaria do BRT. Logo tratei de lhe perguntar o que é me queriam,
ou melhor, para onde me iriam transferir.
O
Gomes, um rapaz alto e forte, com ar bonacheirão, tentou dar a volta à
conversa, dizendo para me divertir e no dia seguinte logo trataria do assunto
referente à notificação. Ora, a resposta dele cheirou-me a esturro e perante a
minha insistência acabou por dizer que me encontrava mobilizado para o pior
cenário da guerra colonial, a Guiné.
A
festa continuou no Montijo o nosso grupo de jovens setubalenses continuou a
divertir-se enquanto Oliveira Salazar o ditador que com mão de ferro governara
Portugal sofria com as dores motivadas pela queda de uma cadeira.
Apresentei-me
na minha Unidade militar e foram-me concedidos mais uns dias de licença.
No dia 26 de julho, o navio misto “Ana Mafalda”, transportaria não só mercadorias mas também duas centenas de jovens para a guerra na Guiné e, quando o barco estava prestes a partir veio a notícia de que Salazar teria falecido.
A esperança de que o barco não saísse esfumou-se quando o mesmo largou amarras do cais da Rocha do Conde de Óbidos, transportando-me para uma aventura que naquelas quentes e longínquas terras africanas se arrastaria por longos 27 meses.
Nunca mais pude esquecer os festões, balões e as luzes multicoloridas daquelas populares festas de São Pedro, no Montijo e ainda hoje recordo o rosto simpático do meu camarada Gomes, numa imagem que me ficou gravada na memória desde que me deu aquela pouco agradável notícia, já lá vão 45 anos.
Rui Canas Gaspar
2015-junho-25
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